terça-feira, julho 31, 2007

primeira página

você fica
linda assim,
sorrindo marfim
sol pra mim,
você louça fina,
adereço
da minha retina,
você,
minha cara,
minha cura,
minha mais rara
caricatura,
meu Van Gohg
muito além
dessa moldura,
sorrindo marfim
sol pra mim
em pleno jornal,
New York
dando um “time”,
que tal?
você na tevê
em rede nacional,
via satélite,
e no fundo
do meu quintal,
aquele seu vestido
em seda pura
ocupando espaço
no meu varal,
que tal?

segunda-feira, julho 30, 2007

jornada

Caminho sozinha
Minhas mãos esfriam
Sinto o vento no rosto
E a aspereza do chão...
Avisto ao longe
(o que penso ser miragem)
Penso em querer acreditar
E sigo acreditando.
Aos poucos e lentamente
Tento pensar
Dramatizo o que seria um encontro
Perco-me em falas e gestos...
Levo as mãos ao rosto
Elas permanecem frias.
Agora vejo crianças
Elas acenam que não
Então paro
E acordo...
Suores gelados e mãos aquecidas.

sábado, julho 28, 2007

Herança

Meu filho, um dia
tudo isto será teu...
essa vida esquisita,
cheia de mistérios insondáveis,
e melancolias infinitas...
esse desespero, esse mergulho no breu!

Meu filho, tudo o que tenho
passará a ser teu.
A pobreza, a enxaqueca,
o medo, a dor de cabeça,
o ar poluído, o desejo pelo proibido
e a dor de quem se esqueceu...

Meu filho, minha herança
será tua maldição e tua bonança.
E tuas lágrimas secarão
e teus braços se cansarão
e tua piedade se aquietará
ante a sombra que virá.
E roubarão tua esperança.

Mas, meu filho, que maravilha
quando enfim chegar o dia
de nascer um filho teu.
E saberás que não está sozinho.
Tens alguém pra dividir
o pouco do teu carinho
e a carga que Deus lhe deu.

E olharás aquele rosto inocente
de quem ainda não aprendeu a ser gente
e lhe dirás, mostrando o horizonte:
"Meu filho, toda essa dor,
que vês aqui e ao longe,
tudo o que em ti se esconde,
tudo isso um dia será teu!"

quinta-feira, julho 26, 2007

Vida (ou qualquer coisa que a valha)*

Cores
ou quaisquer paisagens admiráveis aos olhos
Música
ou qualquer som que agrade aos meus ouvidos
Cerveja
ou qualquer outra bebida de teor alcoólico
Amigos
ou quaisquer pessoas que gostem de mim, e eu, delas
Comédia
ou qualquer estória que me faça gargalhar
Poesia
ou qualquer rima ou prosa que me toque o coração
Amor
ou qualquer que seja o sentimento-base prum bom relacionamento
Dor
ou qualquer coisa que limite o ser desmedido
Castigo
ou qualquer sofrimento que me lembre do outro lado da moeda
Objetivo
ou qualquer idéia que eu queira concretizar
Força-de-vontade
ou qualquer coisa que me sirva de motivação
Prazer
ou qualquer sensação boa como voar por si só
Sonhos
ou quaisquer devaneios escondidos na mente insana
Verdade
ou qualquer fato em que eu possa acreditar

Enfim...

Vida
ou qualquer coisa que a valha

quarta-feira, julho 25, 2007

tatue o sol na pele
e abrace a sua vida
todos os dias...
fale sempre com a lua
e nade pelado
nos seus sonhos...
salpique estrelas na alma
e encante as árvores
do seu jardim...
engane o tempo aos versos
e dance ao som
da sua energia...
[porque as tempestades
só acontecem
quando está chovendo!]

segunda-feira, julho 23, 2007

marasmo

Em falta e em desatino
Papéis voam
Emoldurando o marasmo.
Cadeiras vazias e quebradas
Aguardam visitantes noturnos.
Por mais que eu trema
Por mais que busque sentido
Tudo desfaz...
Acordo entre cordas
Surdas e sonoras
Num acordo profundo
Selado em segredos...
Cadencio e silencio
Batidas que ecoam n’alma.

sábado, julho 21, 2007

Na Mosca

Teu alvo meu peito não serve mais.
Crivado (balas e ressentimentos).
Corroído (sangue e lágrimas).
Destruído (lástimas do tempo).

