segunda-feira, dezembro 31, 2007

incerto

e que vidente irá abrir as entranhas de um peixe e ler, não o futuro, mas suas próprias vísceras?

e que astrólogo olhará para cima e enxergará, não deuses e feras, mas a perfeita cúpula azul que o guarda?

e que relojoeiro quebrará o relógio para consertar o próprio tempo?

e que cigana pisoteará os vidros de suas poções, sangrando os pés e se apaixonando pelo chão onde pisa?

e que cartomante virará as cartas cruelmente, sabendo que a sorte se decifra apenas nas costas de seu baralho?

e que quiromante, me vendo as linhas da palma, enxergará o fio rompido que era a criança que eu levava e que um dia,

no meio da praça,

soltou minha mão.

domingo, dezembro 30, 2007

Às vezes,
sinto falta
da minha alma...

Porque certas coisas nessa vida
exigem
a presença da alma.
(As pessoas que estão em tua volta,
por exemplo...)

Sinto falta da alma
toda vez que penso
que a falta da mesma
poderia explicar
tantas outras faltas...

Só agora
eu me dou conta
dessa possibilidade...

Só agora,
depois que a vendi...

Não,
não ligo de ter vendido
minha alma
pro diabo...
Acho até
que ele tá pagando bem...
Pude ter quase tudo que eu podia
comprar,
quase tudo que eu podia ter
com dinheiro...

Mas,
desde o dia em que vendi minh'alma,
meu corpo só padece,
minha mente
enlouquece,
meu tempo se esvai,
e minha gente está cada vez
mais distante de mim...

Tenho um ano
pra recuperar
a minha alma!



Preservemos nossas almas em 2008!

VIVAMOS 2008!

sábado, dezembro 29, 2007

Sábado

Meu bem...
O futuro
não é lugar seguro
pra se estar...

E o passado
é matéria inerte...
não se presta a flertes
ou pesar.

Então te dou esse presente.
Que é pouco, mas é mais conveniente.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

missa do galo

sai o cálice de ouro,
entra o copo americano,

troquemos o vinho tinto
por gotas de sangue iraquiano.

terça-feira, dezembro 25, 2007

POESIA É DESENHO

Poesia e desenho são a mesma coisa.
A diferença é o descrente.
Na cabeça tudo é impulso.
Quantas palavras nascem de uma combinação de cores?
Quantas formas tem cada palavra?
Desenho e poesia são iguais.
São forma e retrato abstrato, sinais.
Um dia eu esqueci o desenho da poesia e ela perdeu sua cor.
Já me ocorreu um quadro mudo também, ah, quantas orações...
Estamos todos subordinados à leitura,
louvemos a expressão.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

clara

sou jovem
ainda não me bateram
com a porta na cara
tenho poucas cicatrizes
e quase nenhuma marca de navalha

eu sou jovem
sorrio bonito pra vida
e ela não consegue me dizer não,
me compra um sorvete
e me leva pela mão

eu sou jovem
e você pode chamar de inocência
bobagem, tolice, (doçura?) ou insensatez
tudo bem
eu ainda tenho cartuchos
pra me desapontar outra vez

Sou jovem
e se você lamber as pontas dos meus dedos
vai saber
que gosto têm os meus sonhos

eu sou jovem
e bem sei que de todo mundo
a tristeza vem cobrar sua cota.
mas a minha eu não pago.

pelo menos não antes da copa.

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ei, gente! feliz natal! :D

sábado, dezembro 22, 2007

Desterro

O papel também pode te cortar a mão;
com sangue se tinge os ladrilhos no chão.

O papel também pode sofrer corrosão;
o teu corpo cansado não pede perdão?

O papel também pode servir de oração,
de perda, rosário, calvário, canção.

Não é irresistível o chamado do não?

quinta-feira, dezembro 20, 2007

antiga mente

mirando
esse porta-retratos
antigo,

percebo:

ontem
eu parecia
mais comigo.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Cada vez mais, descubro que menos sei...
Sei que sobram motivos pra eu pensar que nada tem chance de durar. Nem a vida. Nem o lar. Nem mesmo um olhar. Mil razões eu tenho pra desconfiar de todo bom sentimento. Fatos e novelas. Histórias paralelas. Exemplos muitos pra eu usar. Até em comemoração de divórcio entrei!? Indício perfeito é sempre uma dúvida. Viver tornou-se um suplício...
Suplício enquanto não descobri o que significa amar. Enquanto não sonhei acordada. Enquanto não chorei de alegria. Enquanto não soube do que a calma é capaz. Enquanto não senti a certeza. Enquanto não entendi quem sou. Enquanto não vivi um grande amor...
Amor que não espera. Não se explica. Não tem medida. Desprendido. Suave liberdade. Confunde compreensão e cumplicidade. Um mestre. Um filho. Um presente. A felicidade real. O nu e o cru. Incondicional...
Incondicional e incomparável. Simples. Intensamente leve. Certamente único. E só...
Só mais uma partida. Eu e você. Juntos. Mundo. Porto. Um seguro. Até a próxima parada...
Parada pra uma nova etapa. Enredo pra uma outra história...

