terça-feira, agosto 31, 2010
Sala de Espera
Juliana gosta de portas abertas.
Ela passa com seu andar apressado
e, com um gracioso movimento de mãos,
desliza o par de portas, solenes.
O sol inunda a sala pelos amplos desvãos.
Outras atendentes passam e
com olhar contrariado
percorrem os trilhos no sentido contrário.
O sol se esconde
e só resta o ar, condicionado, coitado.
Até que venha Juliana nos salvar novamente
e com seus cabelos longos e negros
faça o sol ressurgir de repente.
2.
A mocinha loira piscou o olho.
Não pra mim.
Mocinhas não me piscam mais o olho.
Já estou meio assim assim.
Somente um tique.
Um pouquinho estranho, mas gracioso.
Nada que muito signifique.
Ao celular, ela pisca o olho e sorri.
Provavelmente pra alguém
que ela queria que estivesse aqui.
3.
"Mara Lúcia", a atendente chama.
Levanta-se uma jovem senhora,
levando consigo suas múltiplas plásticas,
seus desejos e seus dramas.
Pode ter quarenta anos ou sessenta.
Nào se sabe, impossível.
Mas é difícil acreditar
que o antes fosse mais risível.
4.
Eu, bicho mais que estranho,
recolho-me ao meu caracol...
rezando por uma rápida espera
pra aproveitar o restinho do dia
e sua cota mínima de sol.
segunda-feira, agosto 30, 2010
Horizonte
e deitou
seu peito nu sobre o meu peito.
Eu, sem jeito,
segurei-lhe as mãos
e dormimos nessa posição.
Ali o mundo se bastava
em um desejo doce
e uma paz inesperada.
sábado, agosto 28, 2010
precisamos falar sobre cláudia
nunca fui do tipo que fala,
a primeira a estender a mão
minha camisa tem o brasão do time dos covardes
mas ultimamente eu a tenho despido
devagarinho
à custa de bom exemplo
de paciência grande, de coragem infinita, de franqueza imensa
de quem sabe botar o coração na reta
fechar os olhos
e ir
sexta-feira, agosto 27, 2010
Nossas mãos seguram a jarra,
nós perdemos o ato
pelo álcool
em excesso.
Eu ainda direi seu nome errado
tentanto improvisar sem sabedoria
é arte viver.
E eu ainda trarei em mim
o desejo de gritar:
EscúchamePORRA!
Escuta o que meu coração na boca
não permite que eu diga.
Eles nos vêem, nos escutam
e fingem que não.
Fingem que somos só uma mesa vazia
e líquido qualquer que evapora sem dono.
Eu quero um cigarro louco
e fumaça nos ares
dançando com o que calo.
Quero cuspir na cara da vida
que tecemos poesia
de silêncio e de graça
no dia a dia.
*
Esse poema foi escrito em 06/02/2007, depois que conheci meus queridos Czá e Fejones. O poema não é bom, mas a noite foi.
quinta-feira, agosto 26, 2010
Quando passei em frente à tua casa, amanhecia.
O céu era vermelho sangue infinito.
Você não parecia estar lá.
Tuas janelas fechadas, cortinas mistérios.
Estive todo o dia caminhando sozinho.
No parque colhi uma flor vermelha.
Não sei muito de flores.
Haviam gotas de chuva em cada pétala.
À tarde descobri estar cansado de saber e ainda assim.
Voltei a passar pela tua casa, o céu sem cores.
Dessa vez até te vi, sombra de movimento num labirinto de luz.
Madrugada, sento eu e a folha branca de papel.
E uma pétala vermelha que não entende nada.
quarta-feira, agosto 25, 2010
pego um coração
levo ao templo de Netuno
e volto com um arpão.
E o carrego por aqui e acolá
até a próxima contravenção.
(Luiz Guilherme Amaral)
terça-feira, agosto 24, 2010
Mágica
em risco
(não em traço)
tiro o sentido do olho
tal qual cisco
tento errar o passo
mas tudo o que eu queria
era ter o dom da magia
dissolver o desespero
em folhas de papel almaço
segunda-feira, agosto 23, 2010
Triste
Eu sou triste, muito triste.
E não há nada que se compare
ao barulho que meu coração faz
quando você segue e eu fico pra trás.
