quinta-feira, agosto 31, 2006

Amanhã

Amanhã
queria que esse tempo
mudasse
mas isso não depende de mim
Vai depender das coisas
amanhã

Amanhã
quero que o hoje passe
E vai passar
Mas minha mente não vai
esquecer
do hoje
tão cedo

amanhã

Amanhã
será um novo dia
Mas só será novo
se eu decidir
inovar
amanhã

Amanhã, que será?
Mais um dia apenas...
Um dia como outro qualquer
Um dia que eu não quero
amanhã

Amanhã
Eu não sei o que eu quero
da vida
amanhã
Eu não sei o que esperar
Então, só espero
chegar
amanhã

Amanhã
nã sei como será
Hoje
só quero descansar
Que é pra acordar
e tentar viver melhor
amanhã

quarta-feira, agosto 30, 2006

ser humano
é nunca ter
percebido
que o tempo
de amar é
o efêmero...

terça-feira, agosto 29, 2006

breve analogia entre um poema e outras coisas

Um poema é como um parto,
que parte bem de dentro,
de uma parte escondida
numa entranha contida
no profundo pensamento.

Um poema é como uma ponte,
que a idéia atravessa
do abstrato para o real,
para o bem e pára o mal
em cada linha que versa.

Um poema é como um grito,
um sussurro malogrado,
que num idioma qualquer
fala tudo o que quiser,
mesmo estando calado.

Um poema é como um beijo,
duas bocas que se unem,
língua noutra língua toca,
é a palavra que se troca
um e outro se confundem.

Um poema é como um orgasmo:
a mais química das reações.
Vai-se lendo linha por linha,
até o ponto em que se avizinha
uma explosão de emoções.

Um poema é como um poema.
Em si, por si, para si...
Nasce e morre ao mesmo tempo,
para então voltar a existir
num eterno contentamento.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Lamento

A carne fria
Descansada e pura
Dorme um sono eterno.

Desilusão bandida
Sorrateiramente roubou
O último suspiro poético.

Enquanto dorme
Não sonha
Apenas divaga.

Lembranças eternas
De uma vida
Muda.

Ressuscitando
Dia após dia
Em rimas rubras
De um eterno amor.

domingo, agosto 27, 2006

RUA AUGUSTA

Ah vida ávida
de tantos pormenores.
Maiores do que se adivinha,
menores do que se colore.
Vejo prantos de quem se alinha
e algumas linhas de amores pobres.
Mas prefiro os versos de quem caminha
descendo ruas outrora nobres,
reescrevendo novelas minhas.

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música que recomendo: "Me, Myself and I" na voz de Billie Holiday

sábado, agosto 26, 2006

SUPERMERCADO

5 kg de arroz.
2 kg de feijão.
2 lt. de óleo.
Ih, faltou paixão!

1 pé de alface.
1 pacote de salsa.
Couve-flor, cheiro verde.
Prazer? Tá em falta!

Aspargo, champignon,
caviar e escargot.
Foies gras, chapagne,
felicidade acabou!

Leite, café, pão,
margarina e chá.
Mas pra alegria, seu caixa,
o dinheiro não dá!

Comprei tudo, tudinho,
só me faltou amor.
Mas agora é tarde...
o mercado fechou!

quinta-feira, agosto 24, 2006

Matador de dragões


Cada um tem sua forma de ganhar a vida...
(Alguns, não precisam ganhá-la,
já a tiveram de presente...
Mas esse não é o meu caso!)
Como eu dizia,
cada um tem sua forma de ganhar a vida...
Eu ganho a vida matando dragões.
Mato, em média, um por dia.
Às vezes, levo mais de um dia.
(Aquele que luta e foge
vive pra lutar um outro dia!)

Não, donzela, eu não sou
o cavaleiro-da-armadura-brilhante!
Minha armadura não brilha,
é um tanto fosca...
Eu mesmo a forjei!
Ah, você quer o maldito
cavaleiro-bunda-mole-da-armadura-brilhante?
Pois espere-o até morrer!
Porque ele não virá!
Ele não existe!
Eu, sim, existo!
E vou matar este dragão!

