sábado, outubro 23, 2010

íntimo

descolo meu ouvido do teu peito

conheço de cor o ritmo

de coração que esquece

de bater a segunda vez

culpa do hábito, do encaixe habitual

e, pra desfazer um clichê,

desloco o afeto ao sul

aos sons cavernosos, molhados

a mais incrível caixa de música

a barriguinha querida de carlos

líquidos fluindo, engrenagens rodando

sem descanso nem ordem


nos seus bastidores


uma música infinita

o vibrar de uma corda viva


(sim)

eu gosto tanto

de te ouvir funcionar

sexta-feira, outubro 22, 2010

para ninguém

Esse pedaço do horizonte
que insiste sempre
no meu olho esquerdo
- entre os prédios,
é seu. E seu só
quando eu penso no nada
que existe
e no seu desprendimento
de vírgula errante
e a falta que faz
mesmo quando está comigo
é ser só
- desatar o nós
da ponta dos nossos dedos.

quinta-feira, outubro 21, 2010

essa pena irremediável de você,
de mim,
de todos que insistem em continuar amando,
da verdade e do erro em nossas crenças,
do absurdo simples do amor
e do absurdo complicado do amor criado pelas pessoas.

quarta-feira, outubro 20, 2010

Dentro de todas as nossas agradáveis surpresas
as mais assustadoras coincidências
são docemente assustadoras, admitirei
porque elas nos deixam ainda mais próximos
porque elas nos dizem em alto e bom som
que devemos atravessar uma vida juntos

E eu não me contento com isso
queria mesmo é atravessar umas quinze vidas
ou atravessar a maior avenida da América do Sul
carregando-te nos meus braços
porque esta cena é o que nossa história exige
se não fomos para ser felizes
então seremos apenas amontoados de papéis
que ostentam algumas palavras doces
carregadíssimos de promessas

Só de cogitar você já é uma inspiração
você sabe disso porque eu não me cansarei
de passar os bilhetinhos mais lindos
por debaixo da sua porta
colá-los no seu espelho
e costurá-los no seu cérebro
porque, assim, você não me esquece nem por um minuto
a ponto de querer atravessar planetas ao meu lado

(Luiz Guilherme Amaral)

terça-feira, outubro 19, 2010

Dejá-vu

O rio do esquecimento é caudaloso.
Mas vão. E perigoso.

Pois não adianta olvidar.
Mergulhar e afogar as lembranças.
Uma hora elas voltam e fazem a lambança.

E nós, que nos acostumamos a viajar
em tranquilas águas azul-turquesa
somos pegos de surpresa.

E nos tornamos de alegres navegadores
em náufragos num ilha de horrores.

segunda-feira, outubro 18, 2010

Vazio

E esse deserto?
E esse ninguém-por-perto?
E esse nada-nada-nada-a-fazer?

E essa saudade impossível de você?

domingo, outubro 17, 2010

Lamento do ébrio

embriagar
a alma
com doses de
ilusão

ansiar
de esperança,

vomitar


as areias do tempo
enterram
as pétalas de flor

de um amor
que nem nasceu

quarta-feira, outubro 13, 2010

Fica aquela pequena luz de saudade
a cada instante, em cada gesto
Por ora, tudo tem um quê de efêmero
quero meu hálito de lágrima
ainda que elas insistam em não cair

segunda-feira, outubro 11, 2010

Paz

Sabe aquela flor
que coloquei em meus cabelos?
Vi em seus olhos
teu carinho
desenrolando-se em novelos.

E notei que ainda podemos.
Apesar do que se passou.

E notei que algo ainda restou.

sabe aquela flor
que coloquei em meu vestido?
Senti teu desejo
percorrer-me
cada canto escondido.

E eu soube que dançaremos.
Apesar de tudo isso.

E sei que deitaremos
nossos corpos
em nossos sorrisos.

sábado, outubro 09, 2010

taque.

