segunda-feira, dezembro 31, 2007

incerto

e que vidente irá abrir as entranhas de um peixe e ler, não o futuro, mas suas próprias vísceras?

e que astrólogo olhará para cima e enxergará, não deuses e feras, mas a perfeita cúpula azul que o guarda?

e que relojoeiro quebrará o relógio para consertar o próprio tempo?

e que cigana pisoteará os vidros de suas poções, sangrando os pés e se apaixonando pelo chão onde pisa?

e que cartomante virará as cartas cruelmente, sabendo que a sorte se decifra apenas nas costas de seu baralho?

e que quiromante, me vendo as linhas da palma, enxergará o fio rompido que era a criança que eu levava e que um dia,

no meio da praça,

soltou minha mão.

domingo, dezembro 30, 2007

Às vezes,
sinto falta
da minha alma...

Porque certas coisas nessa vida
exigem
a presença da alma.
(As pessoas que estão em tua volta,
por exemplo...)

Sinto falta da alma
toda vez que penso
que a falta da mesma
poderia explicar
tantas outras faltas...

Só agora
eu me dou conta
dessa possibilidade...

Só agora,
depois que a vendi...

Não,
não ligo de ter vendido
minha alma
pro diabo...
Acho até
que ele tá pagando bem...
Pude ter quase tudo que eu podia
comprar,
quase tudo que eu podia ter
com dinheiro...

Mas,
desde o dia em que vendi minh'alma,
meu corpo só padece,
minha mente
enlouquece,
meu tempo se esvai,
e minha gente está cada vez
mais distante de mim...

Tenho um ano
pra recuperar
a minha alma!



Preservemos nossas almas em 2008!

VIVAMOS 2008!

sábado, dezembro 29, 2007

Sábado

Meu bem...
O futuro
não é lugar seguro
pra se estar...

E o passado
é matéria inerte...
não se presta a flertes
ou pesar.

Então te dou esse presente.
Que é pouco, mas é mais conveniente.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

missa do galo

sai o cálice de ouro,
entra o copo americano,

troquemos o vinho tinto
por gotas de sangue iraquiano.

terça-feira, dezembro 25, 2007

POESIA É DESENHO

Poesia e desenho são a mesma coisa.
A diferença é o descrente.
Na cabeça tudo é impulso.
Quantas palavras nascem de uma combinação de cores?
Quantas formas tem cada palavra?
Desenho e poesia são iguais.
São forma e retrato abstrato, sinais.
Um dia eu esqueci o desenho da poesia e ela perdeu sua cor.
Já me ocorreu um quadro mudo também, ah, quantas orações...
Estamos todos subordinados à leitura,
louvemos a expressão.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

clara

sou jovem
ainda não me bateram
com a porta na cara
tenho poucas cicatrizes
e quase nenhuma marca de navalha

eu sou jovem
sorrio bonito pra vida
e ela não consegue me dizer não,
me compra um sorvete
e me leva pela mão

eu sou jovem
e você pode chamar de inocência
bobagem, tolice, (doçura?) ou insensatez
tudo bem
eu ainda tenho cartuchos
pra me desapontar outra vez

Sou jovem
e se você lamber as pontas dos meus dedos
vai saber
que gosto têm os meus sonhos

eu sou jovem
e bem sei que de todo mundo
a tristeza vem cobrar sua cota.
mas a minha eu não pago.

pelo menos não antes da copa.

----
ei, gente! feliz natal! :D

sábado, dezembro 22, 2007

Desterro

O papel também pode te cortar a mão;
com sangue se tinge os ladrilhos no chão.

O papel também pode sofrer corrosão;
o teu corpo cansado não pede perdão?

O papel também pode servir de oração,
de perda, rosário, calvário, canção.

Não é irresistível o chamado do não?

quinta-feira, dezembro 20, 2007

antiga mente

mirando
esse porta-retratos
antigo,

percebo:

ontem
eu parecia
mais comigo.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Cada vez mais, descubro que menos sei...
Sei que sobram motivos pra eu pensar que nada tem chance de durar. Nem a vida. Nem o lar. Nem mesmo um olhar. Mil razões eu tenho pra desconfiar de todo bom sentimento. Fatos e novelas. Histórias paralelas. Exemplos muitos pra eu usar. Até em comemoração de divórcio entrei!? Indício perfeito é sempre uma dúvida. Viver tornou-se um suplício...
Suplício enquanto não descobri o que significa amar. Enquanto não sonhei acordada. Enquanto não chorei de alegria. Enquanto não soube do que a calma é capaz. Enquanto não senti a certeza. Enquanto não entendi quem sou. Enquanto não vivi um grande amor...
Amor que não espera. Não se explica. Não tem medida. Desprendido. Suave liberdade. Confunde compreensão e cumplicidade. Um mestre. Um filho. Um presente. A felicidade real. O nu e o cru. Incondicional...
Incondicional e incomparável. Simples. Intensamente leve. Certamente único. E só...
Só mais uma partida. Eu e você. Juntos. Mundo. Porto. Um seguro. Até a próxima parada...
Parada pra uma nova etapa. Enredo pra uma outra história...

(Março, 2006)

terça-feira, dezembro 18, 2007

POR ONDE ERRAR

Segues pensando no tempo,
pesando-o,
para além do seu intento.

Andar sem ponderar
é que é seguir atento,
por onde o ar...

segunda-feira, dezembro 17, 2007

temática

para os meus

nós vamos subir a colina

em duplas, trios, quartetos
em vários
e vamos beber mojitos preparados

por uma renata lúcida
e comer batatas preparadas
em alumínio e carvão
ligar a música bem alto,
pra ali mesmo dançar o tcha-tcha, o tango , o fox-trote, a conga, a polka,
todas as danças de nomes legais
que nunca se aprende a dançar
porque só se valsa se valsa se valsa,
mas ainda assim dançaremos
fingindo que sabemos
e a gente finge muito bem.
Vamos rodopiar de pés descalços e saber que não nos levamos a sério,
nos entreolhando de banda
de sorrisos abertos
passando debaixo dos braços uns dos outros
e alguém vai gritar:“cláudia! essa é pra ti!”
batendo palmas na altura do ombro de forma bem espanhola
e eu vou cair numa gargalhada profunda e gostosa.
Daí deitaremos na grama verde molhada
quietos finalmente
olhando pro alto sem pensar em nada
nem mesmo no disco tocando esquecido
do sidney magal
e de repente o mundo gira um tantinho pra esquerda
e tudo entra em foco
tudo nítido, nítido, só por um segundo
se você tiver a sorte de ver.
então todos se juntam meio sonâmbulos
numa massa corpórea
de movimento pendular
passeando no jardim da madrugada
numa caminhada torta
e só nos separaremos pra passar pela porta.

e isso, meus caros, é o que eu chamo de festa.

Desagradável

Seja você mesmo
Mas lembre-se
de não ser

sábado, dezembro 15, 2007

Um e verso

O céu à noite
é o asfalto
e as estrelas, transeuntes
incautos!

O céu à noite
é doce tráfego...
carruagens estelares
e Lua-semáforo!

E eu aqui embaixo.
Sem meios de transporte.
Sem nave, sem mapa e sem norte.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

desordem

tem
o dom de deixar
as coisas
fora do normal,

quando
ela passa,

eu passo mal.
*poeminha pra minha vizinha.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Procuro
o lugar.

Lar,
doce motivo,
meu lar.

A constante,
verdadeira
razão.

Pra eu voltar,
sem perder-me,
sem mais partidas.

Acalentar
os mares internos
na cumplicidade.

Brincar de mim mesma,
dispensando explicações.

Aceitar o conforto
do insubstituível respeito.

Escolher
meu próprio significado
sem disfarçar desejos.

Livrar-me desse peso
que tão bem
desconheço.

Esquecer de desculpar-me
por antigas esperanças.

Acender a lareira,
ou mesmo o cigarro,
e depois sonhar.

Versar o amor,
simples e certo.

E ser feliz.

Até que meus dias
se dissipem,
e eu me torne
uma história de fé.

(fevereiro 2006)

terça-feira, dezembro 11, 2007

WEBOETAS

(A INEVITÁVEL NOVÍSSIMA GERAÇÃO)

Ué, poeta
não quer
ser weboeta?
Então não crie
um blog
(e na livraria
se afogue).

segunda-feira, dezembro 10, 2007

calada

Se ela se inclina por sobre o corrimão da escada de incêndio

é pra ver as carpas

na fonte do prédio da frente.

Ela não pensa em pular.

Se ela arqueia o corpo pra fora do batente da janela

é para alcançar com os dedos o descoberto,

para saber se chove.

Ela não pensa em pular.

Se ela caminha a passos incertos no degrau do meio-fio,

beirando os automóveis,

é pelo vento no rosto

e para não meter as sandálias nas poças.

Ela não pensa em pular.

Se ela oscila com os dedos dobrados na borda da ponte

é para observar o próprio reflexo ondulante

perpendicular e estendido como uma sombra a cores.

E olha por sobre os ombros se não vem vindo ninguém empurrar.

