quarta-feira, outubro 31, 2007

Silêncio

Esconde a razão
Que disfarça a urgência
De cessar o motim
Dominador do sossego
Cobiça da alma
Em silêncio
Do momento secreto
Que impede o embaraço
Causado pelo pranto
Oculto pelo júbilo
Anunciando a tempestade
De silêncio
À privação da palavra
Que descreve o sentido
Misterioso do discurso
E mistura sons e ruídos
No íntimo
Do silêncio
Onde assim eu confesso
E então me despeço
Da intensa angústia
De toda a balbúrdia
E me protejo, e me resguardo
No etéreo silêncio.

(maio 2005)

terça-feira, outubro 30, 2007

eco

quando você
não está,
o meu silêncio
fala mais alto,
quando você
faz falta,
eu falto.

segunda-feira, outubro 29, 2007

poema de amor inconvencional número 17

Tinha os seus olhos,
mas era gay.
Dava pra ver pela blusa
e pelo cabelo encharcado de gel,
pelas coxas que se roçavam quando ele andava
pelo pulso suspeitamente solto.
Não, não há dúvida,
era viado.

Mas tinha os seus olhos.

domingo, outubro 28, 2007

DA FALTA

Faltar me faz
Da poesia o ar
Do mal ao mais
O amar e a cor

Tal vão me traz
A dor e o mar
De cais e caos
Onde eu for

sábado, outubro 27, 2007

Núpcias

Iza era feliz num sonho.
Não se dava com o mundo
e suas raias do absurdo.

Um dia Iza sucumbiu.
Igreja, véu e grinalda.
E num álbum de retratos
escondeu a sua alma.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Fio de esperança*

De repente
parece
que posso voar...
Estou suspenso no ar
Mas há um fio que me mantém
Um fino fio
Um fio de esperança
que ninguém vê
E é esse fio
que me fará chegar
até onde quero
Até você

juras

tu sussurras ao meu ouvido
palavras doces
e canções de querer bem

eu gosto de ti assim
cheio de palavras nos lábios
roçando minhas curvilíneas

a cama é pequena
para tantos sonhos
mas não para nossos beijos

e é assim
lábio ante lábio

que escrevemos nossa história

quarta-feira, outubro 24, 2007

Amor

Vale a pena dizer que
mesmo existindo dentro da mais antiga desordem
experimento o sentimento antes inacreditável.
Meu coração se farta de calmaria em meio à confusão.
Minha imaginação sonha às voltas da roda oscilante.
Meu corpo é simples desejo nesse terremoto.
E o meu espírito confraterniza com o tumulto.
É amor invadindo a minha vida...

terça-feira, outubro 23, 2007

rolé

volta,
vamos dar uma
volta,
deixa de lado
a revolta,
solta o cabelo,
solta,
me causa
um calafrio,
uma reviravolta,
volta e meia
me pega,
me abraça,
me solta,
vamos dar uma
volta,
que tal Bagdá
à noite
sem escolta,
ou se você
achar legal,
a vintecinco de março
no natal,
ou, se quiser, Olinda
em pleno Carnaval,
volta,
vamos dar uma
volta,
traz o mapa,
e eu traço a rota
que você mandar,
escolha o céu,
o mar,
e até a cor
da espuma,
volta, vai,
vamos dar uma.


segunda-feira, outubro 22, 2007

Poema Policial

Esta manhã

foi encontrado

em sua cozinha

o corpo do Sr. Moisés

repartido

por um mar vermelho.

A polícia desconfia que tenha sido vingança.

domingo, outubro 21, 2007

HIPÓTESE

Bom poema é aquele
Que todo leitor pensa
Que entendeu completamente
Quando cada leitor entendeu
Completamente diferente

sábado, outubro 20, 2007

Banquete

Primeiro foram as unhas.
Hábito inofensivo.
Quase todo mundo tem...
Comer unhas não faz mal a ninguém!

Um dia,
sem que ela se apercebesse
comi alguns cabelos...
apesar de seus apelos.

E que carne macia...
Nada mais me satisfazia.
Nada atrapalhava nossa paixão
(exceto as algemas
e o quarto sem ventilação).

Hoje, dezessete dias depois
degustei seu coração.
Ingrata!
Fala comigo mais não!

Dear Darkness

"dear darkness
dear darkness
won't you cover, cover
me again?"
- pj harvey -

Quando ele foi embora
a música começou a tocar.
A música da despedida.
Meus dedos tamborilaram sobre a mesa
numa agonia agridoce.

Meus olhos observaram cada vez mais
ele se distanciar.
E mais e mais e mais.
O homem de minha morte:
que venha agora a escuridão.


quinta-feira, outubro 18, 2007

*

Caí
ca cabeça no chão,
esqueci de onde...