(Março, 2006)

terça-feira, dezembro 18, 2007

POR ONDE ERRAR

Segues pensando no tempo,
pesando-o,
para além do seu intento.

Andar sem ponderar
é que é seguir atento,
por onde o ar...

segunda-feira, dezembro 17, 2007

temática

para os meus

nós vamos subir a colina

em duplas, trios, quartetos
em vários
e vamos beber mojitos preparados

por uma renata lúcida
e comer batatas preparadas
em alumínio e carvão
ligar a música bem alto,
pra ali mesmo dançar o tcha-tcha, o tango , o fox-trote, a conga, a polka,
todas as danças de nomes legais
que nunca se aprende a dançar
porque só se valsa se valsa se valsa,
mas ainda assim dançaremos
fingindo que sabemos
e a gente finge muito bem.
Vamos rodopiar de pés descalços e saber que não nos levamos a sério,
nos entreolhando de banda
de sorrisos abertos
passando debaixo dos braços uns dos outros
e alguém vai gritar:“cláudia! essa é pra ti!”
batendo palmas na altura do ombro de forma bem espanhola
e eu vou cair numa gargalhada profunda e gostosa.
Daí deitaremos na grama verde molhada
quietos finalmente
olhando pro alto sem pensar em nada
nem mesmo no disco tocando esquecido
do sidney magal
e de repente o mundo gira um tantinho pra esquerda
e tudo entra em foco
tudo nítido, nítido, só por um segundo
se você tiver a sorte de ver.
então todos se juntam meio sonâmbulos
numa massa corpórea
de movimento pendular
passeando no jardim da madrugada
numa caminhada torta
e só nos separaremos pra passar pela porta.

e isso, meus caros, é o que eu chamo de festa.

Desagradável

Seja você mesmo
Mas lembre-se
de não ser

sábado, dezembro 15, 2007

Um e verso

O céu à noite
é o asfalto
e as estrelas, transeuntes
incautos!

O céu à noite
é doce tráfego...
carruagens estelares
e Lua-semáforo!

E eu aqui embaixo.
Sem meios de transporte.
Sem nave, sem mapa e sem norte.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

desordem

tem
o dom de deixar
as coisas
fora do normal,

quando
ela passa,

eu passo mal.
*poeminha pra minha vizinha.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Procuro
o lugar.

Lar,
doce motivo,
meu lar.

A constante,
verdadeira
razão.

Pra eu voltar,
sem perder-me,
sem mais partidas.

Acalentar
os mares internos
na cumplicidade.

Brincar de mim mesma,
dispensando explicações.

Aceitar o conforto
do insubstituível respeito.

Escolher
meu próprio significado
sem disfarçar desejos.

Livrar-me desse peso
que tão bem
desconheço.

Esquecer de desculpar-me
por antigas esperanças.

Acender a lareira,
ou mesmo o cigarro,
e depois sonhar.

Versar o amor,
simples e certo.

E ser feliz.

Até que meus dias
se dissipem,
e eu me torne
uma história de fé.

(fevereiro 2006)

terça-feira, dezembro 11, 2007

WEBOETAS

(A INEVITÁVEL NOVÍSSIMA GERAÇÃO)

Ué, poeta
não quer
ser weboeta?
Então não crie
um blog
(e na livraria
se afogue).

segunda-feira, dezembro 10, 2007

calada

Se ela se inclina por sobre o corrimão da escada de incêndio

é pra ver as carpas

na fonte do prédio da frente.

Ela não pensa em pular.

Se ela arqueia o corpo pra fora do batente da janela

é para alcançar com os dedos o descoberto,

para saber se chove.

Ela não pensa em pular.

Se ela caminha a passos incertos no degrau do meio-fio,

beirando os automóveis,

é pelo vento no rosto

e para não meter as sandálias nas poças.

Ela não pensa em pular.

Se ela oscila com os dedos dobrados na borda da ponte

é para observar o próprio reflexo ondulante

perpendicular e estendido como uma sombra a cores.

E olha por sobre os ombros se não vem vindo ninguém empurrar.

Ela é calada,

ela não pensa em pular.

domingo, dezembro 09, 2007

Seqüestrador*

O Amor
roubou
mais um coraçao
na noite passada

Já é a centésima vítima
esta semana
em Sao Paulo

- Foi tudo muito rápido!
Quando eu vi,
--pam!--
meu coraçao parou
e eu tava caidinha
- disse a vítima,
16 anos

Ela alega
que foi o Amor
o responsável
- Só pode ser Amor!