Saber amalgamar

Desenhar com os ponteiros dos relógios os mesmos ângulos

Tiquetaquear fora de ordem

Não me importa envelhecer um pouquinho

Ao emaranhar os dedos por entre as fibras dos dias

Viver como se deve

Brasas acesas amornando lentamente

O relógio deixando pingar as horas

Saber estar aqui, respirar pelo nariz, pela boca, pelo peito

Deixar entreabertas as portas quadradas

E esbanjar o tempo.

sexta-feira, outubro 08, 2010

como perder poema

como perder poema
se ainda
na língua
apontando

e de repente
precisar
o caminho inverso da
palavra
dita e ou escrita

voltar para o
dentro
permanecer

é perder?

quinta-feira, outubro 07, 2010


É manhã na penumbra vermelha do mundo.

Alguma coisa acontece, alguém se aproxima sem avisar.

Meu coração bate mais rápido, eu sinto medo pela primeira vez.

Ei, vocês, sou eu!

Eu nunca quis te machucar, eu só queria existir.

Meus olhos não chegaram a ver nada.

Nem a coisa mais simples de todas as coisas que existem.

Meu sangue corre doidamente, minha mente procura entender.

Eu nunca quis..

Adeus.


quarta-feira, outubro 06, 2010

Eu ainda não tive tempo
para sentar e chorar de saudade
e nem quero isso
porque não vou ser lamento
na terra do carnaval

Eu ando rodeado pelas boas lembranças
com a chave da velha casa ainda no bolso
ouvindo as músicas das minhas tardes
naquele tempo em que eu não sabia
se já era algo ou se ainda não era nada

Não vou ficar secando lágrimas por aí
vou encarar a vida a que me submeti
Passa rápido, tudo se ajeita, eu sei
ainda não sou quem eu preciso ser

Se minhas malas ainda estão à mão
talvez possa parecer que já quero voltar
ainda não é a hora, ainda é muito cedo
ainda não sou quem eu preciso ser

(Luiz Guilherme Amaral)

segunda-feira, outubro 04, 2010

Pé de página

Não sei mais se sou mulher
ou se sou macho.
Não sei, não me acho.
Meus hormônios, completamente ensandecidos.
E a barra da minha calça
se enrosca à barra do meu vestido.

Há algo aqui dentro pululando.
E preciso corrigir-me, sem engano:
Às segundas sou Maria Ana,
mas o resto do tempo
sou eu, o Moacir Caetano.

Mas acho que não há problema:
todos nós temos algo de homem
e algo de fêmea.

Então continuo essa brincadeira
com eira e com beira:
Pra viver em paz com meu lado mulher
deixo Maria Ana aparecer
pra meter sua colher!

domingo, outubro 03, 2010

PROFANO

Na ladeira que dá espaço
Ao raso sentido
Das entranhas.
Nesse mote de verso,
Que com a noite,
Sabedor de tudo sangra.
Nessa terra sagrada
De todos os santos,
Santas e milagres.

Entre as suas pernas
Profanamente peco...


Palavra por palavra.

sábado, outubro 02, 2010

protese

esse é um poema-prótese
um poema-postiço
o poma de hoje não existe
o poema de hoje não foi escrito
foi vivido

sexta-feira, outubro 01, 2010

súplicas

me rapte para tua cidade ou minha casa
quilômetros em comum, por um instante

des-cubra os cabelos da face
por onde e porquê me escondo

um sabonete que desvenda, mas não limpa
as sardas, seja

o título para meus poemas
um clichê, porque eu acho graça em

qualquer coisa, qualquer outra coisa
mas não nesse vazio insistindo entre os seios.

quarta-feira, setembro 29, 2010

Essa vida que dá tantas voltas
e nos faz entender que nem tudo está sacramentado
um dia você se ajusta a uma realidade
e no outro dia vem uma avalanche de possibilidades

É bom quando há essas guinadas
recuperamos o fôlego, fazemos planos
vemos que ainda há uma luz de novos sorrisos
dando-nos forças para tirar o pé do lodo

Está na hora de fazer as malas, embarcar
Quero tudo o que a nova vida vai me oferecer
Quero estar na saudade dos amigos que ficam
E nos planos dos que forem aonde estarei

Não quero telefonemas chorosos
Nem memórias melancólicas
Quero apenas abrir a porta de cada novo dia
E dizer que foi a melhor coisa que fiz.

(Dia 02/10, vou-me embora para Salvador, Bahia. Vida nova.)

