terça-feira, novembro 30, 2010

Bagagem

Dor.
Um velho gravador.
Algumas coisas sem valor.
Fotos com ela e cartas de amor.

É...
me falta ódio e sobra fé...
podem dizer o que quiser,
mas meu caminho eu percorro a pé.

Então
não me fale de solidão.
Há tempos eu não piso o chão.
E aqui em cima só chuva e trovão.

...
Não havia nada a fazer
e foi só isso o que eu fiz.
Continuei a ser infeliz.

Dor.
Um velho gravador.
Uma foto sua já sem cor.
E essa maldita canção de amor!

segunda-feira, novembro 29, 2010

Vazio

Tem nada aqui dentro.
Nada.
E ainda é necessário escrever.

Tem nada nesse peito.
Vazio.
De doer.

Tem nada mais pra se dizer.
Nenhum carinho, nenhuma palavra
de festejo ou de lamento.

Não há nada além da imensidão do momento.

domingo, novembro 28, 2010

ENXURRADA

A poesia lambe cada poro da minha pele suada
E manda (não pede) que sinta na boca,
Bem lá no céu da boca, esse roçar de enxurrada.

sábado, novembro 27, 2010

genealógico

Que nenhuma lágrima sua

Tenha o meu nome

quarta-feira, novembro 24, 2010

Tenho escondido debaixo dos meus punhos
planos para nossas aventurinhas - simples
quando eu souber que você está nos ares
eu também vou pelos ares de felicidade
saberei que seremos poucos centímetros

Saberei que seremos um só pensamento:
apenas caminhar, beijar e admirar
entre as ladeiras e as escadarias - belas
ao passar os tambores pelas ruas estreitas
nós faremos parte de todas essas estrelas

Porque você támbém
é a minha estrela
a maior, única, noite e dia
é em você que eu me reconheço

(Luiz Guilherme Amaral)

terça-feira, novembro 23, 2010

Dia da Consciência

Pelo menos por um dia
ler as mentes dessa gente
com as mãos.

Entender o que pensam
das vagas das águas negras
universitárias diplomadas
subscrevendo com os dedos.
(Deviam usar os dedos médios!)

E da lei que vem impressa
nas caixinhas longa-vida
abundantes vertendo
até encher as barriguinhas.
(Lei te dá exclusão!)

E do princípio do politicamente correto
que nos impõe a hipocrisia eufêmica
dos dizeres ininteligíveis
sobre diferenças não aceitas.
(Dezenas de autóctones tiveram suas vidas
suprimidas por infantes de dezessete anos,
descendentes de alguém, que brincavam
com o produto da combustão de
materiais inflamáveis!)

Pelo menos por um dia
pensar os pensamentos
com as próprias mãos.

Porque enquanto tudo isso, os garotinhos
pilotam aviõezinhos de papel
no morro cartão-postal.
(Se não sabem ler,
como tiraram brevê?)

Porque enquanto tudo isso.

...

sexta-feira, novembro 19, 2010

cuando mi corazón falla

volta-se para aquele instante


o lado certo é
parar no que é ainda bonito como
meu descer do seu carro
.......que sempre esperei durante as manhãs, olhando pela janela
e decidir parar e te olhar
.......antes de atravessar a avenida:
..............................acenar.

quinta-feira, novembro 18, 2010

Eu ando gastando pedaços incríveis do meu tempo,

baldes de horas e minutos.

Atrasando projetos e horários, irritando um monte de gente muito séria.

É que tem acontecido de, por uns instantes, eu nem me lembrar mais

que pertenço a esse mundo de dias ruins e dias tristes, em que o que

mais importa é o trabalho, as metas e cronogramas. Espero que as pessoas

não se magoem demais, mas eu ainda quero ficar mais um pouco assim.

Deixando o tempo voar para longe. Vivendo cada um desses momentos.