Sou um simples aldeão
tentando garantir meu pão...
Se tenho bom coração?
Acho que não...
Só vim pra matar este dragão!
Lamento, donzela,
mas com você não me importo, não!

quarta-feira, agosto 23, 2006

Avesso

Me vira do avesso com seu cheiro de cor
Emaranhando meus pensamentos de amor
Obedecendo os sentidos, senhor.

Me faz ouvir a sua prece crua
Estremecendo minha carne nua
Oferecendo os desejos, tua.

Me abraça com jeito de céu
Escusando meu lento véu
Ofegando os sorrisos, lua-de-mel.

terça-feira, agosto 22, 2006

bolero de babel

pulou do último andar
do mais alto prédio,


nasceu coragem, m
o
r
r
e
u


t
é
d i o.


segunda-feira, agosto 21, 2006

Justificativa

Do que adiantaria
E o nada valeria
Minhas rimas brancas
E sem estima.

O não valer a pena
De cada dia
Remete-se
À todas as minhas
Frustrações.

Ciente estou
E ao indefinido vou
Em busca
De frases completas.

Rabiscando em borrões
Eu vou...
Em verso
E Prosa
Metaforizando a realidade.

domingo, agosto 20, 2006

JOANINHAS DE COPACABANA

Caras joaninhas da praia de Copacanana,

vocês são tantas
tão lindas
e tão atrapalhadas
as vejo subir e descer seus morrinhos
meio indecisas, meio objetivas
parecem-nos tão fáceis seus intentos
e no entanto viram-se de cabeça-pra-baixo
a todo momento, sem mais nem menos
onde querem chegar, pequeninas?
e haverá vento por lá?
vejo que possuem ágeis asas
mas parece que se esquecem de usar
seria sua sina quedar-se a girar?

Joaninhas de Copacabana,
não lhes digo mentira,
se eu fosse menina,
me chamaria Joana.
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música que recomendo: "Os 'pingo' da chuva" dos Novos Baianos

sábado, agosto 19, 2006

Semáforo

Ainda me lembro
daquele sono sem sonhos,
daquelas noites sem sono,
do meu viver andarilho,
da vida fora dos trilhos.

Ainda me lembro
das madrugadas sem fim,
do meu eu-mesmo sem mim,
do meu sorriso em preto-e-branco,
do meu feroz desencanto.

Ah, ainda me lembro
como se fosse ontem.
Não preciso que me lembrem,
muito menos que me apontem,
cada um dos meus erros...
Eles me assombram
o tempo inteiro.

Por isso vou devagar
e paro em cada esquina,
olho pra todos os lados
e corro ao som de buzina.

Uma pista de cada vez,
paciência
e determinação.
Só não quero ir sozinho...

Vem, me dá sua mão!

quinta-feira, agosto 17, 2006

Ah, hoje tive um dia cheio...


Há um copo cheio de
Vida
bem à minha frente...
...mas eu mesmo não estou com muita sede...

Tomo metade do copo só pra engolir meu calmante e vou dormir.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Espirituosidade Do Universo

A vida é tanto, que se repete...
É a espirituosidade do universo.
É o próprio fundamento.
É todo o acabamento.
E nem se entrega ao sepultamento.

A vida é tanto, que se repete...
É a força que regula.
É o ânimo da ressaca.
É o tempo que nos mede.
Até finge que acaba.

A vida é tanto, que se repete...
É o fogo que não apaga.
É a fonte no meio da praça.
É o nascimento e a desgraça.
Ela começa, permeia e atravessa.

Enfim, a vida é tanto, que sempre se repete...


