quinta-feira, março 31, 2011

Amor



O amor é um jardim decorado com canteiros de corações partidos onde vivemos nossas incríveis estórias. Aventuras irresponsáveis que ressuscitaremos em nossos travesseiros pelo próximo milhão de noites. Pequenos suicídios emocionais, overdoses de arrebatamento, angústia, orgulho.

(Quando seus lábios encostam-se aos meus, eu penso nela. Mas sempre que ela se aproxima de mim, eu lembro de você.)


Escolhemos a confusão, nos perdemos numa mata de meias-palavras. Lembranças duvidosas, olhares de viés, promessas que jamais poderemos cobrar.

(Você trespassou o coração do meu coração como uma adaga renascentista. Eu preparei este sonho para você, mas você devorou a minha mão.)


O tempo foge e de repente é a vertigem: longe demais para chegar, muito para tentar entender, muito tarde para mergulhar. O lago secou.


(Vem a madrugada e o mundo é um borrão de fracassos úmidos. Eu volto ao conforto da montanha, meu útero freudiano no meio da floresta.)

Então nos recolhemos e aceitamos nosso papel. Somos mártires sacrificados em nome do amor. Sangramos o enredo da nossa estória, a mais triste jamais contada. Cultuamos nossa dor, procuramos a redenção. Como um epitáfio para o sonho destruído, um exorcismo, um grito lancinante.

(Porque todo o amor que sou capaz de roubar, pedir ou emprestar, não basta para aplacar essa dor. O que é o amor? Apenas um prelúdio para a tristeza. Seu objetivo é construir os verdadeiros silêncios)

Trágico é aquele que anda pelas colinas e olha atrás de si o paraíso perdido. Não tem mais nada, não é mais nada. Quer obrigar o mundo a aceitar suas lágrimas, engolir seu silêncio. O mundo tem mais o que fazer. O sol brilha. As flores são belas. O amor é patético.


Nenhum comentário: