sábado, fevereiro 26, 2011

quebre em caso de emergência

Frágil como uma girafa recém nascida

Subindo em pernas que ainda não sabe como funcionam

Escavo caminhos tortos e incompreensíveis

Frágil como uma teia de aranha

Busco apoios tão estáveis quanto uma folha na chuva

A resistência vem com o tempo, ela me disse

O desafio é durar até lá

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

vazio


encontrar lugar onde haja areia suficiente
                para tapar esse abismo
                                no meu peito.

se antes me distraia
                jogando pedrinhas em mim mesma
                                para ouvir aquele eco

agora já não consigo mais.

quinta-feira, fevereiro 24, 2011


Os dias vão passando e nada é bom como antes.

O sol vai e volta e vai de novo, pouco me importa.

Eu penso nas coisas e sei que deveria viver de novo.

Mas é sempre a mesma lembrança, a textura da pele dela.

Uma única imagem perfeita, e o resto é como fumaça.

E eu não quero passar mais um dia, mais nem um minuto longe dela.

E eu sei que todos os dias agora vão ser sempre assim.

Lembrar devia ser bom, está tudo errado.

Como fumaça.




quarta-feira, fevereiro 23, 2011

(Você sabe que é para você)

Isto parecerá com um traço de fraqueza, mas a verdade é que, em se tratando de você, eu sou fraco. Você tem uma patente tão alta na minha vida, pois, afinal, já me ouviu e me falou e me repreendeu tanto que parece estar impossível imaginar que até o final da minha vida -- seja lá quando ela acabe -- tudo será vazio assim. Outras pessoas lerão isto e poderão ficar intrigadas sobre quem é você. Também poderão dizer "por que ela e não eu?", e aí só me resta pedir desculpas, já que eu não conseguiria viver tão oco e ao mesmo tempo mostrando que eu sou um poço de compreensão e disponibilidade. Mas, para sanar as dúvidas, eu esclareço tudo: foi por sua causa que eu escrevo poesias com tanta frequência, é só você é a culpada de eu ser tão monotemático. Se não fosse por você, eu não teria me descabelado em inúmeras bebedeiras, pois às vezes dói tanto que nem o álcool cura, mas posterga. Foi só por você que eu dei tantas voltas por aí mas acabei parando no mesmo lugar, cheio de saudades, histórias para contar, só que, por um capricho seu que eu ainda não entendi, está tudo ainda para ser dito. Eu não deixo seu nome entrar em nenhuma conversa porque você é imaculada demais para ficar em bocas que cheiram a uisque e cigarro. Eu também não tenho religião, mas eu acabo rezando para que o magnetismo (minha força invisível preferida) acabe te fazendo chacoalhar o cérebro e dizer "mas por que nós estamos nessa?". Você está na ignição do meu cérebro logo que acordo. Você está nos passos que eu dou pela rua, porque eu queria que você trombasse comigo saindo de alguma loja. Eu já deixei de esperar qualquer coisa da minha iniciativa própria, tão propriamente covarde, porque agora eu estou jogado no canto da sala e quem passa por mim não consegue nem me olhar. Mas eu não poderia mais passar sem que você soubesse que tudo isso está acontecendo, e você tem cinquenta porcento de parcela. Sua patente na minha vida é alta, então, por favor, façamos algo de uma vez por todas.

(Luiz Guilherme Amaral)

terça-feira, fevereiro 22, 2011

brasilha da fantasia





em brasília
o palácio da alvorada

nunca
vi tanto alvoroço

por nada

domingo, fevereiro 20, 2011

(Para Carol)

É que seu amor tem um tantinho de mar
E não é mar azul (minha cor)
É verdinho esmeralda
Feito pedra preciosa esculpida
(não a toa sua cor preferida).

Seu amor tem um outro tanto de futuro,
De juventude, renovação,
Que eu, um ser nascido velho,
Vou bebendo, me lavando,
Sugando cada gotinha que a noite orvalha
No seu corpo que não falha.

Esse amor, o seu, não gosta de silêncio
Pede música, suspiros, respiração forte e entrecortada.
Forma letras, palavras, juras,
Espanta a mudez para o lado distante
Da felicidade que nos cerca...
Amor que mesmo errando nunca erra.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Confessei para meus botões que tenho um beijo escondido debaixo do meu travesseiro. Contei também que chegaria um dia em que eu escreveria mais poesias por seu corpo do que poderia haver em uma antologia. Meus botões, coitados, nem imaginam do que se trata. É porque eu te cubro com tantas cores e você já não faz mais parte deste universo, como se para te encontrar fosse preciso construir um solário e rezar uma meia dúzia de mantras bonitinhos. Quando imagino que você vai se pendurar no meu pescoço, bato palmas para aquecer as mãos porque eu quero que você ocupe o maior espaço possível. Mas, quando eu também imagino que existe uma pequena distância entre meus sonhos e a realidade que nos é, então eu já começo a me preparar para ficar quieto ouvindo Billy Holiday bem baixinho, pois, se o telefone pode tocar, eu não vou ouvir. Se eu perder um telefonema seu, lá se vão mais páginas e páginas de coisas que eu penso em te dizer mas não consigo, então as anoto na esperança de que haja uma próxima vez. E se você me pergunta que nome damos a isso, eu respondo: nós somos felizes quando estamos juntos.

(Luiz Guilherme Amaral)

terça-feira, fevereiro 15, 2011

[...]




ontem
eu dormi
no meio da estroff

hoje
mudei o tom
acordeon



sábado, fevereiro 12, 2011

reciclado do sabedoria de improviso

e quando não dá para matar direito as saudades

e ela fica lá

- agonizando -

dias?


terça-feira, fevereiro 08, 2011

teatrinho




ah você
faz que olha
que não me vê


finge
que não
se interessa


vou combinar
com o destino
e ainda te prego


uma peça

sábado, fevereiro 05, 2011

Libertei os gênios das garrafas

Porque elas eram retornáveis

Catei moedas em cada fonte

De desejos

Às estrelas não pedi nada

Quebrei a varinha da fada

Passei a tarde a cozinhar uma canja

Com folhas de couve e louro.

Não me serviam de nada

Aqueles ovos

De ouro.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

gosto de você em bariloche

seu corpo agasalhado
na neve

a minha paisagem preferida em
um cartão postal.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011


A cidade vazia, todo mundo vivendo o verão em altitudes distantes.
A lua pendurada no céu como filme saído de um velho projetor.

Silêncio terrível a noite que começa.

Resolvo fazer café para mim mesmo e exagero a quantidade.
Acabo bebendo tudo porque sempre lembro o quanto você odeia desperdícios.
Essa noite imensa, vagando pela casa como menino perdido no supermercado.

Um astronauta poderia ter visto a tristeza em meus olhos, lá do espaço.

Lembre-se de lembrar de mim
em algum lugar do seu passado
flutuando como um beija-flor.

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Eu, que já tanto viajei
sei sempre onde deixo minha saudade.