Precisei
vivereaprender
tudo de novo
pra querer voltar
pro muro donde caí...

quarta-feira, outubro 17, 2007

Re(des)encontro

Quando a vida se torna repetitiva...
Quando todos os caminhos se perdem...
Quando as decisões se confundem...
Quando o que resta é fugir...
É aqui.
Nesse exato momento.
No eterno milésimo desses segundos.
É aqui.
Onde me apago,
e me apego.
E me consumo,
e me oculto.
Meu constante re(des)encontro.
E lembro que nunca mais morri.
Ou matei de novo.
É aqui.
Onde a dúvida será enforcada;
o fracasso ficará em pedaços;
a covardia, dilacerada;
o medo morrerá afogado;
a dor levará oito tiros.
É aqui.
Onde eu me torno
inocente dos meus crimes.
Assim,
culpada por ser humana...

(15.08.05)

terça-feira, outubro 16, 2007

elo-quência

tire dos olhos
essa venda,
moça,
e por favor
me entenda,
se for o caso
eu traduzo,
ponho legenda,
[não se ofenda]
mas, por favor,
moça,
me entenda,
se eu dançar na chuva
uma rumba,
se eu for
na macumba,
se fizer oferenda,
me entenda,
se eu virar vidente,
montar uma tenda,
ou até
se eu puser
a minha alma
à venda,
e nem Deus
me defenda,
por favor, entenda,
e quando eu pedir
a sua mão, moça,
por favor,
me prenda.

segunda-feira, outubro 15, 2007

.

Às vezes eu acho que tudo isso é um grande engano.
O destino errado me chamando
a cobrar
e interurbano.

domingo, outubro 14, 2007

sábado, outubro 13, 2007

Couraça

Todo santo dia, rapaz,
me visto pra guerra
e durmo em paz.

A cada fim do dia
uma arma embaixo do travesseiro
e uma vida vazia.

Meus muros são altos
e me possibilitam os saltos
rumo ao nada.

Pra que voar, se existem escadas?

sexta-feira, outubro 12, 2007

Nas nuvens

I
Sob o céu da tua boca: tua língua.
E eu vejo estrelas.

II
Teus olhos castanhos
quando encontram os meus

me levam ao azul do céu.


III
Quando pousei sobre o teu peito
me senti tão leve e protegida,
que num passe de mágica,
estava nas nuvens.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Querem vender o Paraíso

Só faltava essa:
os europeus estão tentando adquirir pra si
o Paraíso!
Todo ele! Inteirinho!
Já até compraram alguns lotes...
(E, pelo que eu saiba, Deus não o pôs à venda...)
Como Adão foi expulso de lá junto com Eva
a Serpente se aproveitou
e fez propaganda do lugar:
imagens e cenários deslumbrantes
que logo despertam uma sensação de paz
só de olhá-los.
Divulgou-as por todos os meios de comunicação.
Isso bastou.
E logo,
a imaginação de alguns aproveitadores começou a trabalhar
--mas eu ainda acho
que foi a Serpente quem os induziu:
incentivaram o turismo por lá,
abriram-se pousadas à beira-mar,
ofereciam passeios de jangada pra alto-mar,
de buggies pelas dunas,
andar de esqui-bunda,
fazer kite-surfing
e tudo o mais
pra somar às ditas imagens e cenários.
Mas nem todo mundo
nesse mundo de meu Deus
é bobo, não!
E, assim, os europeus
--que são mesmo os menos bobos dessa terra--
decirdiram entrar nessa também!
Era só o que faltava:
os europeus estão querendo
colonizar o Paraíso!
Mas hoje
os aborígenes protestam contra isso
Quem entrega as terras na mão deles
são as crias da Serpente
Serpente que ousou corromper os primeiros donos,
Serpente que ousou mandar no povo todo,
e agora ousa vender o Paraíso...

quarta-feira, outubro 10, 2007

Virou moda sofrer!
É um tal de sofrer da dor,
sofrer pro amor,
sofrer de calor,
sofrer com tanto ardor...
Que obrigação é essa de padecer?
E-pra-quê!?
Se angústia, ou aflição;
se paciência ou resignação;
não importa, não...
Sofrer agora é condição!
Teve a vez da euforia.
Noutra época, a nostalgia.
Houve até a alegria!
Agora, estar na moda é sofrer...
Sofrer no dia que choveu,
sofrer pro filho que cresceu,
sofrer com a causa da vizinha...
Afe maria!
Quem diria,
que essa moda pegaria???

