sábado, fevereiro 28, 2009

Sábado

Sábado não é dia de poesia...
Sábado é dia de sábado,
não de domingo.
Como também não é segunda.
Sábado não é dia de pé na bunda.
Sábado é dia de cerveja.
De mais um lugar à mesa
pra felicidade, não pra tristeza.
Sábado não é dia de escrever, mas de ser
e por isso abdico do direito.
Escrevo na sexta e programo
essa escrita com defeito.
Sábado só amo.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

um segundo de leveza

quero um poema leve
que me leve
feito espuma
um poema pluma
que me leve
para longe
um poema horizonte
que me leve
sobre um rio
um poema arrepio
quero um segundo
de paraíso

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

poema 14



que nada conte
ou denuncie
a minha verdadeira idade

minhas noites em claro
entregues à pôemia
camuflem minha eternidade

os astros do céu
os rastros do chão
nem mesmo o tal carbono

que tudo não passe
de mais um poema
sem dono




quarta-feira, fevereiro 25, 2009

do que é

estranha lucidez
que me domina
e me faz pensar
que mudança
é rotina
e que no fim
tudo acaba
em rima.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Sem distâncias

Tuas mãos me leem
como a cegueira permite
e desconhecem o limite do que veem
Nos teus olhos eu sinto
a cor com o sorriso de um beijo
.... amor que finjo indeciso
No teu colo me deixo
e aí rimamos nosso gozo perfeito
Sobre mim
teu peso
aqui:
(preso)

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

kafka

estou incerto:
é pior ser homem
ou inseto?

domingo, fevereiro 22, 2009

sem sentido*

1.
ninguém vive uma vida
sem sentir
independente do que é
sentido

2.
Quando o mundo para
Quando o coração para
Quando a respiração para

Então
tudo faz sentido

Então
- e só então -
posso
sentir
plenamente

3.
sentido
há tantos
mas não quero
mais nenhum

só quero
sentir
você
por perto

sábado, fevereiro 21, 2009

sexta-feira, fevereiro 20, 2009


águas bentas
lavam
minha lama
de dama
e minha alma
de puta

até a próxima encarnação

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

876


não há milagre
que eu faça
com mais carinho

que esse
de transformar
mágoa em vinho.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

reflexo

em suma
lá dentro
onde só eu enxergo
sou um amontoado
dos mais bagunçados
traças, trapos e ego
[...]
quero ser sorriso
risco em novo papel
asas, rastros e astros
luzes diversas
[...]
em suma
lá dentro
onde só eu enxergo
é tudo espelho
do mais barato
em embalagem de fino trato.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

re-verso

cansada de fazer
poemas
que ninguém lê
hoje vou vestir
minhas rimas
obscenas
e me despir
de você

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

furta-cor

O sonho dormia na fronha
Fazia as vezes
de travesseiro
espreguiçava de madrugada,
travesso e ficava contente
se a fada do dente
tinha deixado dinheiro.

domingo, fevereiro 15, 2009

*

dose forte
cheio pote
envelhecido

tome,
beba

até onde
você
agüenta?

sábado, fevereiro 14, 2009

Mercedes

Mercedes gosta de retas...
Gosta do certo, do correto.
Do caminho mais curto entre dois pontos.
Mercedes gosta de ligar os pontos.
De achar a solução.
Gosta de ter sempre a resposta.
Mercedes não gosta de adivinhações e apostas.
O que o mundo tem de mais claro,
é isso o que Mercedes gosta.

Mas a vida, Mercedes,
é curva.
É curta e ainda assim
cheia de rodopios e revezes.
A vida é imune a teses
e exercícios de racionalização.
A vida diz não
quando deveria dizer sim.
A vida é assim,
sempre fugindo de nossas mãos.

Um dia Mercedes desperta
e olha lá fora a chuva...
Feliz, a descoberta:
toda curva
é feita de infinitas retas!