(Luiz Guilherme Amaral)

terça-feira, setembro 28, 2010

penitência

Vim te pedir perdão
Por todo esse amor
Que trago
Engasgado, afobado...
Vim te pedir perdão
Pelas preces que faço,
Pela pressa de ser tua!
Vim te pedir perdão
Por todos os pecados
(Omitidos)
Quando me exponho
em sorrisos
E te ofereço meu corpo
... desavergonhado

segunda-feira, setembro 27, 2010

Chuva

Saudade é chuva.
Sabe, a chuva,
quando se está na rua?

Unse seguem andando, devagar,
sem ao menos se preocupar.

Outros correm que nem loucos
sem nem mesmo olhar pra trás
e acabam se molhando ainda mais.

Uns olham pro céu
e gritam um monte de palavrão
e há os que se escondem em qualquer desvão.

E tem aqueles que ficam
sorrindo, gritando e pulando
que nem loucos em bando.
Aproveitando o que há na chuva de melhor.
E sabem-se um ao outro de cor.

sábado, setembro 25, 2010

note to self

Não gosto de escrever de amor,
podem descobrir que eu sou cafona
(como um coração bordado)
E eu gosto de me postar blasé
Mas quanto em quando
É preciso anotar um bilhete
Me desculpem essas linhas tortas
A felicidade é a pior das canetas.

sexta-feira, setembro 24, 2010

não quero precisar
poesia.

não posso.

mas quando a loucura
é o próximo passo
e sequer há chuva
para dançarmos
rumba
pelo asfalto

uma monotonia essa vida

os teus longos braços
-palavras
me alcançam
as costas
tocando coçando insistindo

então qualquer negação
de poesia, nesse instante

impossibilidade.

quinta-feira, setembro 23, 2010



Eu escorrego entre pedras e arbustos em mais uma caminhada na floresta.

Lá em cima a tarde se derrete, é o fim de mais um dia.

Não me canso de repetir baixinho todos os seus nomes.

Não sei por onde você anda, mas ainda sou o mesmo e estou sob o seu encanto.

Eu não fico sonhando com imagens antigas, não canto velhos blues.

Não há flecha alguma trespassando meu coração.

É apenas esta noção de alguma coisa boa

que poderia estar acontecendo, que ainda vai acontecer.



quarta-feira, setembro 22, 2010

Cubra os pés e ligue a televisão
porque não vai passar nada de interessante hoje
é só para manter a luz azul no seu rosto

As estações não mudam, é sempre calor
mas nossas atitudes são sempre diferentes dos outros
somos bravos guerreiros jovens

Somos som de avião às quatro da tarde
fazendo sombra na cortina ao passar na frente do sol

Somos nossas saidinhas rápidas para comprar doces
somos as rapidinhas dos que saem à noite

Ainda somos jovens


(Luiz Guilherme Amaral)



terça-feira, setembro 21, 2010

Poesia do dia

É hora de ir pra escola, menina.
Não é hora de poesia!

E a menina ia...
cumprimentando formiguinhas
colhendo flores nos sorrisos

É hora de trabalhar, menina.
Não há tempo pra poesia!

E a menina trabalhava...
ouvindo lisonjas nas ordens
vendo cores nos desmandos

É hora de arrumar a casa, menina.
Agora, nada de poesia!

E a menina arrumava...
cantando ao som da vassoura
valsando com a poeira no ar

É hora de cuidar das crianças, menina.
Pra depois, a poesia!

E a menina cuidava...
fazendo monstros com as papinhas
sendo princesas nas histórias

E nunca chegava a hora
da poesia da menina
segundo o que lhe diziam

Até que a menina
adormeceu no final do dia
toda poesia

segunda-feira, setembro 20, 2010

Serelepe

Atrás das pedras
ela se escondia, nua...

Olhando sorridente pros carros
do outro lado da rua!

domingo, setembro 19, 2010

coração na mão

tá na nossa mão
satis
fazer
o querer
correr atrás
do desejo

seguir
no passo
do pulsar
do coração

sábado, setembro 18, 2010

Something found

A inocência é inútil
Mas cai bem
Como um par de brincos de pássaros
Ou um bordado em um pano de chão
A inocência é inútil
Não caberia em um canivete
Muito menos em um emprego de construção civil
A inocência é inútil
Se despedaça de repente ao primeiro encontrão
Nos faz tropeçar nos próprios pés
A inocência é inútil

Mas é tão bonitinha.

sexta-feira, setembro 17, 2010

second mirror

antes que voem
estilhaços
olhar de relance
o reflexo
no espelho:
espasmo.

