segunda-feira, dezembro 10, 2007

calada

Se ela se inclina por sobre o corrimão da escada de incêndio

é pra ver as carpas

na fonte do prédio da frente.

Ela não pensa em pular.

Se ela arqueia o corpo pra fora do batente da janela

é para alcançar com os dedos o descoberto,

para saber se chove.

Ela não pensa em pular.

Se ela caminha a passos incertos no degrau do meio-fio,

beirando os automóveis,

é pelo vento no rosto

e para não meter as sandálias nas poças.

Ela não pensa em pular.

Se ela oscila com os dedos dobrados na borda da ponte

é para observar o próprio reflexo ondulante

perpendicular e estendido como uma sombra a cores.

E olha por sobre os ombros se não vem vindo ninguém empurrar.

Ela é calada,

ela não pensa em pular.

3 comentários:

Anônimo disse...

e a multidão lá embaixo, decepcionada, começa a se dispersar...

Leandro Jardim disse...

forte e bonito! Me veio agora na cabeça que você tem material pra bincar de vários pseudônimos... hehe... e isso é um elogio! :P

beiJardins

Carlos Henrique Leiros disse...

Olá...
.
Achei o poema de uma singeleza única, daquela que somente alguns cotidianos, quando olhados de forma profunda e isolada, conseguem ter.
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São gestos simples; são gestos belos.
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Abraço do
Carlos