segunda-feira, julho 31, 2006

Ecos

Pequena imensidão
Devasta
Meu limitado ser.

Vago em desespero
Por lugares
Desabitados.

Tentei reescrever
Todas as cartas
Em vão...

Desacordada me vi
Sangrando e
Em pedaços

Corrompi
Meus princípios e
Pudores.

Rompi os laços
Com a realidade
Com a verdade
E com a vida.


Morri e sei
Perfeitamente quando,
No dia em que
A ti conhecia.

domingo, julho 30, 2006

VÔO

De um lado o meu sol sente
Noutro a lua que me pensa
E eu, no meio sem jeito, flutuo

Os razantes cá da mente
Pilotam de cor a ação
E tudo plana novamente

Então tudo que ouso amansa
E vela em dança o vão futuro
Num pouso irresponsável da razão

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música que recomendo: "Empire Builder" do Mason Jennings

sábado, julho 29, 2006

SEM QUERER

Como? Não foi nada?
E quando o vermelho do meu sangue
tingiu a orla da estrada?
E quando teu corpo sobre o meu
pesou uma tonelada?

Então é assim?
Você acha que não foi nada?
Mesmo depois que os bombeiros vieram
e a tragédia estava consumada?
Mesmo quando nossas almas
se elevaram
acima da madrugada?

Ah, não me diga que não foi nada!
Não quando o meu corpo em chamas
adentrou o seu em brasas.
Não quando minha língua sedenta
lambeu tua orelha amputada.
Não quando tua voz, já débil
se transformou numa lamúria macabra.

Não me cause gargalhadas...
Não me transforme em lembranças passadas!
Pois o tremor em tuas mãos
denuncia a derrocada!
E sou quem te digo:
Realmente não foi nada!

quinta-feira, julho 27, 2006

Flash Memory


Voltam à mente
novamente
rapidamente
Back in a flash

Algumas cenas do passado
Flashback

Se acendem
Flashlights

Num clarão
Flash!

Flash makes me blind!
Flash makes me blink!

Fakes!
Illusions!
Mentiras!
E, num passe de mágica...
Num piscar de olhos
Blink!
Desapareceram

Mal se acenderam
se apagaram
Tudo apagado
Tudo escuro
Black flash

Deu branco!
Blackout
Out of memory
Fugiu!

quarta-feira, julho 26, 2006

Tempo

perco-me no tempo
ao ponto do encontro
entre o espaço e o vento
feito o futuro com passado
no descompasso do presente.

terça-feira, julho 25, 2006

meia-noite em mim

    em sua mínima pressa
vai o dia dar na noite
beija-flor beijar estrela
hoje ontem nem promessa
vida quimera aquarela
a colorir o que há de vir


nada me deixe para amanhã
alegria tristeza amor afã
além dessa poesia lunar
que não me deixa ficar
nem ir


segunda-feira, julho 24, 2006

Obsessão

Vou embriagar-me de ti
Vou sorver-te
Até o último suspiro.
Quero sugar-te,
Roubar-te
Definitivamente!
Para que só existam lembranças
Do que fostes
Do que és
E do que sempre serás.
Lembro-te
Que até essas lembranças
Só a mim, pertencem...
Só a mim.

domingo, julho 23, 2006

AQUILO QUE A GENTE FEZ

sem que eu escolha
elas vem e vão
assim como e com os dias
as lembranças de você
daquela vez
daquilo que a gente fez

e aquilo que assim me fez
presente nessa folha
hoje se faz tão ambíguo
me constrói dor e sorriso
e remói
me tira o sono
porque é bom
e porque dói como
^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^
música que recomendo: "I See You, You See Me" da banda The Magic Numbers

quinta-feira, julho 20, 2006

Aurora plúmbea


Essa manhã
amanheceu
tão
escura...

Vejo um céu cinza...
Mas não como o de outrora...

Esse céu
amanheceu
com cor
de chumbo.

Como se toda poluição do céu de outrora
se houvesse sedimentado nas nuvens...

Como se todas as Noites
transformadas em Dia
houvessem decidido invadir,
transgredir,
entrar sem hora marcada,
e em hora imprópria,
à sala da Aurora...

Chumbo!
O céu
está coberto
de
chumbo!

Como se toda Loucura dos seres terrenos,
todas suas impurezas e indecências
houvessem ascendido aos céus...

E essa Loucura é tamanha, chega a cobrir o Sol...

E eu posso sentir seu cheiro!
E posso sentir até seu gosto!
Posso sentir na pele
o peso
de todo esse chumbo
que me invade por todos os poros!

E eu posso ver a tudo isso
e admirar o espetáculo!
Relâmpagos cortam o horizonte
cinza-chumbo
apocalíptico...
É o caos!

A chuva vem para lavar a cidade
para seu derradeiro fim...
Vem manchar as ruas
com todo o chumbo
que estava no céu
diluído em água...

E eu aguardo ansiosamente a
chuva
para lavar os pensamentos da noite
imunda
e sigo a observar os raios que poderiam rachar-me a
cuca...