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Pessoas, desculpem-me por postar antecipadamente...
Amanhã, quarta, viajarei o dia todo e não terei como acessar
a net... Espero que vocês leiam o post anterior ao meu como
se eu não "estivesse aqui", tá bem? :)
Obrigada a todos pela compreensão...
E monte de beijinhos no coração de vocês!!!

terça-feira, agosto 15, 2006

in verso veritas

Todo bêbado traz por dentro
o mesmo ofício de um poeta,
tem sua alma toda, repleta
de uma espécie de tormento.


Cada gota de álcool que entra,
é uma letra da frase que sai.
Nas mãos um tremor ostenta,
palavras o seguem aonde vai.


Todo poeta é um vouyer à espreita,
com sua alma por fora a flutuar.
Sempre em busca da forma perfeita,
noutras almas que vive a espreitar.


Essas almas, que os olhos exploram,
são ricos elementos à sua criação.
E mesmo quando formas extrapolam,
há nelas um rasgo de emoção.


Bêbado, entre letras e garrafas vazias,
tento encontrar o meu caminho.
E quem sabe, não tiro por esses dias,
uns bons versos duma garrafa de vinho.


segunda-feira, agosto 14, 2006

Existência

Há dentro
Do me vasto Eu
Uma flor,
Um canto
E um pranto.

Escrevo
Para escutar
Os ecos
Do meu eterno
Breu.

E nego
Todos os dias
A existência
Desta flor.

Porque em mim
Não há perfume
Só há ardor.

domingo, agosto 13, 2006

CONVERSE

Verse comigo.
Vamos conversar.
Quero falar-te em poesia
e por-me em dia com tua arte.

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musica que recomendo: "Honor and Harmony"da banda G. Love & The Special Sauce

sábado, agosto 12, 2006

ALTO

A extensão do vazio.
O espaço erradio
entre meus olhos e o chão.

O vento frio, frio,
o movimento fugidio
das folhas ao meu redor...
e a vontade imperiosa
de retornar ao pó...

Metade dos pés
pra fora da fachada.
Metade do corpo
e quase toda a alma
à espera da decolagem.

Olho, olho, penso,
e me dou mais um dia.
Recuo, meio sem graça...
Olho a lua que nasce
e o sol que se retira.

Ainda não...
hoje não tive coragem...
Mas um dia esse asfalto
vai tatuar em sua pele
a minha imagem...

quinta-feira, agosto 10, 2006

Argila*

Ó, Senhor
que, do barro,
fizestes os homens
à Vossa imagem e semelhança...
Ó, Senhor
de tantas imagens
e zilhões de semelhanças,
explicação fácil
do destino
de tantos homens
diferentes...

Ó, Senhor...
Faz-me argila!

Quero me moldar novamente
Quero mudar
Quero ser moldado
de outra forma
Não, não quero ser um vaso novo...
Quero ser gente!
Não quero parar nas mãos de um oleiro,
mas nas mãos de um artista!
Ou de algum ser arteiro, que seja

Eu
ou qualquer outro que queira

Mas, nesse mundo
de homens que se confundem
com a Vossa imagem e semelhança, Senhor...
Neste mundo tão podre
e sujo,
ninguém quer sujar as mãos
pra moldar os outros,
pra mudar o mundo...

Em vez disso,
esperam a argila secar...
Só para ficar fácil
de destruí-los...

Bonecos de argila seca
lutam entre si
Guerreiros de terracota
cujo destino é
ficarem soterrados...

No calor dessas batalhas
toda argila do mundo
tem secado mais depressa...

quarta-feira, agosto 09, 2006

Nada É Por Acaso

     A pedrinha do sapato
A calcinha que aperta
A unha que arranha
A cabeça que lateja.

O menino da janela
O cachorro que atravessa
O trovão da tempestade
O aviso da entrada.

A amiga que suspira
A calçada que separa
A corda que arrebenta
A fita que desamarra.

O olhar de negação
O tocar de uma canção
O ardor de uma versão
O amor do coração.

A bandeja que cai
A raiva que esvai
A vagina que contrai
A beleza que atrai.