Ficam faltando pedaços inteiros
banhados com seu suor e seu cheiro
perdidos nos vãos vazios da minha imaginação.
e apesar dos meus lamentos
jogados um a um ao vento
você me diz que não, não.
Lembra quando eu te disse?
Eu sou triste, muito triste.
domingo, agosto 22, 2010
Etéreo
ilusões
delírios
desejos
um pedaço d'alma
no papel
a poesia
está pronta
para
voar
e se perder
Pois damos início aos Domingos Profanos do B7C!!!
sábado, agosto 21, 2010
Eu quero ser um animal
formidável e elástico.
Eu quero ser teu brinquedo recém tirado do plástico.
sexta-feira, agosto 20, 2010
quinta-feira, agosto 19, 2010
Já que o vento é bom
Espalho cataventos
Pelo azul do céu
Esperando raiar o dia.
Quem Sabe não fugisses
dos meus caminhos
Se soubesses
Que o que declamo é poesia.
( Alexandre Beanes e eu,
colaboração de junho de 2004 )
quarta-feira, agosto 18, 2010
Quem disse que é preciso um recomeço?
Precisamos mesmo é continuar o que já está
E corrigir o que está errado
Recomeçar é renascer
E eu não tenho mais tempo de ser novamente
Precisamos corrigir, não refazer
Aguentaria as manhãs na terceira série novamente?
Suportaria esquecer o frio na barriga de um primeiro beijo?
(E se tê-lo novamente não for do mesmo jeito da primeira vez?)
Não renasço. Não recomeço. Eu corrijo.
Errar é um presente.
(Luiz Guilherme Amaral)
terça-feira, agosto 17, 2010
segunda-feira, agosto 16, 2010
Saudade
Planta em nossos olhos outros olhos
e em nossas sinapses
outras bocas e mãos e cabelos
e sorrisos...
ah, os sorrisos!
E gruda em nossas narinas uns cheiros,
em nossas bocas uns sabores,
em nossa pele uns toques...
E mesmo uma mulher durona como eu
entende muito de saudades.
De olhares ao longe.
De instantes intermináveis.
Imaginando.
Relembrando.
A saudade é essa coisa engraçada.
Faz com que cada segundo
dure uma eternidade.
E faz com que o tempo não seja nada.
domingo, agosto 15, 2010
to(que)
sábado, agosto 14, 2010
transforma o colorido
em cinza
sexta-feira, agosto 13, 2010
quinta-feira, agosto 12, 2010
Menos mau você não saber de mim agora.Tão confuso e imagine, tão
sozinho. Querendo voltar para casa. Acredite, eu te amo por ter pensado em
mim. Mas é inútil compreender, a multidão RUGE. E eu sei que ela prefere
estar lá também. Voando ao sabor da corrente, dizem que é irresistível. Eu
não consigo deixar de vê-la tão frágil, a minha prometida.
E fico aqui, porque é preciso que o tempo faça o que sabe fazer.
quarta-feira, agosto 11, 2010
Vou aos passos atraído pelo encantamento
Encosto a mão no véu cheio de estrelas
Quero fazer parte desse mundo de beleza
E enterrar de vez todo aquele meu lamento
É digna de salvar da torre do castelo
Lutar contra dragões, ter um final feliz
'O seu destino comigo é traçado', ela diz
Arrebento portas e paredes com meu martelo
E depois de horas tentando heróico resgate
Essa mulher, Senhor, é só disparate!
Teria valido a pena tanto sacrifício?
Mulher, vai-te embora; és uma biscate
Meu coração por outra agora já bate
Ora, porra! Enterre sua cabeça em seu próprio orifício!
(Luiz Guilherme Amaral)
terça-feira, agosto 10, 2010
suposições apoéticas
... bem conjugadas e sem intenção
enquanto aguardo
despretensiosamente
nas minhas linhas mais rentes
ler a marca da tua mão
Parece sem sentido
revirar o dicionário
e rabiscar vocábulos inibidos
que não descrevem o desejo
mais raro que para ti ainda separo
entre os substantivos que vejo
e os verbos que não declaro
segunda-feira, agosto 09, 2010
Frugal
Me acostumo às poucas calorias.
Aos beijos sem açúcar.