Ela é calada,

ela não pensa em pular.

domingo, dezembro 09, 2007

Seqüestrador*

O Amor
roubou
mais um coraçao
na noite passada

Já é a centésima vítima
esta semana
em Sao Paulo

- Foi tudo muito rápido!
Quando eu vi,
--pam!--
meu coraçao parou
e eu tava caidinha
- disse a vítima,
16 anos

Ela alega
que foi o Amor
o responsável
- Só pode ser Amor!

Testemunhas alegam ter visto
um rapaz
que aparentava uns 20 anos
fugindo pelos fundos

Três semanas depois
encontraram o rapaz
na cama
com a garota

Mas o Amor já nao estava mais lá

No dia seguinte,
ela também já nao estava mais lá
Partiu
em busca do Amor

Essa busca duraria 5 ano:
3 semanas procurando incansavelmente
e outros 4 anos, 11 meses e 1 semana
de pura aventura

Em algumas vezes, nessas aventuras,
jurou tê-lo encontrado,
ele,
o Amor...
O teria visto
de longe,
só de vista,
na calada da noite
de noites intercaladas

Cansou de procurar
e decidiu
esperar!
Sim!
Esperar
até que ele,
o Amor,
viesse de volta...

E nao é que funcionou???

Belo dia,
lá estava
ele,
o Amor!
Ele voltou!
Por diversas
vezes...
Diversas
e breves
vezes...
Breves...
Ela se perguntava
se era o mesmo Amor
Breves...
Já começava a surgir dúvida:
- Será mesmo o Amor?
Breves...
Ela já nao sabia
se era Amor
o que a roubou na primeira vez
a tantos anos...

Mas
quem a roubou,
seja quem for,
fugiu
sem deixar rastros

E nunca pediu resgate

E o Amor
roubou
mais um coraçao
na noite de hoje...

sexta-feira, dezembro 07, 2007

frágil

manuseia-me
com cuidado, meu bem.
hoje eu quero
ser frágil.

porque o mundo lá fora
é aflição, amor.
hoje eu só quero
o afago da sua mão
- compaixão.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

falso alarme

ela me diz
“eu te amo”
feito louca,
assim
como quem
vai à feira,
como quem
troca a roupa,

ela me diz
“eu te amo”
a toda hora,
assim
como quem
chega,
como quem
vai embora,

ela me diz
“eu te amo”,
até como
quem ora,
desconhecendo
os danos
que causam
suas preces

da boca pra fora.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

casulo em pedaços
tecidos abandonados
não me servem mais

restos das opções
catálogo de feições
não me guiam mais

andanças memoráveis
tempos inconsoláveis
não me confundem mais

histórias boas,
manchas e pessoas
não me impedem mais

despeço os vis
até mesmo o bis
não me ferem mais

retomei o eixo
no encaixe exato
e eu não me deixo
nunca mais...

(fevereiro, 2006)

terça-feira, dezembro 04, 2007

dance

é uma dança
é sempre uma dança
ainda que muda
ainda que em par ou não
ou parada
há sempre uma música
que acaba
um pássaro que cantou
ou um uivo que te toma pelo braço
e um espaço vazio
dois tempos de preenchimento
pra lá e pra cá mais dois passos:

há um novo sorriso
em um dia que cansa
e um frio que abraça
o fio da mudança

segunda-feira, dezembro 03, 2007

lived in bars

Já é noite de novo
mas pelo menos
eles estão aqui, sorridentes
desgrenhadas feito hárpias
e barbudos como reis
puxando de bandeira as rendas da noite
empurrando os blocos de escuridão
tudo seria tão lento,
sozinha
tão lento
mas eles estão aqui
e veja como a noite passa
uma tartaruga escura
fervendo
dentro da própria carapaça.

domingo, dezembro 02, 2007

Surdo

Não ouço nada

Vejo o movimento
sempre frenético
das pessoas
e suas ações
Povos agitados
andando
correndo
pra lá
e
pra cá
sobrevivendo
Carros
aos montes
nas ruas
Filas,
muitas filas
em qualquer lugar
que houvesse
quem quisesse entrar
ou sair
Multidões amontoadas
no ônibus
ou no show daquela banda pop
Crianças correndo no parque
e a nìtida expressão de
alegria
em seus rostos
Pessoas brigando
no meio da rua
e a expressão de ira
em seus olhares

Mas
--engraçado--
não ouço nada

Não mais

Insensível?




Aê, galera! Notaram alguma mudança?

Poisé, mudamos a ordem das cabeças!

Agora, J.F. de Souza escreve aos domingos!
Leandro Jardim passa a escrever toda terça-feira!
E Múcio Góes se manifesta por aqui às quintas!

É isso aê! Abraços!

sábado, dezembro 01, 2007

LONA

Tem lugar pra um palhaço bobo
no seu coração de pano?
Eu caibo em qualquer cantinho...
Pode ser perto dos leões, eu não tenho medo
(aprendi a olhar pra eles bem miudinho,
fazendo cara de segredo).

Tem lugar em seu coração mambembe
pra um equilibrista reticente
(desses que têm medo de altura)?
Eu também arremesso facas
contra o meu próprio peito...
Um apaixonado sem cura.

Enfim...
em qualquer lugar do seu picadeiro
tem um lugar pra mim
e meu espetáculo chinfrim?

Não me diga que não.
Não há platéia pior
que a solidão.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Acidente

Esbarro no barro
ainda mole
e pronto!
O que era pra ser uma obra-prima
passa a ser algo disforme.
Um feto com defeito
que não pode ser desfeito...
Mas se pode abortar...
A argila vai secar!
E se pode destruir,
jogar fora,
se livrar
dessa coisa mal-formada e
sem valor e,
assim sendo,
indesejável.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Sempre vivi cercada por pessoas,
mesmo quando não quis.
Das mais variadas estirpes.
Dos mais diversos espíritos.
Fontes inesgotáveis de experiência.
Ídolos e inimigos.
Meus oitos e meus oitentas.
Máscaras cruéis e verdadeiras.
Curtas e grossas.
Insensíveis à minha sensibilidade.
Capatazes das maldades.
Sempre vivi cercada de pessoas,
mesmo quando não quis.
Como agora. Hoje.
Uma ilha tão deserta...

(20 outubro de 2005)

terça-feira, novembro 27, 2007

furta-flor

você passou
e me deixou
esse silêncio,

mero suvenir
que fiz
com as flores
que roubei
do teu jardim

suspenso.

segunda-feira, novembro 26, 2007

.

não acredito nessa tal de vida cor-de-rosa
Ter filhos, por exemplo,
que escolha estranha.
Experimente fazer passar um melão cantalupo por qualquer orifício do seu corpo.

E depois ficam falando de macheza.

ser homem
só pode ser coisa de mariquinha.

domingo, novembro 25, 2007

OFÍCIO SACRO

é muito engraçado
o que tem a oferecer o mundo
pelas mãos dos livros que circundo:
uma certa frieza que dá-me enfado
beleza nos temas não antes tocados
que não justifica
o baralho de idéias sobrepostas,
intocáveis,
ou uma arqueologia de vocabulário.

(faz-me rir o riso constrangido
esse gemido que não soa mais que isso)

há que haver pulso pra nascer um grito
e conteúdo pra esgueirar a alma
e manuseio árduo a rimar a forma
dada por um fino e firme fio
que amarre esse resquício plástico
ou faça valer o sacrifício

sábado, novembro 24, 2007

Carnaval

Não gostava de ziriguidum!
Foi ao baile e matou todos...
um a um!

sexta-feira, novembro 23, 2007

brisa

eu quero sol
fechar os olhos
e ser tua brisa
nesses dias de verão

quinta-feira, novembro 22, 2007

A solução

O açucar
que eu misturei no café
se desfez
completamente

E a doçura se sobrepôs ao amargo


Pensei nisso enquanto via escorrer
ralo abaixo
mais um trabalhador ranzinza
Mais um dia de trabalho
cinza
Todo suor que perco
e todo sal que eu ganho em troca

Era eu
me dissolvendo mais um pouco
e querendo me sobrepôr a todo esse amargo da vida


Mas --que merda!
Eu não sou doce!!!

quarta-feira, novembro 21, 2007

se, porventura,
[ou pura loucura!]
esqueceres de mim,
entenda que
sou assim
às vezes,
[bravura]
outras,
[candura]
e talvez
[sua cura]
...

terça-feira, novembro 20, 2007

flor star

faisco
o teu nome
na areia,


um haicai
made in chão,
um asteróide,
um asterisco,


e me chovem
estrelas na calma


da mão.





segunda-feira, novembro 19, 2007

me desmonta.
prefiro ser pérola
do que ser conta.

domingo, novembro 18, 2007

mente

difícil é rimar
a intensidade do sentimento
com a clareza de entendimento

sábado, novembro 17, 2007

Viagem

Como uma velha estrada de Minas me cortasse o caminho
(com seus altos e baixos e altos e baixos e altos)
(com suas faixas de água e mato e pedras e pedras)
e me trouxesse a paz (enfim...) que tanto necessito.

Dentro de mim, planícies se formaram,
niveladas pelo ruído terno,
embaladas pelo ruído calmo
de uma velha estrada das Gerais...