(não quero ser
os olhos
de Lubiana
os cabelos as pintas
o sorriso triste
de Lubiana.)

quinta-feira, setembro 16, 2010

Vai, pára um pouco de sonhar e diz alguma coisa bonita a ela, é preciso fazer alguma coisa, olha quanta inquietação, as mãos se agitando, o rosto dramático, tanta angústia, ela e essa angústia pelo que não faz sentido e não pode, só você sabe o quanto ela deseja errado, chora errado, quer aquilo que não tinha nada o que existir nesse cenário de olhos brilhantes e a boca que espera que você a convença que tudo está bem, que vai dar certo, este certo que ela quer e você não, que você sente que é a coisa mais errada de todas que poderiam ser

e então você respira fundo e vai e cria um outro plano onde nada disso é importante, onde ela é a rainha com tudo o que tem de fascinante e que é tão ela e os planos que vão sim dar certo e vai ser o sucesso, e ainda vamos olhar lá no futuro e rir desse agora pequenino que era só dúvida e temor

e por quinze minutos você a traz para o sonho que é seu e agora ainda mais bonito porque compartilhado na troca de sorrisos ah tão perfeita, e seu sorriso ainda paira no ar um instante a mais, o momento ridículo em que você ainda está ali e ela novamente dentro da realidade, as coisas a fazer, quem sabe mais uma vez reconquistar as simpatias dessa coisa velha que ressurge e se esparrama pesada sobre os últimos fiapos do sorriso

e você já não quer, já não sabe dizer mais nada, na janela está escuro e que bom que o dia é feio, que suas respostas agora são feias, que você é legal mas de repente fica assim muito estranho, não sei o que acontece mas ok, prá que arrumar ainda mais confusão, né ?

Tchau, a gente se fala.

quarta-feira, setembro 15, 2010

De
ci
di
da
men
te

Decidi, da mente,
não guardar nada

(Luiz Guilherme Amaral)


terça-feira, setembro 14, 2010

grão finale




planejou
o crime perfeito
um quarto fechado
na meianoite
um tiro seco
no centro do peito

sem testamento
herdeiros
testemunhas
nada deixou
que não tivesse defeito

sumir
sem ser visto
foi seu maior
feito

segunda-feira, setembro 13, 2010

Trato

Então fica assim:
eu não te digo nada
e você nem olha pra mim.

Então fica assim:
a gente finge que isso
não é o fim.

Então fica assim:
nem eu telefono
nem você me liga.

Agora é assim:
sem sonhos, sem sono.
Só esse frio na barriga!

domingo, setembro 12, 2010

hipérbole não definida


E essa vontade de esvair-me em cada palavra dita. O pesadelo diário em perceber que me tornei um amontoado de dias, horas, segundos. Sempre manhãs e noites entre os meus pensamentos e minhas ausências de mim mesma. Não estou nos livros que leio, nem nas roupas que visto. Existir tornou-se um fardo. Percebo que acabo em cada anoitecer, acordar é mecânico. É como se meu corpo estivesse em um loop esquecido. Desordenado, descompasso… uma hipérbole não definida. Pra mim, deixei de existir.
E por pior que tudo possa parecer, resolvi amá-lo. Sim, eu o amo. Com todas as possibilidades inviáveis que cabem entre cada letra: a, m, o,  r.
Eu o amo.

sábado, setembro 11, 2010

desconfio de gente que não lê ficção
se um livro é janela, bato com o nariz nos vidros
das auto-ajudas, didatismos e manuais
esse entulhamento de letras, desertos áridos
que não prometem a umidade de um sorriso

nem de uma lárima

desconfio da falta de histórias,
de autores que não se preocupam em nos levar pelas mãos
que não se interessam em ver nossos olhos brilhando à beira do fogo
não, eu não quero saber quantas moedas você tem nos bolsos
eu só quero saber se você sabe tirar
coelhos
da cachola.

quinta-feira, setembro 09, 2010



Lembranças são estilhaços de tempo

tremulando imagens que quase não quero ver.

Seu rosto invade as fronteiras de meus olhos

e desenha estranhas figuras na minha mente.

Quem criou a neblina criou o seu sorriso

e quem criou o arco-íris, criou você.

A memória, a neblina o arco-íris.

O cristal e a chuva.

Tudo isso nunca deixou de ser você.



quarta-feira, setembro 08, 2010

Eu estava à sua espera
posto que você me fazia muita falta
já não aguentava mais essa demora
já não aguentava mais meus olhos

tão secos

Mas é sempre do mesmo jeito que você surge
sem cerimônia, no entanto com toda força
para mostrar que sua ausência é mais que triste

é dolorida

Você voltou
e eu te amo por isso.

(Homenagem à chuva, que insistiu em se esconder mas voltou em boa hora)

(Luiz Guilherme Amaral)

terça-feira, setembro 07, 2010

oferta

Nesta noite,
vendo meu desejo
pelo preço de atacado
no varejo...
Para quem se arrisca,
há longos abraços
a prazo...
incontáveis beijos
à vista

segunda-feira, setembro 06, 2010

Marcas

O que são essas marcas em mim?

Tuas unhas sem cuidado?
Teus arrancos e solavancos?
Ou a lembrança do quanto
temos nos afastado?

E apenas nos restou o suor?
E agora o que há de melhor
são os momentos de tesão
onde podemos lustrar nossa brutalidade
com requintes de ilusão?

O que são essas marcas em mim?
Restos de uma noite que não termina
ou o anúncio impiedoso do fim?

domingo, setembro 05, 2010

O POETA

O Poeta ronda a madrugada
de peito aberto e rimas afiadas.

Onde passa, as mulheres ficam lindas,
os sonhos enternecem e as bocas sobressaltam desejosas,
Fazem fila e beijam-no na face

O Poeta deixa a luz do dia entrar
e segue adiante...
Em seu encalço, promessas de romance
e juras de amor.

sábado, setembro 04, 2010

Alegria é fácil
Você fica bem em cama, mesa e banho
Fica bem na ponta dos meus dedos
Nos côncavos das minhas mãos
Alegria é fácil
Tecido quente pra revestir as arestas do mundo
E machuca tão menos para quem bate os mindinhos por aí
Alegria é fácil
Eu acho incrível como tudo acontece sem trabalho
Eu acho incrível como é simples
Ser feliz pra caralho.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Acabou.
Finalmente a porta fechada.
Alívio amargo,
agulha na pele.
Distâncias que não paravam de crescer.
Silêncios que não sabiam ser quebrados.
As lembranças pouco a pouco se embaçavam.
A minha imagem perdida, longe dos teus olhos.
E nada mais tem o gosto que tinha
e as palavras já não fazem sentido
e não há o que dizer.
Acabou.

quarta-feira, setembro 01, 2010

Corinthians Paulista do meu coração
São cem anos de glória.

São poucas as palavras.
É infinita minha devoção.

terça-feira, agosto 31, 2010

Sala de Espera

1.

Juliana gosta de portas abertas.

Ela passa com seu andar apressado
e, com um gracioso movimento de mãos,
desliza o par de portas, solenes.
O sol inunda a sala pelos amplos desvãos.

Outras atendentes passam e
com olhar contrariado
percorrem os trilhos no sentido contrário.
O sol se esconde
e só resta o ar, condicionado, coitado.

Até que venha Juliana nos salvar novamente
e com seus cabelos longos e negros
faça o sol ressurgir de repente.


2.

A mocinha loira piscou o olho.
Não pra mim.
Mocinhas não me piscam mais o olho.
Já estou meio assim assim.

Somente um tique.
Um pouquinho estranho, mas gracioso.
Nada que muito signifique.

Ao celular, ela pisca o olho e sorri.
Provavelmente pra alguém
que ela queria que estivesse aqui.


3.

"Mara Lúcia", a atendente chama.

Levanta-se uma jovem senhora,
levando consigo suas múltiplas plásticas,
seus desejos e seus dramas.

Pode ter quarenta anos ou sessenta.
Nào se sabe, impossível.
Mas é difícil acreditar
que o antes fosse mais risível.


4.