O centro do alvo, coitado,
nem mais existe como coisa física...
só como ausência e sofrimento.
E teus projéteis me atingem como que por música.

Meu peito, querida, já não serve mais.
Desfez-se.
Pó e ar.
E tuas mãos habilíssimas
terão que encontrar outro alguém pra praticar.

sexta-feira, julho 20, 2007

A poesia (mente)

A poesia está na sala.
Nos restos em cima da mesa.
Inquieta e sedutoramente viva.

A poesia está no quarto.
Na poeira debaixo da cama.
Tranqüila e assustadoramente só.

A poesia sorri,
Debocha e diz:
- A poesia não está.

E assim a poesia descaradamente é.

quinta-feira, julho 19, 2007

*

O Tempo vai passar
por aqui
e por todos os lugares,
como sempre

Não vai sobrar nada

O Tempo já passou
e, quando passou,
enterrou
cidades inteiras

O Tempo passa
e nada
nem ninguém
o detém

O Tempo vai passar
arrastando a areia
que cobrirá os escombros
e a nossa memória

E tudo se tornará
História

quarta-feira, julho 18, 2007

um bocado de beijo,
um olhar-de-desejo.
há braços
e as pernas
[together].
suor e saliva.
você, tão quente.
eu assim, derretida.
nesse enquanto
de explosão
e gemidos.
e, num segundo,
perdemos o rumo,
encostamos no chão.
então, eu eternizo
o nosso sorriso
nas batidas do coração...

terça-feira, julho 17, 2007

vem!

oh, my love,
liga pra mim,
manda um e-mail
no meio da tarde,
me invade,
se achar difícil,
manda um torpedo,
quem sabe um míssil,
qualquer coisa assim,
manda um sinal
de fumaça,
um pouco mais
de graça
pra esse meu jardim,
ou então, my love,
dá um pulinho
aqui no meu apê,
vem ver aquele poema
que um dia
eu fiz pra você,
traz a pipoca
que eu ligo a tevê,
vamos ver aquele filme
em que os amantes
se parecem
tanto com nós dois,
vem, e deixa
todo o resto pra depois,
o que passou, passou,
vem, e me devolve
o que eu mais preciso,
aquele meu sorriso
que você levou.

segunda-feira, julho 16, 2007

.ai

florecer é o verbo
frutificar é ordem
nada mais além
de adubo e love.
tem fruta no pé
cheiro no ar
nada há além
de poesia e luar.
verso daqui
prosa de lá
sigo cantando
versinhos quadradinhos.

domingo, julho 15, 2007

0.7

o detetive
do grafite
detem um zero
a menos
e notas 10

sábado, julho 14, 2007

Pergunta

Meu bem,
você pode me dizer
se me ama... ou é só atração física?
Poderia, por favor,
ser um pouquinho só mais específica?

Você pode? Ou não sabe?
O que te dirige é o tesão
ou só saudade?

Quando pensa em mim,
é com a mente,
com as glândulas
ou com o coração?
Eu te faço perder a razão?

Por acaso
nosso caso
é de romance ou de polícia?
Se baseia em dor ou em delícia?

Me desculpi, ainda não entendi bem...
ainda não entendi, meu bem,
o que você quis me dizer.
Você realmente me ama,
você se ama quando me ama,
ou ama quando eu amo você?
É difícil compreender...

Pois os seus olhos
não encaram os meus olhos
mais que o tempo necessário
ao nosso intercurso carnal.
Seu beijo não tem desejo...
beijo sem extensão...
sem etcetera e tal!
Seu abraço é meio de longe,
um abraço de quem se esconde,
abraço-cartão-postal.
Só se entrega por completo
na hora mesmo do sexo,
na hora do ponto final.