E eu juro:
não te machuco
nunca mais!

sexta-feira, novembro 16, 2007

quinta-feira, novembro 15, 2007



Medo é freio...
Às vezes,
muitas vezes,
freio gasto...
Quando não é capaz de impedir,
rola muito estrago...
Quem tá de carona
quase sempre sai ferido...
Às vezes,
acaba até morrendo...
O motorista?
Esse quase nunca se fere...
Ele fica inteiro
para se preocupar
com o acidente
que ele mesmo provocou...
(E a culpa é sempre do motorista...)

quarta-feira, novembro 14, 2007

Meu ser concentra as mais variadas sensações, as quais descrevem perfeitamente os primeiros capítulos dos meus próximos trinta anos. Algumas remanescentes conhecidas, outras surpreendemente recém-nascidas...
Aquelas fazem referência à evolução da minha existência até então. São sentimentos de orgulho ao certificar-me da minha personalidade. Sentimentos ambíguos de conquista. Sentimentos de pesar pelos sonhos frustrados. Sentimentos adolescentes há muito escondidos. Sentimentos de dor esquecidos. Sentimentos nostálgicos das paixões vivenciadas. São todos sentimentos reciclados, mas incontestáveis, e inseparavelmente ligados a mim...
Estas, ah! estas sim. Reparadoras bem-vindas, estas sensações trazem consigo uma estranha calmaria sentimental. Pressupõem o sossego velado. Corroboram as minhas expectativas. Encorajam-me a redigir o desfecho da minha personagem original. E entro em cena repleta de teoria, inteiramente desprovida de munição emocional. Estas e aquelas, compondo a simetria do meu ato principal...
(maio, 2005)

terça-feira, novembro 13, 2007

Eu te amo, visse!

Roberval era o tipo do sujeito que assim chamamos “boa praça”. Nasceu e foi criado no bairro de Santo Amaro, com a dificuldade peculiar da pobreza; e o roncar uníssono dos estômagos vazios. Não obstante, colheu da infância boas lembranças no dia em que foi chamado pela consciência a rememorá-la. Não fora um bom jogador. Não. Terminava sempre sob as traves que delimitam o fim do campo, o apogeu dos superiores no conduzir da pelota. Nada mau como goleiro, para um inocente míope. Destacou-se mesmo no ofício prazeroso de nadar. Bastava a maré dar as caras com suas sobras no velho canal da avenida Agamenom, e lá ia a corriola pelas ruelas de chão batido em alvoroço, para desespero das mães. Nada em vão. Posto que não raro a maré lambia e tragava um daqueles corpos mirrados pela ausência de sustâncias. E às mães, sobrava o choro, e a espera pelo próximo. Roberval sempre voltou. Era ágil, e ímpar na proeza de descer ao fundo daquele lamaçal ralo e trazer à tona um punhado preto de terra como troféu.

Avesso aos estudos, parou na famigerada quinta série, demolido pelo dragão da matemática, e seduzido pela liberdade dos ignaros. Seu prazer era sentir o vento na cara, e o bater dos calcanhares na bunda. Um dia, ao voltar da rua, deu com a mãe estirada na porta de casa, entre o umbral e a terra batida que fazia as vezes de calçada. Tinha treze. Sendo o mais velho da prole, assumiu a tarefa de trazer o que comer para os outros quatro. Pela primeira, e única vez, lamentou a falta do pai, um mero desconhecido.


Seguindo o mandamento primeiro que lhe incutira a mãe logo cedo, “morra de fome, mas jamais roube, ou pegue o que não for seu por direito”; foi para o centro da cidade, batalhar. Conseguiu se manter num determinado ponto como guardador de carros. Cresceu assim, guardando carros na Boa Vista, e cresceu tanto, que não demorou a ganhar um apelido que vai levar ao túmulo: Coqueiro.

Do alto dos seus um metro e oitenta e nove, Coqueiro ostenta a pureza de um menino, com seus olhos miúdos e negros que fecham quando o sorriso abre. Assim fez seu carisma. É respeitado por todos, desde sua casa às ruas do centro. No seu rol de “clientes” enumera estudantes, doutores, empresários. Um desses, há um bom par de anos, o fez seu jardineiro. Foi quando Coqueiro se encantou por Adelaide, colega de ofício. Um exemplar de mulata, com olhos verdes e uns cabelos revoltos. Na cama, era dona das alegrias das sextas-feiras. Fora dela, enfezada, e muito ciumenta. Adelaide fez jogo duro por uns meses, mas não deixou de confessar que ficou louca logo “de cara” por aquele moreno alto com seu rosto de menino pidão e sorriso marfim. Porém, uma ou outra, banhada no riacho das preteridas, dizia ser por causa do seu mastro inverossímil, algo parecido com o que disse Drummond: “um deus entre as pernas”.

A vida dura do casal exigia mais trabalho do pai dos trigêmeos que chegaram não muito depois que se amasiaram. Com o cargo de jardineiro pelo dia, Roberval ainda guardava carros à noite, nos fins de semana, posto que havia muitas boates na região. No dia seguinte, aos primeiros fachos do sol, chegava a patroa com o almoço que Coqueiro levava para o trabalho no jardim alheio.
Era costume dos clientes mais tardios, ficar ouvindo as histórias dele na calçada, tomando as últimas cervejas. No caso da clientela feminina, Adelaide era taxativa: “oxe, num atolero, mermo!...”. Sempre rolava um bate-boca exaltado quando o moreno de sorriso marfim se deixava flagrar de papo com alguma “sirigaita” daquelas. E assim foi. Adelaide chegou antes da hora habitual, e lá estava o seu homem a gargalhar com duas mulheres.

“Roberval, seu cabra safado!!” - explodiu logo na esquina.

“Ai, meu Deus... lá vem ela!” - coçando a cabeça.

“Já tais aí, né?, parece até qué de proposo...!”

“Ô, Delinha...” - tentando contemporizar.

“Delinha, um caraio!... Delinha, Delinha... tu pensa mermo que eu sô indiota, né?” – com as mãos na cintura.

“Oxe, tava só te esperano pra pegar o cumê, e já tô atrasado, visse!”

“Atrasado, é?, atrasado eu sei bem pra quê... tu vai é raparigá por aí...”

“Ô, mulé... pelamordedeus!, eu me fudeno de trabalhar pra sustentar os bacuri da rente... e tu só pensa em gaia, vôti!!”

A essa altura uma platéia já assistia àquilo entre risos.

“Eu te conheço, Roberval Aquilino... bem eu seio da tua fama... essa tua cara de santo... tu num me ingana... tu vai é raparigá, cô sei...”


“Caraio!! Já disse que vô trabalhar, e tô atrasado!! Vai, me dá esse cumê logo, vai!”


“Tá bom, Roberval, eu até dou teu cumê, mai tu vai ter que me aprová que num vai quengá por aí!”

“Oxe, agora fudeu tudo... como porra eu vou te aprová? Só se tu ligá pra lá...”

“Ligá que nada! É muito simpres... Me dê sua chapa!”


A gargalhada explodiu na platéia.


“Oxe... num seja por isso!”


E a platéia atônita viu um Coqueiro complacente meter a mão na boca, sacar a boa dentadura marfim, enrolar num guardanapo, e entregar nas mãos de uma Adelaide sorridente.

“Eu te amo, visse!” – tacando um beijo no seu homem.


segunda-feira, novembro 12, 2007

domingo, novembro 11, 2007

QUANDO VEM

A inspiração quando vem
parece assim dizer:
"não deixe pra amanhã
o que pode fazer hoje".
"Pode" que é mais um "tem que".
Mas só diz isso a inspiração,
ao contrário de sempre, quando vem.
E se hoje ela não me contém,
quem sabe lhes convém a de amanhã.
Deixemos...

sábado, novembro 10, 2007

Urgência

Minha mão ensandecida
parte em busca subitamente
do que brota (oh, semente)
de tua mente pervertida
e do meu falo incandescente...

sexta-feira, novembro 09, 2007

Não limpe os pés antes de entrar

eu vi num blog por aí:
"seja bem-vindo, mas limpe os pés antes de entrar"...


Não limpe os pés antes de entrar

Entre com a lama, a grama, a poeira
e a areia do mar.

Entre com o barulho das ruas, do samba
e dos versos do poeta de mesa de bar.

Entre com o cheiro do asfalto, do ônibus lotado
e do pastel de carne com suco de maracujá.

A porta está aberta,
pode entrar:
Eu quero minha alma suja
e feliz.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Às vezes, é melhor ignorar...

Não consigo virar a página
sem ter entendido
o que acabei de ler
Busco reler
até entender
ou absorver
alguma coisa...

