quinta-feira, fevereiro 25, 2016

Afundar é um começo - poema de Remo Saraiva

"Remo Saraiva leva sua poesia instigante não só pelos poemas, mas também por sua prosa lírica e pela bela literatura infantil que produz. Não é exagero dizer que é um ourives da palavra, e que sabe unir como ninguém o verso, a graça, o causo, o belo. E pra nossa sorte vocês poderão encontrar tudo isso no excepcional texto de apresentação do Livro de Sete Cabeças com o qual ele nos presenteou."

- Leandro Jardim
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E, assim, seguimos com nosso convidado de hoje, Remo Saraiva


Afundar é um começo

Ela: Nathalie Quintane.

É um nome de poeta.
De poetisa, que seja.
Que se foda — ela escreve!

Volte, s’il vous plaît, ao foco:
ela, Nathalie Quintane.

Tem nada a ver com Quintana.
Ou talvez tenha, é possível.
Talvez tenha com hotel.
É possível. Afogados,
uma possibilidade.
É, sim, possível. Ou não.
Ou não ou não ou anão.
Oquei, isso foi forçado.
Como os hotéis afogados
anões possíveis e vírgulas
talvez esquecidas. Mario
nada tem a ver com isso.

Quintane como cantina,
não Quintana quitanda.
Compreende? Mude só
a língua, a posição dela.
Ou algo assim parecido.

Ei-la: Nathalie Quintane.

A poeta. Não o ator
Ney Latorraca. Porque
gosto de rimas internas
infames como “sei lá,
Sheila, se Shelley tem lã!”

Elle: Natália Cantina.
Sobrinha-neta de Mario
Quitanda comprando frases,
melões, lábios complicados,
nuvens vanguardistas como
algodões-doces e gorros
com filetes de lavanda
em quintanas de hotéis lúdicos,
lúbricos, lúcidos, lúgubres
— volúpias dos violões,
vozes veladas em cruz —,
lúpus em caixinhas bobas
de caleidoscópios russos
(como chiste pra leprosos
precavidos processarem)
em banquinhas francoyankees,
ao lado de tangerinas
e também de bergamotas
e também de mexericas,
à beira da Côte d’Azur.

Musa da minha cantina:
Natalinha, Natalinha.

A poetinha das pernas
cruzadas de Godefroy
de Bouillon e do nariz
bisbilhotado em aguda
perspectiva alternativa.

(alternada vestiria
função mais ativa, mas
não de rima, antirrítmica)

Digressões e adendos são
nada perante Natália,
nata lírica e notória,
diva suprassumo e mór
do canudinho chiado
e do sugar monocórdio.

Elle: Natália Quintane.
Ela: Nathalie Cantina.

Quintana daria, pense
nisso, um belíssimo nome,
de hotel. Ou talvez albergue.

Nathalie Lourenço iria
gostar desses versos tolos,
epifânicos. Um pouco,
parte ou bojo. Ou Caetano.

A boia tem um buraco.

Eu já fui um afogado.

9 comentários:

Leandro Jardim disse...

Que beleza de versos virtuosos!
Grande Remo!

Lubi disse...

uau, adorei!

Remo Saraiva disse...

É um prazer, meu caro Jardineiro!
Abs,
Remo.

Remo Saraiva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mg6es disse...

viajei no teu poema: show!

abs!

J.F. de Souza disse...

Nem preciso dizer nada!
(Inda bem. Pq nem sei o que dizer mesmo...) :P

Nanna disse...

Parceirinho-mais-que-amado, que saudade de vc... Fantastico! :))

moacircaetano disse...

Artesanato.
Bricolagem.
Carpintaria.
Não é uma coisa a (p)arte
essa poesia?

A czarina das quinquilharias disse...

E gostei :)