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

sexta-feira 13

sob a luz da lua
inclino meu pescoço
à espera de teus afiados dentes
que farão meu sangue ferver
então nos devoraremos
ao sugo e al dente

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

nota só

Verbo sonda alimento
Nódoa lembrança passado
Talvez deva ser um resto
Um mero esquecido
Ou sino badalo
És sina...
Um nada guardado
O desconexo existe
Desencontro
Tudo é noite
Acorda insônia brava
Alma lateja
Ausências
Pranto
O choro
Sinto-me dentro
O nada silencia
O sentir habita
Sei
Respiro
Sinto vida
Arde alma nova
Livre em uma nota .
.
.
Querida, Lubi
Obrigada por cuidar das quartas-feiras e nos presentear com os teus adoráveis e únicos escritos.
Queremos você sempre por perto.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Explícita ação poética

As palavras me acordam
excitadas pílulas
querem sair do corpo imóvel
e brilhar num papel aos pedaços...
As sílabas caem das mãos
como lágrimas caladas
escorregam pelos vãos...
Os fonemas expelem os silêncios
que se impõem entre nós
As letras explodem:
vazias
e sós

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

conflito

A mentira tem perna curta
que nem a vara
com que ela cutuca
a verdade
(a onça, não).

A verdade,
crua e nua
com a mão no bolso
e três pedras noutra mão.

E foi um quebra pau
sem bater
bem da cabeça
(-dura)

E tanto bate até que fura

Daí foi preto no branco
unha e carne
(-viva)
e um minuto de silêncio
e de volta à ativa

E a mentira dando o sangue
suor e lágrimas
(-de-crocodilo)
escarrado e cuspido

[uma faca de dois gumes
deixa tudo
sem pé nem cabeça]

Até que acaba o confronto
o dois-mais-dois
lados da moeda
é tiro
e
queda.

e é só isso, my boy:
cuidado com a verdade
(-dói).

domingo, fevereiro 08, 2009

Tanta coisa acontece...

há tanta luz
e tanta cor
que fica tudo desbotado
é tão frenética
há tanta ação
que a gente chega até a parar
há tanta gente
tantos mundos
que até a gente se isola

são paulos, são pedras
e fins de caminho
(mas não são
a mesma canção)

sábado, fevereiro 07, 2009

Briga

Quando o tempo não
é suficiente
pra se ter razão

o jeito é aceitar
a situação
e apelar pra mais turbação

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

badalação

quando você passa
os sinos dobram
e de joelhos abrem
a porta do céu

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

carrego mágoas enormes
nos bolsos do casaco:
esse repetir dores imaginárias
e repetir repetir até acreditar.

sou um viaduto carneosso
não ergo meu corpo do asfalto.
o peso, disfarço
enquanto amarro os sapatos.

*

Substituindo Aline, enquanto for necessário.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

ao leitor

Minha rima
atravessa
inversa
seu poema
concreto
Quando eu verso
e você poeta

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Crianças, abram seus livros na página quatorze.

Estão retiradas as apostas no amor verdadeiro
Nas lembranças com pó de açúcar
Nos rapazotes de quem se espera uma coisa qualquer.
Estão retiradas as apostas no que é doce
No que é frágil e no que é merecido
No que se pode sonhar às escondidas
Estão retiradas as apostas nos cavalos
E nos cavaleiros
Não se aposta nem mesmo que haverá um por de sol.

Estão retiradas as tuas mãos da minha cintura.
Me recordo, a pretexto de desvio de assunto, veneza.
Nunca fui a veneza, jamais irei à veneza.
Crianças, leitura recomendada:
Morte em Veneza.

Estão retiradas as apostas nos futuros brilhantes
E seus carros igualmente brilhantes e voadores
Nos alienígenas bem-intencionados
E suas roupas amarfanhadas de papel alumínio
Estão retiradas as apostas nas grandes promessas
Na subida da bolsa
No 13, preto, quinta coluna
Não aposto sequer nos robôs de latinha.

Com esses olhos enormes. Não aposto sequer que tens a chave de casa.
Adormeci e me levaram o casaco.
Pestes malditas.
Estão retiradas as apostas no descanso esta noite.
é clichê e é também é verdade
isso que se convencionou achar normal, como se nada de mais
Todo dia nos rouba algo e todos os dias morremos um pouco
É o que a gente chama de tempo.

E pronto, fechem seus livros.
Crianças,
Leiam os lábios do universo.

domingo, fevereiro 01, 2009

Ziguezague

Parei de andar em linha reta

Perdi o norte
Não encontro o que procuro

Então ando
zigue
zague
ando

Pra ver se o que eu procuro
esbarra
em
mim