Vêm as primeiras gotas da chuva
umedecer a rua soturna...



P.S.: Keila! Obrigado! =)


quarta-feira, julho 19, 2006

Reticência

Dia desses
alguém
perguntou-me:
"O que você
levaria
pra uma
ilha deserta?"
"Difícil isso!",
falei.
Não é.
E pensei.
O que seria
indispensável
aqui estando
ou
acolá vivendo?
Investiguei.
Sem pressa.
Lá no fundo
de mim.
Descobri
que somente
é preciso
paciência,
coragem
e fé.
E mais
nenhuma
reticência.

terça-feira, julho 18, 2006

flash-belle

em a manhã de hoje
photographei
o inusitado:
distraídos sóis giravam
&
desavisados beijavam flores.


[acho que ri]


por ser inverno
em aqui.



cançoneta em homenagem ao Bom Pedro I.

segunda-feira, julho 17, 2006

Branco

Tornar-se são
Para desvendar
Mistérios.

Resolvi dar-me
Um não
Definitivo.

Saber de
Respostas simples
É divagar.

Quero plantar-me
Em ti
E frutificar.

És resposta,
Dás significado
E me completas.

Do branco
De tuas mãos
Nascem todas
As cores
Do nosso amor
.

domingo, julho 16, 2006

O PENSA-DOR

.

Pressionar as têmporas
Não pára o tempo
Mas tem poder
De deixar pensar

Pressão é vento
E o tenso, biruta
Vê movimento mas dentro não escuta
É intenso mas não sai do lugar

Preso pelo eixo no meio
Independente do mundo a rodar
Se queixa se o quisto não veio
Que meio lhe pode apontar?

Ma se meio caído pra frente
Com pálberas e dentes a serrar
Não cai no conto da mente, que mente
Sente, não ri, mas palavras faz rimar

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música que recomendo: "Scream Poetry" dos Paralamas do Sucesso no disco "Hey Na Na"

(Aliás eu indico todo esse disco... é aquele que tem uma música que se chama e diz assim "O Amor Não Sabe Esperar"...)

sábado, julho 15, 2006

DRY FIT

Estiquei o amor ao sol...
o varal vergou-se.
O peso da água entre os fios de algodão
tornou-se doce então.

O sol, preguiçoso,
sugava as gotas d'água, uma a uma.
A perda de umidade traduzia-se em calor
ou seja lá o que for.

Ao fim do dia, o amor estava pronto.
Só faltava passar e engomar.
Vesti assim mesmo, amassado.
Beijei a boca da noite e sorri meio de lado...

quarta-feira, julho 12, 2006

Constante Variável

O tempo é uma palavra pequena,
que rege a orquestra humana
e coreografa com a vida.
É o escritor romancista
que faz o terror necessário
na suprema narração.
É o divisor das águas
e a condição meteorológica
da paciência.
Ele pode fechar,
pode durar,
ou simplesmente parar.
É um sim,
muitas vezes não,
e a mais absoluta razão.
É a época,
passado, presente e futuro,
totalmente eficaz,
apesar de escuro.
É um sabido remédio,
de solução razoavelmente dispendiosa,
que cura todos os males.
O tempo é o verdadeiro reconhecimento
da eterna lealdade
no meio de todas as perdas e ganhos.
É a pura mágica,
é altamente trágico,
e agradavelmente cômico.
É confortável,
mesmo que provisório,
assim como um casório.
O tempo é o resgate
da alma em apuro
no mais profundo íntimo.
É um tesouro,
tal qual um oásis,
habitando o coração.
É uma rocha
esculpida pela brisa
que acalenta o destino.
O tempo é mesmo o fim,
é a constante variável,
e o desmedido recomeço...

terça-feira, julho 11, 2006

dito isto

   minha avó
jasmim dizia:


a água
é mole


a pedra
dura


o tonto
bate


a fé te
cura




segunda-feira, julho 10, 2006

Nada

A imensidão
De um grande vazio.
Repleto
Cheio,
Completo e
Absoluto...
De um todo nada.

Refletir
Ecos,
Sombras
E vozes.

Entender
Objetos,
Formas
E desejos...

O complexo
O simples,
E o verdadeiro.

Divagar,
Metaforizar,
Exorcizar
E simplificar,
O sempre.

domingo, julho 09, 2006

DE-TER

.
Quão bela é a figura
Da deteriorização
Do pouco a pouco
Se esvaindo em pó
Se misturando em ar
A voar-bailar
Do tempo em longe lento
Se transformando por ferrugem
Se aceitando sem lamento
A acabar

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música que recomendo: "Cannonball" do Damien Rice

sábado, julho 08, 2006

FIM

Queimei o céu...
As nuvens nevaram sobre a terra.

Queimei as nuvens.
Matei os pássaros.
venci a guerra!

Queimei o chão,
cada planta, cada pequeno animal.