Afinal, você me ama
ou só ama o meu pau?

quinta-feira, julho 12, 2007

O poeta esquecido

O poeta esqueceu
do poema
da arte
das feridas
dos combates
da bebida
da alegria
das dores
da agonia
do trabalho
da apatia
das maldiçoes
das ojerizas
das frustraçoes
das gozaçoes
das açoes
das razoes
das emoçoes

O poeta esqueceu
como se vive

O poeta esqueceu
também
de se suicidar

Mas o fez
de propósito
que é pro tempo
dar tempo
d'ele lembrar
do que tanto
ele esqueceu

quarta-feira, julho 11, 2007

[todo o resto
é de fato
esse retrato
que guardo
no meu peito
quando me deito
ao seu lado...]

terça-feira, julho 10, 2007

no meu colo
colares,
no meu olho
olhares,
me planto,
me pinto,
requinto-me
o instinto,
existo,
mil pares
de mares
despisto,
me santo,
me sinto,
e se insisto
conquisto,
só por saber
que
ser é isto.

segunda-feira, julho 09, 2007

essência

meu cheiro de copaíba
entrega
que sou ouriço
de casca dura
e broto do chão.

domingo, julho 08, 2007

sábado, julho 07, 2007

Um velho LP furado
tocando sempre sempre a mesma nota
pulapulapulando
pulapulapulando
flutuando
na sempre mesma velha rota

Aquela estação de rádio
que sobrevive
entre antigos comerciais
e novos cccccchhhhhhiiiiadossssss
locutores senis e jingles ultrapassados

A TV pré-circuito-integrado technicolor
e suas válvulas gigantescas
seu seletor pesado e enferrujado
seu lento liga-desliga-liga-desliga
e soap-operas popularescas

Meu quarto, minha vida, minhas mãos
entre os móveis empoeirados e os mesmos senãos
minha pele cansada
e meus olhos que rumo ao nada
se perdem entre a tua ausência e a minha indecisão...

quinta-feira, julho 05, 2007

*

E se,
nesses
momentos
de
descontração,
distração,
divertimento...

Um sentimento
me traísse
e me ferisse
o coração?

E se
você
visse,
ouvisse os
absurdos
que eu disse
outrora,
estando
não
são?

E então?
Qual seria
a tua
reação?

E se
você
partisse,
como disse
que faria,
sem o meu
consentimento?

O que eu faria?
Ouviria,
nessa hora,
meu próprio
lamento
de solidão?

E se
déssemos
um jeito
de alentar
a dor
nesse
nosso
peito?

Esqueceríamos
toda
essa
traição?

E se
vivêssemos
apenas
de ilusão?

Seria ruim?
Seria bão?
O que seria?

E se
fosse
tudo
verdade
essa patifaria
que vejo
na televisão?

Estaria
eu
são?

Esses
tempos
de
crise...

Seriam
algum tipo
de
transição?

E se
isso,
na verdade,
fosse
tudo
uma
maldição?

Esse
mundo
em
que
vivemos,
afinal...

Existiria
toda
essa
vida
em vão?

Estarìamos
nós
próximos
do
final?

Mas
nós
não
somos
a união
do
Bem
e
do
Mal?



Que tal
se
fôssemos
como se deve
ir...

Partindo
do
começo
e sem pensar
na conclusão?

Acreditando
que
é
pra sempre...

Até que
tudo
se
acabe
Bem ou Mal...

Loucos
ou não,
estamos
aqui...

Salvos
e
sãos.

quarta-feira, julho 04, 2007

se eu correr,
o vento me pega!
se eu ficar,
a minha mãe briga!
[o que fazer
nessa hora
tão comprida???]

terça-feira, julho 03, 2007

segunda-feira, julho 02, 2007

33

Colo a trigésima terceira folha...
Escrevo menos
E sinto muito mais.
Meus dias são mais longos
E as esperas menores...
O dia passa
Eu passo ao passo
Passada.
Feliz
Neuroticamente desatenta.

domingo, julho 01, 2007

reconhecimentos

novos olhos podem
guardar reconhecimentos
só o rosto na cortina
menos da memória
que do instante
e se pressente
algo além do presente
do passado ou
futuro, do tempo
prescinde o reconhecimento
precisa-se apenas
do encontro
dos olhos ou poros ou
outros sinônimos:
de meros sublimes
feromônios