Acreditem:
isso é um péssimo costume.

terça-feira, novembro 06, 2007

segunda-feira, novembro 05, 2007

estrelas decadentes

as pessoas perseguem sonhos
como crianças correm atrás de bolhas de sabão
porque é divertido
não me importo se alcanço ou não

as pessoas perseguem sonhos
como um cão atrás de um carro
não por que o quero realmente
só estou tirando um sarro

as pessoas perseguem sonhos
como um cão acompanha o dono
porque estes sonhos, quando alcanço
me ninam em noites sem sono

as pessoas perseguem sonhos
como um gato persegue um rato
porque quando eu alcanço um sonho
eu mato.

domingo, novembro 04, 2007

DO AFAGO

para Lysia Leal
Pulso claro, inofusca luz, do afago,
serena alegria da paixão
correspondida como os momentos raros
de sua própria condição.

Ah, essa humanização de metáforas primaveris,
de pueril escrita,
contraria tua repetida condição
que ao rever berro
e reverbero: fica
fica, fica.

sábado, novembro 03, 2007

Visão

Do vento veio a voragem
visitando meus velhos varais...
enveredando-me, viagem.

Vi o vórtice varrendo-me
e veio-me a vertigem.
Virgem,
a vida encelheceu.

E o que era vivo se desvaneceu.

sexta-feira, novembro 02, 2007

O poeta está morto

O poeta morreu
esmagado pela rima
da poesia lírica

O poeta morreu
na noite velada
pela madrugada

O poeta morreu
sorriso demente
na boca sem dentes

O poeta morreu
sujo e pobre
de causa nobre

O poeta morreu
mas a poesia respira
viva e (de)lira

quinta-feira, novembro 01, 2007

Espírito Fumaça *



Olhe! Sou eu
essa fumaça
que sobe aos céus...
Dança levada pelo vento
Voa, vagante
Vulto misterioso, um espírito
Assombração, um fantasma
De repente, apareço
E te assusto
Surjo denso
Te perturbo os sentidos
com minha presença
E talvez seja esse
o único intuito de minha aparição...
Quero te perturbar
para que possas me sentir
aqui
Quero te invadir
a mente, me apossar de teu corpo,
me fundir à tua alma
Quero me sentir
vivo
em tua vida
Mas, tão logo consigo sentir-me, enfim,
me desfaço, me disperso
O que era denso
se desintegra,
vira nada
E eu desapareço
Outros ventos me espalham
a vários cantos, me despedaçam
E parte de mim
fica em ti
e te faz mal
Espírito? Que nada!
Talvez, no final,
seja só
fumaça...

quarta-feira, outubro 31, 2007

Silêncio

Esconde a razão
Que disfarça a urgência
De cessar o motim
Dominador do sossego
Cobiça da alma
Em silêncio
Do momento secreto
Que impede o embaraço
Causado pelo pranto
Oculto pelo júbilo
Anunciando a tempestade
De silêncio
À privação da palavra
Que descreve o sentido
Misterioso do discurso
E mistura sons e ruídos
No íntimo
Do silêncio
Onde assim eu confesso
E então me despeço
Da intensa angústia
De toda a balbúrdia
E me protejo, e me resguardo
No etéreo silêncio.

(maio 2005)

terça-feira, outubro 30, 2007

eco

quando você
não está,
o meu silêncio
fala mais alto,
quando você
faz falta,
eu falto.

segunda-feira, outubro 29, 2007

poema de amor inconvencional número 17

Tinha os seus olhos,
mas era gay.
Dava pra ver pela blusa
e pelo cabelo encharcado de gel,
pelas coxas que se roçavam quando ele andava
pelo pulso suspeitamente solto.
Não, não há dúvida,
era viado.

Mas tinha os seus olhos.

domingo, outubro 28, 2007

DA FALTA

Faltar me faz
Da poesia o ar
Do mal ao mais
O amar e a cor

Tal vão me traz
A dor e o mar
De cais e caos
Onde eu for

sábado, outubro 27, 2007

Núpcias

Iza era feliz num sonho.
Não se dava com o mundo
e suas raias do absurdo.

Um dia Iza sucumbiu.
Igreja, véu e grinalda.
E num álbum de retratos
escondeu a sua alma.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Fio de esperança*

De repente
parece
que posso voar...
Estou suspenso no ar
Mas há um fio que me mantém
Um fino fio
Um fio de esperança
que ninguém vê
E é esse fio
que me fará chegar
até onde quero
Até você

juras

tu sussurras ao meu ouvido
palavras doces
e canções de querer bem

eu gosto de ti assim
cheio de palavras nos lábios
roçando minhas curvilíneas

a cama é pequena
para tantos sonhos
mas não para nossos beijos

e é assim
lábio ante lábio

que escrevemos nossa história

quarta-feira, outubro 24, 2007

Amor

Vale a pena dizer que
mesmo existindo dentro da mais antiga desordem
experimento o sentimento antes inacreditável.
Meu coração se farta de calmaria em meio à confusão.
Minha imaginação sonha às voltas da roda oscilante.
Meu corpo é simples desejo nesse terremoto.
E o meu espírito confraterniza com o tumulto.
É amor invadindo a minha vida...

terça-feira, outubro 23, 2007

rolé

volta,
vamos dar uma
volta,
deixa de lado
a revolta,
solta o cabelo,
solta,
me causa
um calafrio,
uma reviravolta,
volta e meia
me pega,
me abraça,
me solta,
vamos dar uma
volta,
que tal Bagdá
à noite
sem escolta,
ou se você
achar legal,
a vintecinco de março
no natal,
ou, se quiser, Olinda
em pleno Carnaval,
volta,
vamos dar uma
volta,
traz o mapa,
e eu traço a rota
que você mandar,
escolha o céu,
o mar,
e até a cor
da espuma,
volta, vai,
vamos dar uma.


segunda-feira, outubro 22, 2007

Poema Policial

Esta manhã

foi encontrado

em sua cozinha

o corpo do Sr. Moisés

repartido

por um mar vermelho.

A polícia desconfia que tenha sido vingança.

domingo, outubro 21, 2007

HIPÓTESE

Bom poema é aquele
Que todo leitor pensa
Que entendeu completamente
Quando cada leitor entendeu
Completamente diferente

sábado, outubro 20, 2007

Banquete

Primeiro foram as unhas.
Hábito inofensivo.
Quase todo mundo tem...
Comer unhas não faz mal a ninguém!

Um dia,
sem que ela se apercebesse
comi alguns cabelos...
apesar de seus apelos.

E que carne macia...
Nada mais me satisfazia.
Nada atrapalhava nossa paixão
(exceto as algemas
e o quarto sem ventilação).

Hoje, dezessete dias depois
degustei seu coração.
Ingrata!
Fala comigo mais não!

Dear Darkness

"dear darkness
dear darkness
won't you cover, cover
me again?"
- pj harvey -

Quando ele foi embora
a música começou a tocar.
A música da despedida.
Meus dedos tamborilaram sobre a mesa
numa agonia agridoce.

Meus olhos observaram cada vez mais
ele se distanciar.
E mais e mais e mais.
O homem de minha morte:
que venha agora a escuridão.


quinta-feira, outubro 18, 2007

*

Caí
ca cabeça no chão,
esqueci de onde...

Precisei
vivereaprender
tudo de novo
pra querer voltar
pro muro donde caí...

quarta-feira, outubro 17, 2007

Re(des)encontro

Quando a vida se torna repetitiva...
Quando todos os caminhos se perdem...
Quando as decisões se confundem...
Quando o que resta é fugir...
É aqui.
Nesse exato momento.
No eterno milésimo desses segundos.
É aqui.
Onde me apago,
e me apego.
E me consumo,
e me oculto.
Meu constante re(des)encontro.
E lembro que nunca mais morri.
Ou matei de novo.
É aqui.
Onde a dúvida será enforcada;
o fracasso ficará em pedaços;
a covardia, dilacerada;
o medo morrerá afogado;
a dor levará oito tiros.
É aqui.
Onde eu me torno
inocente dos meus crimes.
Assim,
culpada por ser humana...

(15.08.05)

terça-feira, outubro 16, 2007

elo-quência

tire dos olhos
essa venda,
moça,
e por favor
me entenda,
se for o caso
eu traduzo,
ponho legenda,
[não se ofenda]
mas, por favor,
moça,
me entenda,
se eu dançar na chuva
uma rumba,
se eu for
na macumba,
se fizer oferenda,
me entenda,
se eu virar vidente,
montar uma tenda,
ou até
se eu puser
a minha alma
à venda,
e nem Deus
me defenda,
por favor, entenda,
e quando eu pedir
a sua mão, moça,
por favor,
me prenda.

segunda-feira, outubro 15, 2007

.

Às vezes eu acho que tudo isso é um grande engano.
O destino errado me chamando
a cobrar
e interurbano.

domingo, outubro 14, 2007

sábado, outubro 13, 2007

Couraça

Todo santo dia, rapaz,
me visto pra guerra
e durmo em paz.

A cada fim do dia
uma arma embaixo do travesseiro
e uma vida vazia.

Meus muros são altos
e me possibilitam os saltos
rumo ao nada.

Pra que voar, se existem escadas?

sexta-feira, outubro 12, 2007

Nas nuvens

I
Sob o céu da tua boca: tua língua.
E eu vejo estrelas.

II
Teus olhos castanhos
quando encontram os meus

me levam ao azul do céu.


