Para: Fernanda (www.animalsentimental.wordpress.com)
Nosso Natal
O menino poema,
anunciado por letras com rastros luminosos,
na manjedoura deitado
feito comida aos animais sentimentais nas estrebarias,
quebra o silêncio.
Nascimento de um ou vários sentimentos
Descrição do processo de criação.
Ação.
Por alimentar a alma é pão.
Por movimentar a cabeça é sino.
Por promover novas sensações é pó.
O menino pó[ema] recebe
reis, rainhas, presentes e letras.
O nascimento de um poema de paz
criando um conjunto de palavras para Fernanda.
Entre tantos ocultos
e poucos amigos
um corpo de coração gigante e poético
palpitando
num ritmo vermelho
como nariz de rena que vive nas regiões frias,
como sangue de carne quente,
como caquis maduros no pé,
fomos sorteadas.
Reação.
A cada inspiração os seios
se fartam coagidos pelas letras
e o espírito natalino.
Por mais que a Fernanda
queira fugir, fingir ou mudar o foco
ainda é presente.
Pó de ouro.
Pó paz.
Pó[ema].
Feliz
feliz
no tal
Natal.
Não vês?!
Sinta-o, por ser um animal sentimental...
De: Fernanda (www.animalsentimental.wordpress.com)
Para: Iara (www.mulhernajanela.blogspot.com)
Lá vai:
Iara, a mulher na janela.
Eis que então me coube a tarefa
de falar da mulher na janela,
que entre a pintura de Dali
e os olhos pairados no horizonte,
está ela,
surreal,
nadando livre nesse mar intenso.
Dizia-se Iara.
Pode a mulher na janela
estar observando o horizonte
e ao mesmo tempo fazer parte dele?
Seria Iara a mulher da janela
ou a mulher do mar?
Ela e a outra,
ambas a mesma.
Ora viva, protagonista altiva
com os cabelos ao vento
e olhar cerrado,
despreocupada de sua existência.
Ora espectadora de sua própria vida,
como outrem que observa
e caça em silêncio a poesia.
Espreitando a vida,
assistindo o mundo em que ela existe
silenciosa e mística
debaixo d’água, atrás da janela.
A mulher que é peixe
e que é poeta.
Só quem pode estar na terra
e no mar
há de ter há de ter tanto causo pra contar,
tanta poesia bonita
pra além d’alma encantar.
Iara, que deu à luz a uma pérola
Iara, que enfeita o cabelo de estrelas a noite
e de dia se fantasia de homo sapiens
para batalha do que não é fantasia.
Iara, que viva,
luta, contempla
e aprende
a ser mulher,
peixe,
mãe,
e poeta.
De: Iara (www.mulhernajanela.blogspot.com)
Para: José Rosa (Zero S/A) (www.bizarrodeslumbre.blogspot.com)
Escreve poesia e prosa, respectivamente nos blogs Bizarro Deslumbre e Breves Histórias. Da sua personalidade meio célere, meio avulsa, meio aquosa, consegui abstrair um cheiro de rosa, um gosto de som.
Inspirada nos bilhetes de entrada para os shows que foram marcantes em sua vida (especialmente nos saudosos anos 80), escrevi esse poeminha.
Eis o meu presente. Espero que goste, José!
de bilhetes
quando abri a gaveta antiga
daquela arca enfeitada
da sala de minha mãe
era de som esculpido
o seu íntimo silvestre
era sereno
era canto
era partícula de encanto
bicicletando a esteira dos anos passadiços
era meu vício
nas açucenas da noite
nas cicatrizes da dança
na ventania das luzes
se eram traças
ou naftalinas
para alheadas retinas cegas
para mim eram adegas
do vinho copuloso
de meus anos mais vividos
uma rosa espinhando
uma lua crescendo
um poema nascido.
Iara Maria Carvalho
* Com carinho, um lindo Natal a todos!