quinta-feira, julho 08, 2010


Oito e meia da noite.

Ela hesitou em ir à loja comprar a garrafa de sidra.

Nervosa, as mãos tremendo. A velha de bobes no cabelo não disse

nada, por certo achou que era para os pais ou tios. O ônibus veio logo,

lá dentro um silêncio de gente cansada. Noite de tantas promessas,

ela não sabia se estava a perceber realmente as coisas.

Meia hora, uma rua e um número.

A casa imensa cheia de gente e música.

Eles a deixaram entrar, sorriram para ela.

E as pessoas que ela pensava que conhecia estavam tão estranhas,

fora de controle. Nenhuma delas era desse jeito na escola.

Sentou-se numa cadeira na varanda, desnorteada.

Por toda parte os ruídos, aromas estranhos, sugestões de loucura.

Passaram-se os minutos (ou horas, ela nunca soube).

Foi quando ele a encontrou.

Ele foi direto até ela, como se seguisse uma deixa.

A conversa inexplicável, plena de meias-idéias.

Levou-a ao jardim, e ela sentiu o perfume da terra e das árvores e viu as chamas irresistíveis que saíam dos olhos dele distorcendo a sombra da lua.

Ela estava encantada.


E passa da meia noite, o último ônibus já partiu. Os pais vão enlouquecer

quando souberem o que ela fez. Ela mesma quase não acredita,

nunca tinha sentido nada parecido. Mas não importa, é como

se não importasse. Na saída, ele ainda diz, num último sorriso:

"Espero que não esqueças de tua primeira festa."


2 comentários:

Nadja Reis disse...

Às vezes a festa se torna demasiado triste para que possa ser chamada de 'festa'.

Nadja Reis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.