III
Quando pousei sobre o teu peito
me senti tão leve e protegida,
que num passe de mágica,
estava nas nuvens.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Querem vender o Paraíso

Só faltava essa:
os europeus estão tentando adquirir pra si
o Paraíso!
Todo ele! Inteirinho!
Já até compraram alguns lotes...
(E, pelo que eu saiba, Deus não o pôs à venda...)
Como Adão foi expulso de lá junto com Eva
a Serpente se aproveitou
e fez propaganda do lugar:
imagens e cenários deslumbrantes
que logo despertam uma sensação de paz
só de olhá-los.
Divulgou-as por todos os meios de comunicação.
Isso bastou.
E logo,
a imaginação de alguns aproveitadores começou a trabalhar
--mas eu ainda acho
que foi a Serpente quem os induziu:
incentivaram o turismo por lá,
abriram-se pousadas à beira-mar,
ofereciam passeios de jangada pra alto-mar,
de buggies pelas dunas,
andar de esqui-bunda,
fazer kite-surfing
e tudo o mais
pra somar às ditas imagens e cenários.
Mas nem todo mundo
nesse mundo de meu Deus
é bobo, não!
E, assim, os europeus
--que são mesmo os menos bobos dessa terra--
decirdiram entrar nessa também!
Era só o que faltava:
os europeus estão querendo
colonizar o Paraíso!
Mas hoje
os aborígenes protestam contra isso
Quem entrega as terras na mão deles
são as crias da Serpente
Serpente que ousou corromper os primeiros donos,
Serpente que ousou mandar no povo todo,
e agora ousa vender o Paraíso...

quarta-feira, outubro 10, 2007

Virou moda sofrer!
É um tal de sofrer da dor,
sofrer pro amor,
sofrer de calor,
sofrer com tanto ardor...
Que obrigação é essa de padecer?
E-pra-quê!?
Se angústia, ou aflição;
se paciência ou resignação;
não importa, não...
Sofrer agora é condição!
Teve a vez da euforia.
Noutra época, a nostalgia.
Houve até a alegria!
Agora, estar na moda é sofrer...
Sofrer no dia que choveu,
sofrer pro filho que cresceu,
sofrer com a causa da vizinha...
Afe maria!
Quem diria,
que essa moda pegaria???

(29.08.05)

terça-feira, outubro 09, 2007

fim

            que um mar more
sobre o mármore
que more em mim.


quando eu morrer,
quero assim.


segunda-feira, outubro 08, 2007

poema de não entender

Hoje não teremos meia noite
O garçom está lá fora
Beijando seu namorado
(o dele, não o seu)
Hoje não haverá meia noite
Drinque bom é drinque que pega fogo
apesar disso às vezes ser coisa de maricas
(nada contra, sr. Garçom,
Nada mesmo, de maneiríssima nenhuma)
O relógio tem nome
E as fotos não captam o real
(só por hoje)
Apesar de o projetarmos pra ela com toda a força.
Seria uma música bonita se nós não a estivéssemos cantando
Seria uma música bonita,
Mas quatro garotas num lamborghini
à capella
e quatro calotas que rodam que rodam rodam
Esse farol vermelho me secando o olho
E como é que as pessoas se sujeitam a dirigir?
Atenção amigo, se pretende levá-la pra cama:
Chega das serenatas e comece a trabalhar
Ao menos em uma canção de ninar.
Você sabe a diferença entre um cuzão e um vacilão?
Se estiver bêbado, por favor,
Mantenha-se afastado do telefone.
Esta noite não haverá meia noite
Nem meias palavras
Nem nada pela metade.
O garçom se chamava cássio

Ela usa os sapatos mais estranhos

Esta noite, não haverá meia.

domingo, outubro 07, 2007

País B.

Do nome que me deram
sinal puro de exploração
até o pau retiraram
pra caber penetração.

E ao pai torto que se fizeram
confunde-se a mãe que não me pariu,
pária pátria do pau-
brasil.
(poema inspirando no livro "Hello Brasil!"
de Contadro Caligaris)

sábado, outubro 06, 2007

Picolé

A vida se derrete
e a cada dia
um pouquinho dela cai ao chão.

Formigas apressadas correm
a sorver o doce desperdício da vida...

quinta-feira, outubro 04, 2007

Se joga!*

Se joga!
Se lança no abismo!
Esse abismo que há
Entre o que te dizem
e o que querem te dizer...
Entre o que você aceita
e o que você quer...
Entre o que você é
e o que você pode ser
Ou não ser...
(Eis a questão...)
Se joga!
Sai da margem
Mergulha de cabeça
nesse rio...
Esse rio
de gente ativa
que desemboca num mar
de possibilidades,
que se dispersa no horizonte...
Siga o fluxo,
ou vá contra a corrente,
só pra exercitar...
Se joga!
Se projete aos céus!
Para o alto
e avante!
Ao infinito
e além!
Faça uso de suas asas
e voe solto
Se lance nas alturas
das alturas
ao chão,
às pedras
da mesmice
da outra extremidade dos grilhões,
imóveis, paradas.
Se joga!
Põe fogo no circo!
Faça a alegria do palhaço!
Chuta o balde,
o pau da barraca!
Mande tudo às favas!
Se tiver vontade, grite!
Transmita a mensagem!
Mande-a
com tudo o mais
pelos ares!
Se joga!
Kamikaze contra porta-aviões
Bomba atômica contra nações
Tempestades, tufões,
ciclones, furacões
Destruições
Revoluções
em prol das evoluções
Se joga!
Mande tudo para o Espaço!
Foguetes,
robozinhos,
cobaias,
astronautas...
Ricaços também podem!
(Já que tão pagando...)
Astronauta, sai da nave
E.T., larga o telefone, sai de casa
Ganhem o Espaço
Não temam os buracos-negros
Ganhem as estrelas!
Se joga!
Lança mão dos céus, anjo!
Larga do que te convém
Liberta-te do que te aprisiona
Livra-te das tuas asas
Cai pra cá!
Se joga!
O que há além do horizonte?
Não saberá
se não for até lá
pra ver
Ganhe o horizonte
Se perca
Ganhe outro horizonte
Nova perspectiva
Voa,
pula,
mergulha,
busca
viver!
Se joga!

quarta-feira, outubro 03, 2007

Questão De Costume

Mais uma vez
apenas um sentido
um pedido somente
Uma só canção
transitando
entre a luz
e o coração
batendo
dormente
Tremores e odores
a acústica ausente
frenética
Outra veste
outra chama
caso-passado
o tempo atrasado
Uma vez mais
palavra cética
oposta ao que veio
Nem mais um talvez
amanhece meu corpo
sem aquela parte
sem cais
sem meio
perdido no adeus
Questão de costume
murmúrio latente
empata o destino
lugar do atrito
eterno capricho
nem sempre de Deus...
(19.10.05)

terça-feira, outubro 02, 2007

finesse

                      dona
de uma fineza
absoluta:


na sala, Sartre,
na cama, Sutra.






segunda-feira, outubro 01, 2007

descendente

Eu vou sair por aí

descabelada e descalça

estriada e deixando atrás

em rastro de papel

de sonho de valsa.

Eu vou sair por aí

rouca e famélica,

portando o olhar desvairado,

navalha bélica

de lâmina falsa.

Eu vou sair por aí

Com olhos inchados, os braços inchados,

linha se espichando do carretel.

Eu vou sair por aí,

sem medo e sem nada

boneca de madeira

sem conto-de-fada

sem calcinha e sem véu

e vou sair procurando

motivo pra descer cantando

essas mesmas ladeiras

que não levaram pro céu.

sábado, setembro 29, 2007

Casanova

Deixa tua porta aberta
pra que eu entre.
Guarda um espaço em teu ventre
pra que eu passeie entre teus quadris.
Pra que eu adentre teus agoras e teus aquis.

Deixa a porta aberta
pra que eu saia...
Pois o sol (tu sabes...) raia.
Deixa uma saída de emergência.
Uma fuga pra minha urgência.

Depois (só depois) fecha a porta
pra que more em ti minha ausência.

sexta-feira, setembro 28, 2007

vida seca

a moça de pele morena
com tranças nos cabelos negros
enraizadas pelos ventos do sertão
caminha descalça sobre os espinhos
à procura de fé
semente
e mel
para enterrar a judiação


quinta-feira, setembro 27, 2007

Prece torta --porque tá escuro pra escrever em linha reta *

Ah, como eu queria
ao menos, por um dia
nessa vida
não olhar pra podrião,
fugir dessa escuridão
em que meu mundo se encontra...


...e voltar a ter a fé
...e crer que há uma luz



Meus olhos estão cansados de serem forçados a enxergar no escuro
pra desviar dos obstáculos!


Eu forço a vista no escuro
pra não tropeçar em nada
e não mais perder (mais) tempo...
Mas não vejo nem réstia de luz
nesse mundo escuro...



Preciso encontrar a luz!
Nem que a mesma me cegue
--o que é provável que aconteça...


Ainda tenho a esperança...
Mas cada dia tenho menos fé...



