quarta-feira, julho 13, 2011

da Lubi Prates

E, o fim.

fui-me antes que o início tecesse a si mesmo
você disse e
eu calei que não sabia mudar meu não-estar

e o início já era o fim
como mares
que minhas lágrimas não pingam

os olhos secos
pela poeira do encanto
que liberta-se
do que invadiu
num instante
num piscar de olhos
dos moços anônimos
do tempo
dos seus
que eram meus
e que já não são

e já não são a mesma nota nossas vozes
e não são uma nossas carnes
nossas almas
agora
faltando metade
que é você
e
não sou eu

meu coração
canta adeus porque acabou
eu continuo
e verão
quem não sei e quem não sou
o que
se dá de

mim

inabitada

meu coração
conta a deus que acabou
sem crer
e continua pulsando intenso
enquanto
tento
trans[cre]ver
o fim

o fim imposto
que verso
sem querer
renegando cada linha
que se faz nó na minha mão

sejamos nós atados com a vida que ainda resta
sejamos razoáveis, ao menos

e deixa

a solidão
talvez
já me acostumou
já se acostumou com meu ser só
estado

independência

mas você ainda vai sentar
e esperar o amor que virá
e que não fui eu

meu coração despede-se
despedaça-se
sem sangrar:

adeus amor
meu

*

Para Raimundo Neto

e do que era antes
(apenas
caminhar pela casa
descalça
sacudindo os cabelos)
agora
o nunca
minha voz
rompendo teu silêncio
as palavras
como um rasgo na garganta.

- me salva.

mas, do quê, Lubi?

- da loucura.


*

Ela mesma, a Poesia

é despertar e enxergar além de o ou a
visão audição olfato tato paladar.
entregar-se para o sentir e perceber.
a Poesia é aprofundar-se
e procurar em si palavras
e substitui-las substitui-las substitui-las
perdê-las e insistir em
re e construir até que
perfeitamente.
e cuspir sem silêncio o que
a Poesia.
cuspir sem silêncio
e não implorar ouvintes
mas quando
seduzir e penetrar e abusar
porque a Poesia é
acariciar todo o sofrimento em
não esquecer a obrigação de
unir-versos.

*

Janeiro, 25.

era dia de
amargar com seu cigarro
com o gosto de na sua boca
nada daquele gosto menta
infância pureza e ou castidade
que freia defende
das pastilhas baratas
vendidas pelos garotos no semáforo
Paulista X Augusta
quando não limpam para
brisas ou pedem.
no nosso meio-beijo despedida
o não saber se voltará ou esse verbo
esse mesmo verbo
na primeira pessoa do plural do futuro indicativo.

era dia de
desvendar sem mapas
nossos caminhos espalhados pelo corpo
em todos os anos até agora e aqui
nas inúmeras tatuagens
se fosse calor de quase nudez e suores
os trinta graus e mais
meu olhar bem perto
a pele os poros e pêlos
com calma típica interior
que é meu avesso e não deixa de
enquanto citássemos dizendo billy corgan
suffer my desire for you - suffer my desire
ou qualquer verso que fosse
intensidade a nossa.

e era dia de
a noite cair alaranjando
os olhos da cidade adormecendo lentos
entre os barulhos de poetas ama-dores
na mesa com cervejas e
as buzinas alardeando por outros
nosso admitir não querer e ser detalhes
nos meus gestos significando sempre
sempre um demais mesmo quando estátua
e enquanto caminhássemos apressados para
o salto o nosso e estilhaçar-se
na realidade absurda
tentar prender as últimas ilusões
linha frágil entre os trilhos e a plataforma do
consolação, tentar mas não.

*

Sobre mar de carne e osso

ele contorna meu corpo com o seu
por instantes é mar:
água e sal
- não só os olhos desse azul
                que acinzenta-se quando tempestades
atrás de lentes escuras.
vertigem e me entrego
- sei a impossibilidade
de avessar naturezas conturbadas:
não há margem ou poro desafetado
                                pela penetração
perturbação de língua respiração e pêlos
ávidos por afogar sentimentos
                                barriga dentro e fora
então acredito em qualquer gota antes
como prenúncio de essa inundação
porque toda água nasce e vibra
                                invasão apenas
para após refluxo, a distância.

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