(29.08.05)

terça-feira, outubro 09, 2007

fim

            que um mar more
sobre o mármore
que more em mim.


quando eu morrer,
quero assim.


segunda-feira, outubro 08, 2007

poema de não entender

Hoje não teremos meia noite
O garçom está lá fora
Beijando seu namorado
(o dele, não o seu)
Hoje não haverá meia noite
Drinque bom é drinque que pega fogo
apesar disso às vezes ser coisa de maricas
(nada contra, sr. Garçom,
Nada mesmo, de maneiríssima nenhuma)
O relógio tem nome
E as fotos não captam o real
(só por hoje)
Apesar de o projetarmos pra ela com toda a força.
Seria uma música bonita se nós não a estivéssemos cantando
Seria uma música bonita,
Mas quatro garotas num lamborghini
à capella
e quatro calotas que rodam que rodam rodam
Esse farol vermelho me secando o olho
E como é que as pessoas se sujeitam a dirigir?
Atenção amigo, se pretende levá-la pra cama:
Chega das serenatas e comece a trabalhar
Ao menos em uma canção de ninar.
Você sabe a diferença entre um cuzão e um vacilão?
Se estiver bêbado, por favor,
Mantenha-se afastado do telefone.
Esta noite não haverá meia noite
Nem meias palavras
Nem nada pela metade.
O garçom se chamava cássio

Ela usa os sapatos mais estranhos

Esta noite, não haverá meia.

domingo, outubro 07, 2007

País B.

Do nome que me deram
sinal puro de exploração
até o pau retiraram
pra caber penetração.

E ao pai torto que se fizeram
confunde-se a mãe que não me pariu,
pária pátria do pau-
brasil.
(poema inspirando no livro "Hello Brasil!"
de Contadro Caligaris)

sábado, outubro 06, 2007

Picolé

A vida se derrete
e a cada dia
um pouquinho dela cai ao chão.

Formigas apressadas correm
a sorver o doce desperdício da vida...

quinta-feira, outubro 04, 2007

Se joga!*

Se joga!
Se lança no abismo!
Esse abismo que há
Entre o que te dizem
e o que querem te dizer...
Entre o que você aceita
e o que você quer...
Entre o que você é
e o que você pode ser
Ou não ser...
(Eis a questão...)
Se joga!
Sai da margem
Mergulha de cabeça
nesse rio...
Esse rio
de gente ativa
que desemboca num mar
de possibilidades,
que se dispersa no horizonte...
Siga o fluxo,
ou vá contra a corrente,
só pra exercitar...
Se joga!
Se projete aos céus!
Para o alto
e avante!
Ao infinito
e além!
Faça uso de suas asas
e voe solto
Se lance nas alturas
das alturas
ao chão,
às pedras
da mesmice
da outra extremidade dos grilhões,
imóveis, paradas.
Se joga!
Põe fogo no circo!
Faça a alegria do palhaço!
Chuta o balde,
o pau da barraca!
Mande tudo às favas!
Se tiver vontade, grite!
Transmita a mensagem!
Mande-a
com tudo o mais
pelos ares!
Se joga!
Kamikaze contra porta-aviões
Bomba atômica contra nações
Tempestades, tufões,
ciclones, furacões
Destruições
Revoluções
em prol das evoluções
Se joga!
Mande tudo para o Espaço!
Foguetes,
robozinhos,
cobaias,
astronautas...
Ricaços também podem!
(Já que tão pagando...)
Astronauta, sai da nave
E.T., larga o telefone, sai de casa
Ganhem o Espaço
Não temam os buracos-negros
Ganhem as estrelas!
Se joga!
Lança mão dos céus, anjo!
Larga do que te convém
Liberta-te do que te aprisiona
Livra-te das tuas asas
Cai pra cá!
Se joga!
O que há além do horizonte?
Não saberá
se não for até lá
pra ver
Ganhe o horizonte
Se perca
Ganhe outro horizonte
Nova perspectiva
Voa,
pula,
mergulha,
busca
viver!
Se joga!

quarta-feira, outubro 03, 2007

Questão De Costume

Mais uma vez
apenas um sentido
um pedido somente
Uma só canção
transitando
entre a luz
e o coração
batendo
dormente
Tremores e odores
a acústica ausente
frenética
Outra veste
outra chama
caso-passado
o tempo atrasado
Uma vez mais
palavra cética
oposta ao que veio
Nem mais um talvez
amanhece meu corpo
sem aquela parte
sem cais
sem meio
perdido no adeus
Questão de costume
murmúrio latente
empata o destino
lugar do atrito
eterno capricho
nem sempre de Deus...
(19.10.05)

terça-feira, outubro 02, 2007

finesse

                      dona
de uma fineza
absoluta:


na sala, Sartre,
na cama, Sutra.






segunda-feira, outubro 01, 2007

descendente

Eu vou sair por aí

descabelada e descalça

estriada e deixando atrás

em rastro de papel

de sonho de valsa.

Eu vou sair por aí

rouca e famélica,

portando o olhar desvairado,

navalha bélica

de lâmina falsa.

Eu vou sair por aí

Com olhos inchados, os braços inchados,

linha se espichando do carretel.

Eu vou sair por aí,

sem medo e sem nada

boneca de madeira

sem conto-de-fada

sem calcinha e sem véu

e vou sair procurando

motivo pra descer cantando

essas mesmas ladeiras

que não levaram pro céu.