Esperança até o moribundo tem
Mas é a fé que move o ser


Me sinto sem fé,
sem forças
pra seguir
até onde espero um dia chegar...

quarta-feira, setembro 26, 2007

Maldade em Mim

Sei que não se escolhe
Nascer bom ou ruim
Nem mesmo a idade
De ser assado ou assim
Mas é que na verdade
No meio dessa lei carmesim
Descobri que existe maldade
Tamborilando em mim
Essa tal de bondade
Disfarçada em marfim
Não passa de crueldade
Defendendo-me assim
Com fervorosa lealdade
Da realidade-estopim
Tanto na claridade
Quanto no enfim.

terça-feira, setembro 25, 2007

se

                    se for preciso
eu até rimo
amor com dor,
mas,
sol se preciso
flor.

segunda-feira, setembro 24, 2007

talking ´bout...

Minha geração envelheceu rápido.
Os cabelos brancos não combinam com a lisura das faces
pisou fundo
E se divertiu rápido demais
Minha geração envelheceu rápido
Estudamos na pressa
E comemos na pressa
E descemos os degraus de dois em dois
Emendamos um destino no outro
Os grãos de areia correndo
Feito potros
Nunca me ocorreu que não teríamos mais
O que fazer depois.
Minha geração envelheceu rápido
Nos atiramos das bordas do fim das coisas - Uns completos insanos.
Um novo fim é um novo começo
-dizíamos-
precisamos ter valor
precisamos seguir em frente
somos um bando de velhos valentes
com apenas vinte anos.

domingo, setembro 23, 2007

TARDE

Nada pode ser tão triste
quanto a hora que, ao invés de aurora,
quis se chamar crepúsculo
de um pobre dia em que se fez morada
um fervor próprio ao de alvorada.
Enquanto a tarde, em comunhão covarde
caiu, portanto, e tanto arde.

sábado, setembro 22, 2007

Conto Navegação-Labirinto

moacircaetano & czarina

Capítulo 01

Capítulo 02

Capítulo 03

Epílogo:

4.

O filho da puta do chefe gritava tanto nos meus ouvidos que precisei afastar o bocal da orelha. Não precisava ouvir, sabia o que era. Ele estava furioso porque, além de não permanecer no escritório fazendo hora-extra (não remunerada, claro), saí meia hora antes do horário normal, irritado que estava com ele e com sua esposinha vagabunda. Do barulho distante que flutuava do telefone sem fio pude distinguir as palavras merda, bosta, quem-você-pensa-que-é, abuso, incompetente, todo o rol de pérolas costumeiras do chefe. Até ouvir uma nova, que me fez colar a orelha de volta ao bocal.
Despedido.
Despedido.
Despedido.
O filho da mãe me demitiu por causa de um errinho daqueles. Num último esforço, desbloqueei a garganta para dizer: “Entendo. Passe bem, Dr. César”; e ouvir que ele me achava um merda e nunca mais queria ver minha cara, enquanto sentia mais um ataque de fúria baixando e toldando minha vista. Telefonei para Suzana, simpático, como se tudo estivesse normal. Disse que consegui me livrar do galhudo mais cedo e que já estava a caminho. Ele deveria sair da firma em uns 25 minutos.
Bati com força a porta do carro e enquanto cruzava os dois ou três bairros que me separavam dela eu só conseguia pensar naquele estúpido furúnculo que ela tinha como marido e que se a última coisa que ele queria ver era minha cara, então eu o receberia dentro de sua própria casa, com as duas faces da minha bunda branca indo e vindo entre as pernas daquela piranha, com ela gritando meu nome mais alto que jamais gritará o dele, só para o caso do filho da puta não reconhecer as minhas nádegas.
Corta. Interrompe a cena.
Enquanto meu pau entrava e saia daquele rabo enorme, imagens aleatórias iam e vinham por minha mente. O cabelo engomado do Dr. César, a secretária que me olhava a cada dia com desprezo, o salário que mal dava pro aluguel e pro supermercado, os serões obrigatórios, a borra no café insosso...
Enfiei meu pau ainda com mais força, querendo castigar a putinha por cada um dos meus miseráveis dias. Ela não se importou. Ao contrário, gritou ainda mais. “Enfia, Moura, enfia mais, caralho!”. E ouvi a porta do quarto se abrir atrás de mim. Nesse momento o filme se acelera. E tudo acontece numa velocidade impressionante. Não existem detalhes, apenas borrões. E enquanto uma bala explodia na cabeça de Suzana, minha mão trêmula já disparava dois balaços no cu do Ilustríssimo Dr. César. Ele com certeza não morreria, mas se lembraria de mim pro resto dos seus dias. Cada vez que desse uma cagada.
Depois, tudo o que já se sabe.
Agora, só me restava escolher o destino: Mato Grosso ou Acre?

sexta-feira, setembro 21, 2007

:: aviso ::

aqui no meu jardim,
de coloridos sentimentos,
há uma placa que diz:
cuidado, não pise em mim.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Fraco

Às vezes,
tenho a impressão de que
meus poemas
são bem mais fortes
que eu...

quarta-feira, setembro 19, 2007

Brincadeira Com O Fogo

De novo!
a brincadeira com o fogo
que faz arder no meu peito
a vontade louca de sentir
o desejo em brasas de viver
o juízo insano do prazer
Aquela chama clara do incerto
que queima tudo por perto
remoendo tudo lá dentro
fazendo a ilusão parecer
uma grande e intensa diversão
Lembro uma menina
decorada com cicatrizes
assim, antigas atrizes
cantando velhas cantigas
desses atos de calor
nesse profundo sabor
salpicado pelas cores
inspiradas no amor
Só pra receber os aplausos
do cúmplice das minhas dores
no final do espetáculo
E tão rápida quanto a flama
a cortina de fecha, afinal
e a vida (re)volta ao normal...

(2 de novembro, 2005)

segunda-feira, setembro 17, 2007

economia

.
.
.
.
a conta está alta
standby também gasta energia
então
é bye pra vc!
understand?

domingo, setembro 16, 2007

QUE SONHO

.
.
Que sonho fui, sou, serei?

As lembranças a que me exponho
nebulosas aqui acordei.

As dores que enfadonho
são meus olhos, meus modos, sei.

E a frustração que já proponho
que não se explica porque criei...

Que sonho mais, dou, parei?
.
.

sábado, setembro 15, 2007

Nenzinha

A incrível arte de (não) consolar as pessoas

Por mim , mas já que vocês não me conhecem me chamo Eloísa .


Já reparou nas coisas que as pessoas falam pra consolar quando você está chorando? Obviamente não , porque você está absorta demais, tão imersa no seu universo de dor que não presta atenção . Ainda bem. Porque se você prestasse atenção teria motivos plausíveis para chorar muito mais. Não questiono a intenção dos amigos , ou familiares... Que naturalmente são nobres; apenas creio que, na maioria das vezes, em momentos difíceis eles perdem uma grande oportunidade de ficar em silêncio.



Num belo dia de sol você acorda sem vontade de cantar uma bela canção, pois seu namorado (tá... seu EX namorado) passou por você de mãos dadas com outra menina. Ou porque aquele cara por quem você é loucamente apaixonada, e move céus e terras, simplesmente não se importa com seus sentimentos. Aí você chora... Chora porque não importa o quanto você se importe, certas pessoas nunca se importarão . Chora porque você sabe que ele teve motivos notáveis pra terminar o relacionamento com você, e por mais que você saiba disso e tenha um enorme carinho e respeito por ele - e até ache que aquela menina pode fazê-lo mais feliz que você - sente falta até dos calos nas mãos dele. Chora porque vê seu mundo desmoronar (de novo) mas dessa vez ele não está lá pra te abraçar, manso como só ele e dizer que tudo bem. Que ele entende, que acontece com todo mundo, e que por mais ruim que pareça vai dar tudo certo, e que mesmo se não der, ele vai estar ali . Você procura exílio, um alívio qualquer tentando conversar com alguém... Huge mistake. Sua mãe diz: Imagina uma menina tão bonita como você! Seu pai fala: Manda esse merda pra puta que pariu. Sua avó aconselha: Vai ocupar a cabeça. E as amigas dizem : Esquece isso ! Ele não te merece, vamos pra balada. Não fica assim. Pára de chorar .
Será que já ocorreu a alguma dessas pessoas que você talvez não se importe (pelo menos naquele exato instante) no quão bonita você é ou não? Será que alguém já pensou que você não acha ele um merda e evidentemente não quer mandá-lo pra lugar nenhum, muito menos pra longe de você? Será que já ocorreu a elas o fato de que você não está com cabeça pra se ocupar , que a questão do merecimento não está de fato em questão e que você não está “assim” porque quer ou deu vontade? Será que algumas delas se lembrou de que chorar é algo inevitável em certas situações, quando não há mais nada a ser feito ?
Aí você levanta , sacode a poeira (mentira , você enfia ela debaixo do tapete), põe um sorriso (que é como uma muda que não criou raiz) no rosto, um scarpin, uma mini saia, sai e ri pra todo mundo , até pra ele se encontrá-lo com a tal garota. Ótimo... Todo mundo te adora , você é cheia de amigos, não sabe qual festa escolher no final de semana .
MAS ninguém sabe que seu travesseiro fica encharcado de lágrimas toda noite. E a impressão de que ninguém quer saber permanece e cresce a cada segundo . Você tenta ser mais sincera com alguém e acaba por escutar que você está sempre down. Sua terapeuta diz que acabou, acabou , e que você deve seguir em frente. Será que alguém já pensou que a gente talvez não fique triste por que quer? Que seguir em frente não é fácil e que a dor de amor pode parecer boba e abstrata mas é bem mais real do que qualquer cólica de rim?
E enfim diante do famigerado discurso: “Você é tão bonita , tão inteligente. Você tem família enquanto tem gente por ai que nem tem o que comer...”
Você compreende que o “cada um por si” é válido mesmo entre amigos e família. E começa a confiar somente no que pode carregar sobre suas próprias pernas até quando elas agüentarem...
Aí você sai, se ri e sorri pra todos com esses olhos. Esses olhos amendoados que alguém um dia tanto amou... e que agora troca olhares com outros olhos. Olhos que mentem dia e noite a dor de cada um.