Eu, bicho mais que estranho,
recolho-me ao meu caracol...
rezando por uma rápida espera
pra aproveitar o restinho do dia
e sua cota mínima de sol.

segunda-feira, agosto 30, 2010

Horizonte

Ele chegou
e deitou
seu peito nu sobre o meu peito.

Eu, sem jeito,
segurei-lhe as mãos
e dormimos nessa posição.

Ali o mundo se bastava
em um desejo doce
e uma paz inesperada.

sábado, agosto 28, 2010

precisamos falar sobre cláudia

nunca fui do tipo que fala,

a primeira a estender a mão

minha camisa tem o brasão do time dos covardes

mas ultimamente eu a tenho despido


devagarinho



à custa de bom exemplo

de paciência grande, de coragem infinita, de franqueza imensa

de quem sabe botar o coração na reta

fechar os olhos

e ir

sexta-feira, agosto 27, 2010

Para Czarina e Fejones

Nossas mãos seguram a jarra,
nós perdemos o ato
pelo álcool
em excesso.

Eu ainda direi seu nome errado
tentanto improvisar sem sabedoria
é arte viver.

E eu ainda trarei em mim
o desejo de gritar:
EscúchamePORRA!
Escuta o que meu coração na boca
não permite que eu diga.

Eles nos vêem, nos escutam
e fingem que não.
Fingem que somos só uma mesa vazia
e líquido qualquer que evapora sem dono.

Eu quero um cigarro louco
e fumaça nos ares
dançando com o que calo.

Quero cuspir na cara da vida
que tecemos poesia
de silêncio e de graça
no dia a dia.

*

Esse poema foi escrito em 06/02/2007, depois que conheci meus queridos Czá e Fejones. O poema não é bom, mas a noite foi.

quinta-feira, agosto 26, 2010


Quando passei em frente à tua casa, amanhecia.

O céu era vermelho sangue infinito.

Você não parecia estar lá.

Tuas janelas fechadas, cortinas mistérios.

Estive todo o dia caminhando sozinho.

No parque colhi uma flor vermelha.

Não sei muito de flores.

Haviam gotas de chuva em cada pétala.

À tarde descobri estar cansado de saber e ainda assim.

Voltei a passar pela tua casa, o céu sem cores.

Dessa vez até te vi, sombra de movimento num labirinto de luz.

Madrugada, sento eu e a folha branca de papel.

E uma pétala vermelha que não entende nada.


quarta-feira, agosto 25, 2010

Chamam-me gatuno:
pego um coração
levo ao templo de Netuno
e volto com um arpão.

E o carrego por aqui e acolá
até a próxima contravenção.

(Luiz Guilherme Amaral)


terça-feira, agosto 24, 2010

Mágica

Transformo desespero
em risco
(não em traço)

tiro o sentido do olho
tal qual cisco
tento errar o passo

mas tudo o que eu queria
era ter o dom da magia
dissolver o desespero
em folhas de papel almaço

segunda-feira, agosto 23, 2010

Triste

Lembra quando eu te disse?
Eu sou triste, muito triste.

E não há nada que se compare
ao barulho que meu coração faz
quando você segue e eu fico pra trás.

Ficam faltando pedaços inteiros
banhados com seu suor e seu cheiro
perdidos nos vãos vazios da minha imaginação.

e apesar dos meus lamentos
jogados um a um ao vento
você me diz que não, não.

Lembra quando eu te disse?
Eu sou triste, muito triste.

domingo, agosto 22, 2010

Etéreo

sonhos
ilusões
delírios
desejos

um pedaço d'alma
no papel

a poesia
está pronta
para
voar

e se perder



Pois damos início aos Domingos Profanos do B7C!!!

sábado, agosto 21, 2010

um antigo, lá do sabedoria
Eu quero ser o sonho de alguém.
Eu quero ser um animal
formidável e elástico.
Eu quero ser teu brinquedo recém tirado do plástico.

quinta-feira, agosto 19, 2010


Já que o vento é bom

Espalho cataventos

Pelo azul do céu

Esperando raiar o dia.

Quem Sabe não fugisses

dos meus caminhos

Se soubesses

Que o que declamo é poesia.