Sequei os rios.
Ceifei a vida.
Morri afinal!

quinta-feira, julho 06, 2006

quando
o sol amareleceu
, pensei inscrever
poucas palavras
em tuas
folhas
, em tuas
pétalas...
sem pedir permissões
preferi não afrontá-la
[pelo menos por hoje]

quarta-feira, julho 05, 2006

Penitências

No emaranhado de experiências
encontrei o essencial.
Descobri que as penitências
têm papel primordial.

São da alma a aflição,
a misericórdia do Senhor.
De curta ou longa duração,
intentam sempre o amor.

São instantes de tortura
que conduzem ao perfeito.
São divina censura
a qualquer malfeito.

A todo Espírito comum
são efeito merecido.
Se não houver bem algum
será mesmo sofrido.

Tornar-se-ão menores
quão maior a caridade.
Subestimadas as dores
haverá a verdade.

E o ser purificado
encontrará o Caminho,
e desfrutará maravilhado
da infinda luz do Deus-Ninho.

terça-feira, julho 04, 2006

desinvento

Uma noite em minha cama,
dessas noites de insônia...
...tive um pensamento bobo,
e me flagrei imaginando
se por pura displicência,
ou, mesmo por maluquice,
Deus tivesse esquecido,
esquecido de te inventar.
Ai, meu Deus, que tolice!
Eu vivendo nesse mundo,
desprovido assim de graça,
mergulhado no absurdo
de não ter a quem amar!
É que até de imaginar dói,
minha vida todo dia,
sem sentido e alegria,
a respirar, simplesmente.
Mas, foi só um pensamento.
Porque se verdade fosse,
eu jamais suportaria!
E para não existir sem ti,
juro, que eu me desinventaria.

segunda-feira, julho 03, 2006

Embebida,
Cega,
Surda
E muda.
Fui em busca de ti,
Mas nada encontrei ...
A não ser Os vestígios,
Os rastros
O nada
Que trazias.

Pensei em desistir,
Fugir...
Me iludi.
Daqui
Não consigo sair.

domingo, julho 02, 2006

ÁGUAS PASSANDO


uma
a
uma
caem
gotas dos meus olhos,
mas pra mim são rios,
ou eu rio de cascatas.

milhares
a
milhares
caem
gotas dos céus,
nessa chuva que dilúvio,
mas parece meu o cenário.

E eu,
canário,

nado, nado, nado,
e canto, canto, canto,
nesse pranto que me turva
em cascata.

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música que recomendo: "Cold Water" do Damien Rice

sábado, julho 01, 2006

STACATTO

Sebastião. Ser simples. Siciliano.
Sempre sua segurança seria surpreendida, sobretudo se seus sonhos seguissem se sucedendo, sanguessugas solenes.
Sentia sua sexualidade suficientemente sólida; saciava-se; sexo singularmente saboroso. Somente singelo senão: sabia-se sáfaro! Sementes secas! Sêmen sem substância...
Solícito, sustentou sobrinhos, sobrinhas.
Suas sobrinhas seguiam sugando sua segurança. Suores súbitos surgiam, sem serenidade, sal sulfúrico!
Sônia seria sempre sacrossanta, sobrevivendo sob sua sensibilidade. Suave, sagrada, subaproveitada. Subjugada. Soterrada sob sua solidão.
Samira supunha-se succubus, sugando secretas seivas sob seus sonhos sodomitas. Sáfia, safista, safadíssima. Sua saga sagrava sua safadeza.
Sandra sucumbiu, selou sua sorte - sabiamente - sob sagrado sacramento. Seu sacrilégio seria se subverter seguidamente, santo sacrifício.
Suely sabia sua senha, sacou seu salário sete semanas seguidas. Sem ser sensibilizada, sumiu. Sem sentença. Sem sentimentalismos.
Sebastião...
Sobre seus sobrinhos, saliente-se sua sina soturna, sobremaneira sinais sinistros, suspense...
Sílvio, sacerdote sacripanta,surrou sacristãos, saqueou sinagogas, surrupiou sacristias. Sublime sacrílego, salvou-se solenemente supondo-se santo.
Sérgio, sectário; sedentário; safenado; senil. Seduziu suas sobrinhas! Seqüestrou serviçais. Selvagem. Secretamente, sonetos simbolistas.
Sobre Samir: sua sensual senhora separou-se. Saiu se saciando sobejamente sob seu sem-saber. Sofrendo, Samir soube. Sucidou-se.
Soares, segundo-sargento, satisfazia sua sofreguidão seviciando soldados subalternos, sebosos, suados. Sugava suas sujidades. Sodomia.
Sebastião...
Subfebril, sentiu-se submergir. Sua sobrevivência sob sombras soava simplesmente sem sentido. Supliciado, saiu sozinho.
Samba. Sinuca. Sexo. Surras. Surrealismo.
Surtou!
Sofreu síncope. Seu suspiro sereno sobreveio...
Silêncio!
(...)
Sua Santidade soube. Santificou-o.
Satanás sorriu, surpreso!