***************************



A Eloisa é a minha querida vagalumezinha... Menina-fantasia, dona de milhares de fogos e luzes... Dona de asas que insistem em voar, mesmo quando o mundo diz que não. E a única mulher nesse mundo que me deu uma flor (ainda que ventos tenham levado embora... a flor, não a Eloísa... rs...)

Ela escreve (embora tenha escrito menos... rs...) coisas que fazem cócegas em meu coração, e que me fazem voltar a um tempo onde tudo era fácil e belo... Menina inesperada e bela!

sexta-feira, setembro 14, 2007

3 do mesmo

Como é difícil escolher apenas um poema do meu convidado! Sou fã dele, desde o nome do seu blog aos belos poemas que me trazem reflexão e muita admiração, pois ele sabe ser natural, poético e conciso. Então, aproveitando o post do Jefferson e os três poemas, deixo aqui três do querido Wilson Guanais.


Confuso

dói tanto
ainda
não sei
se

ele
(o dente)
ou eu

quem
foi
extraído
de quem.
----------------

Súbito

no
fim
do túnel
uma
luz

acesa
na
escuridão
que
sou

----------------
Sintonia

o poeta
às vezes deixa
o Poema
escrever-se

o Poema
às vezes deixa
o poeta
escrevê-lo.


Wilson Guanais
Mais aqui: Cemitério de Navios

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ps.1: Wilson mantém um santuário de poesia e prosa aqui.
ps.2: Nosso blog tem uma comunidade no Orkut e acho que precisamos movimentá-la! Quem quiser participar será muito bem-vindo. :)
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=17309944

quinta-feira, setembro 13, 2007

3 em 1

Gente!

Hoje, eu decidi fazer diferente: vou prestigiar 3 amigos-poetas em 1 único dia!
Isso mesmo! 3 num só dia!
Convidei 3 pessoas de quem gosto muito e cujos escritos aprecio sempre!

Lá vai:



O dia amanheceu calado.
estava sol, mas estava frio.
eu, doído.
não sabia mais o que fazia.
se era álcool ou solidão,
por onde eu ia...
por onde iam as desculpas para se ficar,
para se ficar um pouco mais que fosse,
qualquer mais que fosse.
Me lembro, havia espelhos.
Havia eu.
E eu fugia.
Fugia por esquinas,
me seguiam, refletiam.

O dia doía.
estava frio, mas estava sol.
e eu, amanheci calado.



O PÃO NOSSO

meu homem querido
vem logo encontrar-me
recebe a homenagem
que aprumo-te à ceia
melíflua, vermelha
com a boca molhada
num molho de amoras

do amâgo afaga
meu seio, minh'alma
inteiro somente
não mente, não morre
apenas me sente
e seja-me tudo
que possamos ser

amantes, poentes
senhores, serpentes
segredo, sagrado
favor, não comente
amor, me consome
sem medo essa noite

me entrega tua fome
me crava teu nome
e seja pra sempre
o meu comensal

amém



Impressão Minha

Foi impressão minha ou você realmente amolou-se?
Foi só impressão minha ou fizeste certo esforço para não dizer palavras severas?
Foi impressão minha ou o silêncio que verberava era castigo por um erro ignóbil?
Talvez fosse o reflexo de uma atitude desnorteada ou quem sabe sofrimento contido, escondido e refletido na escuridão que se fazia.
Foi só impressão minha ou a quebra desse silêncio tratava-se de pura formalidade que essa maioridade nos impõe?

Minhas impressões não importam
pois o que vejo não muda os fatos,
mas se os relatos desse entrementes
apenas acentuam , eu me retrato por tal dano.

Não existe vilão e mocinho nessa vida real,
só há seres falhos e sedentos de perfeição
todos vitimas.
Nem heróis nem vilões.
E lamentar-se não dará resultados...
Esperar talvez.





E aí? Qual vocês preferem?

quarta-feira, setembro 12, 2007

ato findo

ato findo o amor
é um longo e extenuante abraço
casulo vazio de vida
como as borbulhas em vão
de um afogado que se enreda em algas
e ninguém vê
e ninguém pode imaginar
que há beleza em se esvair
em se deixar levar

___________________________________

Meu convidado, Carlos Henrique Leiros ,
de uma intensidade inebriante...

terça-feira, setembro 11, 2007

Quadradismo

Com quatro cantos
sou quadrado.
Sigo uma ordem:
faço quadrados,
Tudo quadrado!
Sou parnasiano,
Um filho da puta de um parnasiano.
E como odeio parnasianos!




Meus queridos leitores e companheiros de letras, é com prazer e alegria que hoje vos trago aqui a poesia de Alex Pinheiro. Dono de um estilo cativante, desses que nos faz ir ao seu blog sempre, no afã de novidades; ele se auto define “poeta, ensaísta, fingidor, arrogante, calculista...”; e eu, particularmente, gosto muito de sua acidez, do senso crítico aguçado, da versatilidade, enfim, tudo bem feito e sem perder o lirismo, o fio da poesia. Quero destacar, também, o vídeo-poema “Presente”, uma jóia rara que deve ser vista/sentida por todos.

Alex está aqui: http://invento0.blogspot.com/


domingo, setembro 09, 2007

Restos

o gato na cama
me reclama
como pode
me morde
a orelha
e saboreia
o fato raro
daquele espaço:
sou rato:
rôo ruidosamente o que calo

Lucas Nicolato


Meu convidado dessa semana é o escritor e amigo Lucas Nicolato. Daqueles felizes encontros da vida real, em nossa primeira mesa de bar estávamos lá um lendo o original do livro do outro. O dele excelente, por sinal. Quando for lançado, eu aviso. Sua poesia tem a força de conteúdo e a concisão que muito me agradam. Conheçam mais aqui:

Fragilidade

sábado, setembro 08, 2007

quinta-feira, setembro 06, 2007

Alzheimer*

Eu não posso esquecer
Tenho mil coisas pra fazer
e algumas dessas coisas
certamente
eu terei que adiar
Mas não posso ignorar,
simplesmente
deisar pra lá
Preciso me lembrar
Tenho que avisar minha mãe
que eu tô bem,
inteiro,
vivo
(Droga! Cadê o maldito número?
Não o encontro em parte alguma
da minha mente...)
Não posso esquecer
de pedir perdão pro cara
que não me olha mais na cara
por conta de algo que lhe fiz
(Também preciso me lembrar
o que foi que eu fiz...)
Preciso me lembrar
das pessoas que amo,
de dizer isso a elas,
ou, ao menos, mostrar isso...
(Mas... Como se faz isso?
Já nem sei mais...
Esqueci!)
Preciso me lembrar
Não posso me esquecer
O que eu ia, mesmo, fazer?
E quem é você?

quarta-feira, setembro 05, 2007

Sou país sem fronteiras
Em minha incompletude
Amistosa e enfurecida
Abrigo de incansáveis dores
Nos vestígios de emoção
Vindas de todas as épocas
Sou pátria de mim
De particulares maneiras
Sou área independente
Curiosa e calejada
Comunhão dos amores
Sou território em questão
Porto de idas e trocas
Pelo não e pelo sim
Nascente de clareiras
À procura de liberdade
Sou região temperada
Sou extensão das cores
Acompanhante da solidão
Sou zona das livres barcas
Até o meu inevitável fim...

terça-feira, setembro 04, 2007

domingo, setembro 02, 2007

RASCUNHADO

Às vezes um pensamento vem bom,
como sino na brisa.
E o lápis, pronto, e o poema
(versão um).

Outras tantas é o branco do papel que chega
à mente sur ton.
E me sujo a rascunhar pensamentos
(menores versos).

Mas toda origem é filha da labuta.
Seja na avidez com que se traga os dias,
seja pela intenção que ganha a vida.

O irônico da coisa é o tempo
da poesia,
que quando se faz
já é passado
(a limpo).

The Key!

Olá pessoas queridas!

Chegamos ao fim da nossa divertidíssima Semana Divertida.
A minha função hoje aqui é revelar aos senhores quem era quem durante essa semana que passou. Muitos acertaram em cheio! E outros nos proporcionaram grandes risadas. Tentamos nos esconder de qualquer forma e até fingimos ser outras cabeças, alguns casos em vão e outros com bastante sucesso.


