Oito e meia da noite.
Ela hesitou em ir à loja comprar a garrafa de sidra.
Nervosa, as mãos tremendo. A velha de bobes no cabelo não disse
nada, por certo achou que era para os pais ou tios. O ônibus veio logo,
lá dentro um silêncio de gente cansada. Noite de tantas promessas,
ela não sabia se estava a perceber realmente as coisas.
Meia hora, uma rua e um número.
A casa imensa cheia de gente e música.
Eles a deixaram entrar, sorriram para ela.
E as pessoas que ela pensava que conhecia estavam tão estranhas,
fora de controle. Nenhuma delas era desse jeito na escola.
Sentou-se numa cadeira na varanda, desnorteada.
Por toda parte os ruídos, aromas estranhos, sugestões de loucura.
Passaram-se os minutos (ou horas, ela nunca soube).
Foi quando ele a encontrou.
Ele foi direto até ela, como se seguisse uma deixa.
A conversa inexplicável, plena de meias-idéias.
Levou-a ao jardim, e ela sentiu o perfume da terra e das árvores e viu as chamas irresistíveis que saíam dos olhos dele distorcendo a sombra da lua.
Ela estava encantada.
E passa da meia noite, o último ônibus já partiu. Os pais vão enlouquecer
quando souberem o que ela fez. Ela mesma quase não acredita,
nunca tinha sentido nada parecido. Mas não importa, é como
se não importasse. Na saída, ele ainda diz, num último sorriso:
"Espero que não esqueças de tua primeira festa."
2 comentários:
Às vezes a festa se torna demasiado triste para que possa ser chamada de 'festa'.
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