sábado, setembro 22, 2007

Conto Navegação-Labirinto

moacircaetano & czarina

Capítulo 01

Capítulo 02

Capítulo 03

Epílogo:

4.

O filho da puta do chefe gritava tanto nos meus ouvidos que precisei afastar o bocal da orelha. Não precisava ouvir, sabia o que era. Ele estava furioso porque, além de não permanecer no escritório fazendo hora-extra (não remunerada, claro), saí meia hora antes do horário normal, irritado que estava com ele e com sua esposinha vagabunda. Do barulho distante que flutuava do telefone sem fio pude distinguir as palavras merda, bosta, quem-você-pensa-que-é, abuso, incompetente, todo o rol de pérolas costumeiras do chefe. Até ouvir uma nova, que me fez colar a orelha de volta ao bocal.
Despedido.
Despedido.
Despedido.
O filho da mãe me demitiu por causa de um errinho daqueles. Num último esforço, desbloqueei a garganta para dizer: “Entendo. Passe bem, Dr. César”; e ouvir que ele me achava um merda e nunca mais queria ver minha cara, enquanto sentia mais um ataque de fúria baixando e toldando minha vista. Telefonei para Suzana, simpático, como se tudo estivesse normal. Disse que consegui me livrar do galhudo mais cedo e que já estava a caminho. Ele deveria sair da firma em uns 25 minutos.
Bati com força a porta do carro e enquanto cruzava os dois ou três bairros que me separavam dela eu só conseguia pensar naquele estúpido furúnculo que ela tinha como marido e que se a última coisa que ele queria ver era minha cara, então eu o receberia dentro de sua própria casa, com as duas faces da minha bunda branca indo e vindo entre as pernas daquela piranha, com ela gritando meu nome mais alto que jamais gritará o dele, só para o caso do filho da puta não reconhecer as minhas nádegas.
Corta. Interrompe a cena.
Enquanto meu pau entrava e saia daquele rabo enorme, imagens aleatórias iam e vinham por minha mente. O cabelo engomado do Dr. César, a secretária que me olhava a cada dia com desprezo, o salário que mal dava pro aluguel e pro supermercado, os serões obrigatórios, a borra no café insosso...
Enfiei meu pau ainda com mais força, querendo castigar a putinha por cada um dos meus miseráveis dias. Ela não se importou. Ao contrário, gritou ainda mais. “Enfia, Moura, enfia mais, caralho!”. E ouvi a porta do quarto se abrir atrás de mim. Nesse momento o filme se acelera. E tudo acontece numa velocidade impressionante. Não existem detalhes, apenas borrões. E enquanto uma bala explodia na cabeça de Suzana, minha mão trêmula já disparava dois balaços no cu do Ilustríssimo Dr. César. Ele com certeza não morreria, mas se lembraria de mim pro resto dos seus dias. Cada vez que desse uma cagada.
Depois, tudo o que já se sabe.
Agora, só me restava escolher o destino: Mato Grosso ou Acre?

6 comentários:

mg6es disse...

Ducaralho! Tabelinha perfeita, hein?

bjo nos dois!

J.F. de Souza disse...

P**A QUE P**IU!!!

Fora essa interjeição singela, nada mais tenho a dizer!

V6 SÃO FUEDA!!!

A czarina das quinquilharias disse...

aaah, agora leram, né?
blé :P

Mochi disse...

Animal! Mal posso esperar pela próxima!

dän disse...

adorei o seu jeito de escrever, moacir! parabens, mto bom esse post.

Marina disse...

Muito bom!

Adorei a idéia da navegação-labirinto.

Beijos!