Eis a lista tão esperada :D

Adeus, stress! por Múcio o Góes
Avant-Première por Moacir o Caetano
Pois bem por Nanna a Luana
Oxe por Aline a Alhi
Shhh... por Marina a Morena
POSFÁCIO por Leandro o Jardim
Janela Aberta por Jéfferson o Fejones


Parabéns aos palpites certeiros e por todos que somaram nessa semana tão especial.

[]’s

sábado, setembro 01, 2007

Janela aberta


Tá vendo?
A janela de casa
tá aberta!
A essa hora, a porta já não,
é verdade...
Mas agora, isso já não importa,
também...

O que importa
é que a janela tá aberta, homem!

Há uma luz,
há uma brecha,
um caminho...

Por onde eu
posso
fugir...

Ou por onde você
pode
entrar...


ya no soy más yo anymore

quinta-feira, agosto 30, 2007

shhh...

Meu bem, eu não preciso de você pra nada. Sei trocar uma lâmpada e um pneu furado. E do que não sei fazer, eu encontro quem o faça, tá entendendo? Eu tenho peito, meu filho. Tenho peito, tenho bunda e um dia, quem sabe, terei até um pau! Então vê se não enche porque hoje não quero saber de amor. Me traz uma cerveja gelada e deixa eu ver o futebol.

garota tpm

quarta-feira, agosto 29, 2007

oxe

Por incrível que pareça
Nada minimalista sou
Prefiro entrelinhas,
Travessões,
Pontos – virgulas,
Interrogações
E ponto final!

facamolada

terça-feira, agosto 28, 2007

pois bem!
meu teclado veio sem acento,
um tormento na hora de escrever,
e me pergunto: o que fazer?
sentei!
vou esperar essa vida ir,
vou pensar quando for dormir,
e rezar!
quem sabe outro dia,
quando digitar for verdade,
eu perdoe essa saudade
que insiste em seduzir?
quem sabe outrora,
eu consiga partir
e escrever que agora
eu esqueci de fugir?
pois muito bem!

essa que sou outra

segunda-feira, agosto 27, 2007

Avant-Première

Alex
o suicida
quis entrar
no multiplex
da vida
sem ingresso.
Ouçam essa!
Comprou logo
um combo triplo
com pipoca,
chocolate
e duas cocas.
Extra large,
king size,
sem demora!
Já é hora
da sessão!
Mas na porta
Deus lhe disse:
Não!


Green Devil

domingo, agosto 26, 2007

Adeus, stress!

Entrou na sala eram quase nove da noite. Jogou no sofá a surrada pasta de trabalho, o blazer, a gravata de camelô, e toda a raiva do mísero salário que mal lhe cobria as contas. A peregrinação diária buscando clientes para o rol da companhia de seguros estava lhe sugando as forças. Chegava a cada dia mais arrasado em casa. Autômato, cumpriu a rota sala-cozinha-geladeira, cerveja em punho jogou-se na velha poltrona, controle-remoto na mão. Só a coleção de filmes com sua musa lhe fazia esquecer o stress diário.
Só Angelina tinha o poder de fazê-lo desligar, sair do caos, ir ao nirvana... aquela boca... Esqueceu quantas vezes sonhou beijando, mordendo, tocando, olhando aqueles lábios... em “Lara Croft”; em “Garota interrompida”; “Roubando vidas”; loira, morena... aqueles lábios...

Saiu do “transe” quando soou a campainha do velho aparelho telefônico:

“Alô!?” (muito puto)

“Jorjããão, meu velhooo!!!” (eufórico)

“Fala, Pitoco... mas fala rápido que tô ocupado!"

“Tu num sabe o que descobri aqui no Youtube!!!”

“Se tu contar, eu vou descobrir também, né?”

“Linda, perfeita, maravilhosa, brother!”

“Quem, porra!! Fala, logo!!” (mais puto ainda)

“Um vídeo da Angelina, meu velho!! Uhuuuuuu!!!”

“Sua anta, que descoberta, hein??, vou desligar!”

“Nãããão, cara!!, ela está pelada no vídeo, meeeu!!”

“O que???, pelada, pelada??... tipo, sem nada???” (pasmo)

“Claro, né??, Ô dããã!! Peladinha da Silva!"

“Hummm... aparece a boca??”





Oi, pessoal! Começa hoje a “Semana Divertida” aqui no nosso blog! Então, como você agora, o mundo inteiro está se perguntando: “o que seria isto?, semana divertida??”. Pois é, pessoal... eis aqui as cabeças trocadas, misturadas, completamente embaralhadas! Então, querido leitor, quer nos descobrir? Arrisca um palpite? Embarque conosco, sem filas nem atrasos!

Valeu!
el diablo de las letras

sábado, agosto 25, 2007

Presente

Olha só, ganhei um presente!
Umas lágrimas sofridas
e insistentes...
esse nó na garganta,
essa tristeza tanta
e essa saudade infinita!

Ganhei num embrulho caprichado
esse olhar cansado,
essas muitas rugas,
com um quê de prematuras,
e essa ausência de mim em mim.

Não era pra ser assim...

sexta-feira, agosto 24, 2007

ad infinitum

sobre os trilhos enferrujados

caminhei desertos inteiros
atravessei mares intensos

até te encontrar em um campo de trigo
com um girassol nos cabelos

e o silêncio se fez azul

quinta-feira, agosto 23, 2007

Bons e maus

A cidade estremeceu
Bons e maus se punham
no meio da rua
em desespero

O mesmo sentimento tomou conta
de todos
por algum tempo

Durou dois minutos

Passado o susto,
já se podia distinguir claramente...
Deixavam de ser um povo assustado
para serem, novamente
bons e maus

quarta-feira, agosto 22, 2007

Carnaval

eu não quero da corrida
o troféu,
eu não quero da história
o final,
eu não quero do mundo
o céu,
eu não quero do homem
o metal,
eu não quero da sorte
o apogeu...
eu só quero da vida
o carnaval!

terça-feira, agosto 21, 2007

diversão

ver-te azul é ver-te céu,
ver-te séria, coisa rara,
de Vênus, divina Odara.
verte o bem
em ver-te assim,
no sem fim, tão mulher.
diverte-se quem te vê,
venha do vórtice que vier.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Perda

A poesia perdeu-se
Em folhas amassadas
Em papel rabiscado
Em restos de cigarros.

Nesse enfadonho
Fado não lusitano
Os dias passam
E as folhas caem.

Vou ao encontro
Do que nunca perdi
E ao desencontro
Do que havia de vir.

A poesia perdeu-se de mim.

domingo, agosto 19, 2007

ARBÍTRIO

1. Alternativa

o caminhar
alguns passos mais
o chão
viu o buraco
a penas
depois
soube-se
levantar
o caminhar

2. Alternativa

soube-se levantar
o caminhar não
impedido pelo aviso
antes
pela paternimaturidade
o que havia do lado
de lá não
soube-se
(estrofe mais curta)

3. Conclusão

E ainda há quem pondere sobre alternativas já testadas.

sábado, agosto 18, 2007

Mari

Essa é a Mari Barras, a.k.a. Marizuda.
Uma menina mágica que conheci nos blogs e fotologs da vida, ainda menina (embora eu ache que ela não concordaria com isso à época! rs)...
Uma rara sensibilidade, talento às pampas, beleza transbordante e um certo ar etéreo e inebriante.
Adjetivos não faltam. Mas como uma vez um professor me disse que os adjetivos devem ser usados com parcimônia, deixo as palavras falarem por si próprias:

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Das coisas todas - E tantas outras

Das coisas todas, a mais triste que vi foi teu rosto sem nome. A agonia era tanta que pensei em te chamar de Qualquer João. Depois, quis te apelidar, mas nada ficava bom. Ora não combinava com teu queixo, com tuas orelhas, ora não combinava comigo.
E eu queria que combinasse, porque ali, naquele momento, já era tu&eu, uma questão sem título, entretanto, nossa.
Tentei decifrar nas tuas sobrancelhas, nas tuas rugas... Nada, nada! Precisei de te ter com um nome, não havia de ser diferente. E não era para juntar nossas iniciais, escrevê-las em árvores, fazer combinações para nomear nossos filhos. Nada disso. Apenas não pratiquei o desapego, não evoluí, enrolei-me com Plutão, fiquei perdida.
E ainda: tua face triste, triste, sem reação alguma, sem nome.
No instante seguinte, previ teu abrir de boca a desgraçar, com uma só palavra – não tinhas cara de nome composto –, meus ouvidos. Antecipei-me e tapei tua boca. Um lapso, um surto. Achei o nome perfeito pra ti!
“Antônio”, eu disse.
Passaste, então, a ser Antônio para mim, daquele dia até hoje, mesmo que eu nunca mais tenha te visto.
Das novas coisas todas, que se renovam desde aquele dia, a mais bonita que ouvi foi teu nome dito por mim.
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Mais dela:
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Sobre o leite derramado, jogo-me de peito aberto, que erotismo de verdade inclui porra nas tetas.