Aos abraços diet.
Me contento com os minutos contados.
Com os sorrisos furtivos.
Com telefonemas entrecortados.
Uma vez por semana, banquete.
E no resto dos dias, saudade.
...me alimento do teu pouco amor.
Aos poucos, quase sem vontade.
domingo, agosto 08, 2010
pro lado
Escuto Jazz e penso em você.
É, eu penso em você.
Fica tudo desordenado,
em uma cadência absurdamente perfeita.
Calores coordenados…
Equaciono sentidos.Sorrisos...
Você me faz sorrir.
Então eu olho pro lado e não vejo ninguém.
São os meus olhos que te enxergam,
mas o meu querer não te alcança.
sábado, agosto 07, 2010
peterpanices
tenho 25 anos
toda vez que atravesso a rua
meu pai ainda procura
cegamente
a minha mão
sexta-feira, agosto 06, 2010
quinta-feira, agosto 05, 2010
Nick Drake
quarta-feira, agosto 04, 2010
prontos para mostrar do que são feitos os olhos
Passa uma, passa duas
Shhhh... Shhhhhhhh...
Vai pintando devagar, com calma
Shhhh... Shhhhhhhh...
O som da crina artificial sobre o pano
traçando um caminho que já foi destino
hoje é só um desejo longínquo
Shhhhh... Shhhhhhh...
Puxando velhas e novas tendências
vai demarcando seu território aquarelado
mesclando tintas, misturando sentimentos
nem que fosse três da manhã pararia
Interromper a inspiração?
Menos dolorido estar numa fogueira da Inquisição!
Shhhh... Shhhhhhhh...
Para subitamente para medir as proporções
Com um olho fechado e a língua para fora
E volta
Shhhhh... Shhhhhhh...
Passando a crina artificial sobre o pano
Quem sabe, um dia, numa Bienal?
(Luiz Guilherme Amaral)
terça-feira, agosto 03, 2010
Momento
tudo pode acontecer
- e não é clichê...
Essa noite
tudo pode ser sugerido
pelo som dessa guitarra,
pelo gosto dessa farra,
pelo seu suave gemido,
por tudo que pousava escondido
no desenho dos nossos desejos,
no fundo de nossas fantasias...
Essa noite pode ser de maravilhas!
Essa noite
o álcool pode baixar nossas defesas
servindo-nos de sobremesa.
Nossos corpos podem chegar-se mais um pouco,
estreitando nossas distâncias
e colando-nos um ao outro.
Minhas mãos podem procurar sua cintura,
escorregando pela sua pele,
passeando pela alça da sua calcinha.
E teus olhos fechados podem sugerir
que toda essa alegria seja minha.
Meu olfato pode procurar os seus cabelos.
posso beijar a dobra da sua nuca
e eriçar todos os seus pelos.
Essa noite
você pode pressionar um pouco mais
seus quadris em meu abraço.
E eu, já perdendo pra todo o sempre
meu equilíbrio e minha paz,
te direi que
não me responsabilizo pelo que faço.
Essa noite
podemos nos amar como selvagens
e ainda assim fazermos com que tudo isso
seja lindo.
E só por essa noite
podemos nos esquecer do que existe
e amanhecermos sorrindo...
segunda-feira, agosto 02, 2010
Rondônia
onde todos são reis.
Onde cada um
escreve suas próprias leis.
Onde só existe o mundo do eu
e fodam-se todos vocês.
Vivo numa terra
onde ainda se resolvem
quase todas as coisas à bala.
Onde todos querem viver a vida
mas não têm tempo pra amá-la.
Onde quem cala consente
e quem não mente se cala.
Vivo numa terra estranha
de humildade pouca e raiva tamanha.
Terra de homens-deserto
e mulheres sem poesia por perto.
Vivo numa terra
em que todos se julgam donos.
Estranhamente, uma terra de ninguém.
E é do abandono
que me alimento.
Sempre distante, sempre além.
domingo, agosto 01, 2010
verdade
Asseguro-te que não gostarás de mim.
Tenho formas dispersas, presas e inexatas.
E bem sei que procuras por deleites e curvas.
Desprendi-me de mim já faz tempo…
Não tentes. Não há aqui tuas respostas.
Fomos embora, eu e minhas mentiras.