O cabelo que balança
O caminho que percorre
O fim que se alcança
O desejo que escorre.

A amante do vizinho
A cadeira que amolece
A tinta no finzinho
A vida que anoitece.

O leite com aveia
O passarinho que assobia
O homem que passeia
O remédio que alivia.

A antiga bicicleta
A viagem perfeita
A bebida predileta
A seta que acerta.

O calor da fogueira
O fruto da macieira
O pingar da torneira
O coser da costureira.

A batida que enlouquece
A comida que enfraquece
A menina que esquece
Admiração que envaidece.

O peso do cansaço
O valor do abraço
O frio do aço.
É. Nada é por acaso.

terça-feira, agosto 08, 2006

Líbano blues

       pedra atirada,
guerra por tudo,
terra por cada.
pátrias partidas,
magnânimas magnólias
despetaladas,
romãs caídas,
Roma queimada,
nem Nero
nem Homero,
dar em nada
é tudo o que quero.


matar, quando
deveria ter sido.
quem sabe assim,
hei de conquistar
esse império falido!

segunda-feira, agosto 07, 2006

Enquanto isso
Nada acontece
Só o nada permanece
E tua lembrança não me aquece.

Enquanto isso
Vem na lembrança
O amargo da vingança
E só tenho desesperança.

Enquanto isso
Eu nada durmo
E em tudo escuto
As palavras que não foram ditas.

Enquanto isso
Percebo que
Não tem fim ...
Estamos sós.

domingo, agosto 06, 2006

RIMÉTRICA


Tudo é métrica.
Não simétrica,
mas "rimétrica".
Essa é minha estética.

Nem tétrica,
nem epilética,
às vezes bélica,
às vezes médica.
Essa é minha estética.

Escalafobética?
Não, não quero usar essa palavra esquisita,
não sei o que significa.
Não vale a rima.
Hipnótica?
Queria eu... queria.
Histórica?
Fantasia...

Essa é minha retórica.
do dia.

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música que recomendo: "Mesmo Que Mude" da banda Bidê ou Balde

sábado, agosto 05, 2006

SEIS

Amanhã
em cima do bolo

mais uma vela...
O passado espreita.
O futuro espera.

Amanhã
mais um dos trinta e poucos
me cumprimenta.
Sabor agridoce.
Chocolate e menta.

Amanhã
o amanhã será hoje
e depois ontem.
Se eu não perceber,
por favor, me contem.

Amanhã,
brigadeiro, foto,
abraço e presente.
Dejà vu...
infiniiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitamente!

quinta-feira, agosto 03, 2006

Simples assim

Certas coisas
são assim...
Na verdade,
todas são...
As coisas são
o que elas são!
Não tem porquê!
Não tem razão!
Ou porque sim,
ou porque não!
Apenas são!
Simples assim...

quarta-feira, agosto 02, 2006

De onde vem a saudade
Que ora me invade
Assim
Sem piedade?

De onde vem a saudade
Que ora me esconde
Assim
Sem identidade?

De onde vem a saudade
Que ora me divide
Assim
Sem metade?

Não tem cor, nem idade
Não é mentira, nem verdade
Enfim,
De onde vem essa saudade?

terça-feira, agosto 01, 2006

noite a dois

Acordei com um poema ao meu lado,
a sorrir-me complacente,
assim como sorri quem sente,
um desejo contemplado.


Era um poema, simplesmente,
de estrutura harmoniosa,
e um trejeito atraente,
com cara de quem já foi prosa.


Tinha um calor malogrado
um certo cheiro de puta,
cheiro de quem vai à luta,
e que lutou ao meu lado.


Ficamos ali nos contemplando,
como a lembrarmos de ontem,
num calar eloqüente esperando,
o que os lençóis nos contem.


E no silêncio que fez crescer,
dentro daquela mudez combinada,
saiu-lhe esta frase cansada:
“e aí, foi bom pra você?...”