Me aquecendo nas fagulhas que saem dos olhos dela.



quarta-feira, novembro 17, 2010

O coração não é de se deixar sobre a mesa
você tem que guardar debaixo dos seus sonhos
e usá-lo como escudo contra aqueles grosseiros
que veem um jardim e pensam em pisá-lo

Minha linda, minha estrela
caminhe pelas letras das suas músicas favoritas
porque todas elas foram feitas para você
E quando você começa a cantar
enquanto calça aquelas meias bonitinhas
não há amargura que não escorra pelos vãos
do seu quarto, que é a torre do castelo,
indo embora, indo bem longe de você
que é linda, que é um poema

É você,
tão bonita quanto uma flor à sombra de uma cerejeira
que balança toda singela

Você é toda singela, toda amiga dos pássaros
você é o máximo

Não deixe seu coração encostado em qualquer canto
se preferir, guarde-o do meu lado
ou dentro do meu coração
e nós seremos uma chuva de sorrisos
Linda, poema, estrela

(Luiz Guilherme Amaral)

terça-feira, novembro 16, 2010

no rascunho

Às vezes você entra
de mansinho no meu pensamento
Vai construindo versos imperfeitos
e eu me deito em suas metáforas
num descanso pleno de verbos inconjugáveis
...às vezes você brilha nos meus olhos
com suas derivações impróprias...
e brinca de me confundir com formas reprováveis
...às vezes você surge quase finalizado
E eu o desprezo como um filho abortado
E você fica guardado no canto
...às vezes você me poeta
Mas a rima fica em branco

segunda-feira, novembro 15, 2010

Laralarala

Ligo o rádio por ora.
Estações evangélicas.
Sertanejo 24 horas.
Oras, ninguém mais ouve música de qualidade?
O que houve com a arte?

Calipso, tecnobrega, axé.
Pra quem gosta de merda, prato cheio.
Pra quem não gosta, receio
que não haja nada a se fazer.

Benditos celulares mp3 e suas portas USB!

sexta-feira, novembro 12, 2010

dois corpos esticados na calçada da grande avenida.

a declaração de amor entre
os passos, as conversas, as risadas abafadas
perdia dentro deles. era eles.

dois corpos esticados na calçada da grande avenida.

essa é a minha primeira lembrança viva de amor
além de mim.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Antes que o sol se esconda de inveja
da luz que você dispara à sua volta
eu, que te desejo de volta,
mesmo sem ainda não ter te tido
fico aqui só contando
por quantos quilômetros viajariam
meus dedos passando por seus cabelos

Eu voarei por muitas palavras
singelas como aquele seu sorriso de outono
enquanto morde o canto do lábio a pensar
Mas eu, que ando tanto a divagar
esperando que um dia você apareça
para pagar às águas soteropolitanas
aquela promessa de nós dois
completamente esquecidos de tudo
deixando-as lavarem nossos pés

Até o dia em que você, insistente,
começar a caminhar pelas páginas dos meus cadernos
e perceber, soluçando de assombro
como eu sei desenhar sua boca tão perfeitamente
e como você se multiplica em flores amarelas
aquelas que estão nos campos

Seu nome tem a música das asas das borboletas

(Luiz Guilherme Amaral)

terça-feira, novembro 09, 2010

Combinação

Se já é hora,
então vamos lá.
Ninguém vai reparar
se formos felizes agora.

Não vá desistir
no meio do caminho.
Eu trouxe vinho,
e mais outras coisinhas,
está tudo aqui.

Me preparei por anos
pra esse momento.
Se você se arrependeu, lamento.
Não há mais enganos.

Me dê sua mão
e deita aqui comigo, no chão.

Te digo: chegou a hora
e nada vai nos atrapalhar.
Estamos combinados:
você não vai mais embora
e eu não saio dese lugar!

segunda-feira, novembro 08, 2010

Segunda-feira

O chão está mais perto da minha cabeça
ou foi o céu que se distanciou?
E esse azul pálido preenchendo-me a manhã?