Testemunhas alegam ter visto
um rapaz
que aparentava uns 20 anos
fugindo pelos fundos

Três semanas depois
encontraram o rapaz
na cama
com a garota

Mas o Amor já nao estava mais lá

No dia seguinte,
ela também já nao estava mais lá
Partiu
em busca do Amor

Essa busca duraria 5 ano:
3 semanas procurando incansavelmente
e outros 4 anos, 11 meses e 1 semana
de pura aventura

Em algumas vezes, nessas aventuras,
jurou tê-lo encontrado,
ele,
o Amor...
O teria visto
de longe,
só de vista,
na calada da noite
de noites intercaladas

Cansou de procurar
e decidiu
esperar!
Sim!
Esperar
até que ele,
o Amor,
viesse de volta...

E nao é que funcionou???

Belo dia,
lá estava
ele,
o Amor!
Ele voltou!
Por diversas
vezes...
Diversas
e breves
vezes...
Breves...
Ela se perguntava
se era o mesmo Amor
Breves...
Já começava a surgir dúvida:
- Será mesmo o Amor?
Breves...
Ela já nao sabia
se era Amor
o que a roubou na primeira vez
a tantos anos...

Mas
quem a roubou,
seja quem for,
fugiu
sem deixar rastros

E nunca pediu resgate

E o Amor
roubou
mais um coraçao
na noite de hoje...

sexta-feira, dezembro 07, 2007

frágil

manuseia-me
com cuidado, meu bem.
hoje eu quero
ser frágil.

porque o mundo lá fora
é aflição, amor.
hoje eu só quero
o afago da sua mão
- compaixão.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

falso alarme

ela me diz
“eu te amo”
feito louca,
assim
como quem
vai à feira,
como quem
troca a roupa,

ela me diz
“eu te amo”
a toda hora,
assim
como quem
chega,
como quem
vai embora,

ela me diz
“eu te amo”,
até como
quem ora,
desconhecendo
os danos
que causam
suas preces

da boca pra fora.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

casulo em pedaços
tecidos abandonados
não me servem mais

restos das opções
catálogo de feições
não me guiam mais

andanças memoráveis
tempos inconsoláveis
não me confundem mais

histórias boas,
manchas e pessoas
não me impedem mais

despeço os vis
até mesmo o bis
não me ferem mais

retomei o eixo
no encaixe exato
e eu não me deixo
nunca mais...

(fevereiro, 2006)

terça-feira, dezembro 04, 2007

dance

é uma dança
é sempre uma dança
ainda que muda
ainda que em par ou não
ou parada
há sempre uma música
que acaba
um pássaro que cantou
ou um uivo que te toma pelo braço
e um espaço vazio
dois tempos de preenchimento
pra lá e pra cá mais dois passos:

há um novo sorriso
em um dia que cansa
e um frio que abraça
o fio da mudança

segunda-feira, dezembro 03, 2007

lived in bars

Já é noite de novo
mas pelo menos
eles estão aqui, sorridentes
desgrenhadas feito hárpias
e barbudos como reis
puxando de bandeira as rendas da noite
empurrando os blocos de escuridão
tudo seria tão lento,
sozinha
tão lento
mas eles estão aqui
e veja como a noite passa
uma tartaruga escura
fervendo
dentro da própria carapaça.

domingo, dezembro 02, 2007

Surdo

Não ouço nada

Vejo o movimento
sempre frenético
das pessoas
e suas ações
Povos agitados
andando
correndo
pra lá
e
pra cá
sobrevivendo
Carros
aos montes
nas ruas
Filas,
muitas filas
em qualquer lugar
que houvesse
quem quisesse entrar
ou sair
Multidões amontoadas
no ônibus
ou no show daquela banda pop
Crianças correndo no parque
e a nìtida expressão de
alegria
em seus rostos
Pessoas brigando
no meio da rua
e a expressão de ira
em seus olhares

Mas
--engraçado--
não ouço nada

Não mais

Insensível?




Aê, galera! Notaram alguma mudança?

Poisé, mudamos a ordem das cabeças!

Agora, J.F. de Souza escreve aos domingos!
Leandro Jardim passa a escrever toda terça-feira!
E Múcio Góes se manifesta por aqui às quintas!

É isso aê! Abraços!

sábado, dezembro 01, 2007

LONA

Tem lugar pra um palhaço bobo
no seu coração de pano?
Eu caibo em qualquer cantinho...
Pode ser perto dos leões, eu não tenho medo
(aprendi a olhar pra eles bem miudinho,
fazendo cara de segredo).

Tem lugar em seu coração mambembe
pra um equilibrista reticente
(desses que têm medo de altura)?
Eu também arremesso facas
contra o meu próprio peito...
Um apaixonado sem cura.

Enfim...
em qualquer lugar do seu picadeiro
tem um lugar pra mim
e meu espetáculo chinfrim?

Não me diga que não.
Não há platéia pior
que a solidão.