( Alexandre Beanes e eu,

colaboração de junho de 2004 )


quarta-feira, agosto 18, 2010

Quem disse que é preciso um recomeço?
Precisamos mesmo é continuar o que já está
E corrigir o que está errado

Recomeçar é renascer
E eu não tenho mais tempo de ser novamente

Precisamos corrigir, não refazer

Aguentaria as manhãs na terceira série novamente?
Suportaria esquecer o frio na barriga de um primeiro beijo?
(E se tê-lo novamente não for do mesmo jeito da primeira vez?)

Não renasço. Não recomeço. Eu corrijo.

Errar é um presente.

(Luiz Guilherme Amaral)



terça-feira, agosto 17, 2010



quando verseja
meu coração versejador
tomara que você veja
quer seja ou flor



segunda-feira, agosto 16, 2010

Saudade

A saudade é esse negócio engraçado.

Planta em nossos olhos outros olhos
e em nossas sinapses
outras bocas e mãos e cabelos
e sorrisos...
ah, os sorrisos!

E gruda em nossas narinas uns cheiros,
em nossas bocas uns sabores,
em nossa pele uns toques...

E mesmo uma mulher durona como eu
entende muito de saudades.
De olhares ao longe.
De instantes intermináveis.
Imaginando.
Relembrando.

A saudade é essa coisa engraçada.
Faz com que cada segundo
dure uma eternidade.
E faz com que o tempo não seja nada.

domingo, agosto 15, 2010

to(que)

Incendeia-te.
Sim! Em labaredas poéticas,
Nas mentiras, nos pensamentos vis.
Deleite-se nas possibilidades
E na falta delas, sejas teu.
To(que) fogo.
Faça um torque.
Erga-se!
E nunca esqueça:
Não queira o pouco.

sábado, agosto 14, 2010

gente ranzinza
transforma o colorido
em cinza

quinta-feira, agosto 12, 2010

Menos mau você não saber de mim agora.Tão confuso e imagine, tão

sozinho. Querendo voltar para casa. Acredite, eu te amo por ter pensado em

mim. Mas é inútil compreender, a multidão RUGE. E eu sei que ela prefere

estar lá também. Voando ao sabor da corrente, dizem que é irresistível. Eu

não consigo deixar de vê-la tão frágil, a minha prometida.

E fico aqui, porque é preciso que o tempo faça o que sabe fazer.


quarta-feira, agosto 11, 2010

Vou aos passos atraído pelo encantamento
Encosto a mão no véu cheio de estrelas
Quero fazer parte desse mundo de beleza
E enterrar de vez todo aquele meu lamento

É digna de salvar da torre do castelo
Lutar contra dragões, ter um final feliz
'O seu destino comigo é traçado', ela diz
Arrebento portas e paredes com meu martelo

E depois de horas tentando heróico resgate
Essa mulher, Senhor, é só disparate!
Teria valido a pena tanto sacrifício?

Mulher, vai-te embora; és uma biscate
Meu coração por outra agora já bate
Ora, porra! Enterre sua cabeça em seu próprio orifício!

(Luiz Guilherme Amaral)


terça-feira, agosto 10, 2010

suposições apoéticas

Inútil dizer as palavras certas
... bem conjugadas e sem intenção
enquanto aguardo
despretensiosamente
nas minhas linhas mais rentes
ler a marca da tua mão

Parece sem sentido
revirar o dicionário
e rabiscar vocábulos inibidos
que não descrevem o desejo
mais raro que para ti ainda separo
entre os substantivos que vejo
e os verbos que não declaro

segunda-feira, agosto 09, 2010

Frugal

E me alimento do teu pouco amor.

Me acostumo às poucas calorias.
Aos beijos sem açúcar.
Aos abraços diet.

Me contento com os minutos contados.
Com os sorrisos furtivos.
Com telefonemas entrecortados.

Uma vez por semana, banquete.
E no resto dos dias, saudade.