Pensei que o sol fosse remédio pra tudo,
mas descobri que o calor não é garantia de nada.

As formigas, inquietas, tentam me consolar
com suas lições já manjadas de vida.
Mas elas não aprenderam minha linguagem.

Então espero por algo que me preencha,
mesmo conhecendo meus furos um a um.

sábado, novembro 06, 2010

coisas de vidro

já tinha postado no Sabedoria, mas...

O tempo pára enquanto anita segura o jornal

O jornal aberto em espelho

Não mostra um trem descarrilhado

Milhares de mortos, uma criança perdida

É o caderno cotidiano

Os benefícios da reciclagem

E uma nota no canto esquerdo

O marido de anita está fora

Ele anda na rua e não sabe

Na coleira vai Rodolfo, nariz úmido colado ao chão

O cão pára frente ao sinal

Na rua ele não é um cachorro

É um soldado, uma enfermeira, um pai amoroso

Não há tempo para postes e latas de lixo

Não há tempo para latir para o carroceiro que passa

Há que se levar este homem que não enxerga para casa

Esse homem que leva ovos e leite e lhe dará um biscoito quando chegarem

Quando ele poderá se coçar e ser um cachorro

Anita não decora a casa há anos

Nada jamais muda de lugar

A banqueta um pouco à direita é um tropeção

Uma porta inadvertidamente aberta, um hematoma

Cada coisa em seu lugar e é como se Rubens enxergasse

10 passos entre a porta e a cozinha

escova de dentes: 1 palmo à esquerda da pia

E por isso a casa idêntica por pelo menos 20 anos

O mesmo perfume há 30

Rubens e o cão no elevador

Um signo de pontinhos: terceiro andar

São 10 passos até a cozinha, um biscoito

Uma nota na página esquerda

Caderno cotidiano

Desimportante

Um perfume que sai de linha

Uma fragrância que não mais se fabrica

O único rosto que um marido conhece

O mesmo cheiro dos lençóis, dos travesseiros

Que a três passos adentro da porta diz:

Anita já chegou

Anita está na cozinha

Anita está na sala e come pipocas vendo televisão

Anita que será uma estranha

Ao fim de dois dedos

Dentro de um vidro

sobre a penteadeira

3 palmos à esquerda de uma caixa de bijuterias

a 20 cm do espelho

a 1 metro e meio

do chão.

quinta-feira, novembro 04, 2010


meus amigos são tentáculos. me levam além do que sou.

meus amigos são mágicos. afastam a tristeza quando aparecem.

meus amigos são desafios. não permitem que seja fácil demais.

meus amigos são quânticos. interagimos por partículas subatômicas.

meus amigos são guias. de fora mostram o que eu não vejo.

o sublime, o louco, o ridículo na minha vida.

meus amigos são fenômenos naturais. suas leis me escapam.

humanos, errados, curiosos os meus amigos.

são só uns poucos, por isso mais reais.

Amigos. E meus.


quarta-feira, novembro 03, 2010

Hoje não teve lua
a culpa foi sua.

(Luiz Guilherme Amaral, com parceria)

terça-feira, novembro 02, 2010

Lembrança sonora

Ouço sua voz
assoviando
...arrepios
em meus sentidos!
Ouço seus soluços
(inaudíveis sons)
seus gemidos...
Ensurdeço!
Sussurros
entristecidos
(solitários)
que soam
nos meus ouvidos...

segunda-feira, novembro 01, 2010

dilúvio

Serra, prega e aparta

aquilo que já foi semente.

Somente Noé sabe

quanto bicho cabe

na arca

e não importa quantos para fora

ele deixe

virarão

comida

de peixe

Triste

E então
tua mão pousou em minha mão
como quem pede perdão.

E eu nào
acredito que não
sou mais quem você ama.

E o que me dói saber
é que nem amo você!
Só queria estar em sua cama!