...me alimento do teu pouco amor.
Aos poucos, quase sem vontade.

domingo, agosto 08, 2010

pro lado

Escuto Jazz e penso em você.
É, eu penso em você.
Fica tudo desordenado,
em uma cadência absurdamente perfeita.
Calores coordenados…
Equaciono sentidos.Sorrisos...
Você me faz sorrir.
Então eu olho pro lado e não vejo ninguém.
São os meus olhos que te enxergam,
mas o meu querer não te alcança.

sábado, agosto 07, 2010

peterpanices

amoréisso
tenho 25 anos
toda vez que atravesso a rua
meu pai ainda procura
cegamente
a minha mão
feliz dia dos pais :)

sexta-feira, agosto 06, 2010

pergunto-me por quê vim
se seu tempo é o escapar

sapatos sempre à porta
aquela marca permanente

sobre o tapete sobre
mim sobre o

amor
esse eterno amanhecer.

quinta-feira, agosto 05, 2010

Nick Drake


Ele está em Tânger,
seus acordes permeiam as minhas tardes.
Ele é o cara de Tanworth-In-Arden
com dedos nevoentos de tristeza.
Seu olhar despeja folk pelo ar.
Mas será mesmo que é isso ?
Quem sabe uma lembrança,
um rosto ou voz nunca superado.
Pode ser a beleza de velhos fantasmas
me visitando em plena canção
e dominando a minha alma.

quarta-feira, agosto 04, 2010

Tinha os pincéis en garde
prontos para mostrar do que são feitos os olhos
Passa uma, passa duas
Shhhh... Shhhhhhhh...
Vai pintando devagar, com calma
Shhhh... Shhhhhhhh...
O som da crina artificial sobre o pano
traçando um caminho que já foi destino
hoje é só um desejo longínquo
Shhhhh... Shhhhhhh...

Puxando velhas e novas tendências
vai demarcando seu território aquarelado
mesclando tintas, misturando sentimentos
nem que fosse três da manhã pararia

Interromper a inspiração?
Menos dolorido estar numa fogueira da Inquisição!

Shhhh... Shhhhhhhh...
Para subitamente para medir as proporções
Com um olho fechado e a língua para fora

E volta
Shhhhh... Shhhhhhh...
Passando a crina artificial sobre o pano

Quem sabe, um dia, numa Bienal?

(Luiz Guilherme Amaral)

terça-feira, agosto 03, 2010

Momento

Essa noite
tudo pode acontecer
- e não é clichê...

Essa noite
tudo pode ser sugerido
pelo som dessa guitarra,
pelo gosto dessa farra,
pelo seu suave gemido,
por tudo que pousava escondido
no desenho dos nossos desejos,
no fundo de nossas fantasias...

Essa noite pode ser de maravilhas!

Essa noite
o álcool pode baixar nossas defesas
servindo-nos de sobremesa.
Nossos corpos podem chegar-se mais um pouco,
estreitando nossas distâncias
e colando-nos um ao outro.
Minhas mãos podem procurar sua cintura,
escorregando pela sua pele,
passeando pela alça da sua calcinha.
E teus olhos fechados podem sugerir
que toda essa alegria seja minha.
Meu olfato pode procurar os seus cabelos.
posso beijar a dobra da sua nuca
e eriçar todos os seus pelos.

Essa noite
você pode pressionar um pouco mais
seus quadris em meu abraço.
E eu, já perdendo pra todo o sempre
meu equilíbrio e minha paz,
te direi que
não me responsabilizo pelo que faço.

Essa noite
podemos nos amar como selvagens
e ainda assim fazermos com que tudo isso
seja lindo.
E só por essa noite
podemos nos esquecer do que existe
e amanhecermos sorrindo...

segunda-feira, agosto 02, 2010

Rondônia

Vivo numa terra
onde todos são reis.
Onde cada um
escreve suas próprias leis.
Onde só existe o mundo do eu
e fodam-se todos vocês.

Vivo numa terra
onde ainda se resolvem
quase todas as coisas à bala.
Onde todos querem viver a vida
mas não têm tempo pra amá-la.
Onde quem cala consente
e quem não mente se cala.

Vivo numa terra estranha
de humildade pouca e raiva tamanha.
Terra de homens-deserto
e mulheres sem poesia por perto.

Vivo numa terra
em que todos se julgam donos.
Estranhamente, uma terra de ninguém.
E é do abandono
que me alimento.
Sempre distante, sempre além.

domingo, agosto 01, 2010

verdade

Asseguro-te que não gostarás de mim.
Tenho formas dispersas, presas e inexatas.
E bem sei que procuras por deleites e curvas.
Desprendi-me de mim já faz tempo…
Não tentes. Não há aqui tuas respostas.
Fomos embora, eu e minhas mentiras.