sábado, setembro 15, 2007

Nenzinha

A incrível arte de (não) consolar as pessoas

Por mim , mas já que vocês não me conhecem me chamo Eloísa .


Já reparou nas coisas que as pessoas falam pra consolar quando você está chorando? Obviamente não , porque você está absorta demais, tão imersa no seu universo de dor que não presta atenção . Ainda bem. Porque se você prestasse atenção teria motivos plausíveis para chorar muito mais. Não questiono a intenção dos amigos , ou familiares... Que naturalmente são nobres; apenas creio que, na maioria das vezes, em momentos difíceis eles perdem uma grande oportunidade de ficar em silêncio.



Num belo dia de sol você acorda sem vontade de cantar uma bela canção, pois seu namorado (tá... seu EX namorado) passou por você de mãos dadas com outra menina. Ou porque aquele cara por quem você é loucamente apaixonada, e move céus e terras, simplesmente não se importa com seus sentimentos. Aí você chora... Chora porque não importa o quanto você se importe, certas pessoas nunca se importarão . Chora porque você sabe que ele teve motivos notáveis pra terminar o relacionamento com você, e por mais que você saiba disso e tenha um enorme carinho e respeito por ele - e até ache que aquela menina pode fazê-lo mais feliz que você - sente falta até dos calos nas mãos dele. Chora porque vê seu mundo desmoronar (de novo) mas dessa vez ele não está lá pra te abraçar, manso como só ele e dizer que tudo bem. Que ele entende, que acontece com todo mundo, e que por mais ruim que pareça vai dar tudo certo, e que mesmo se não der, ele vai estar ali . Você procura exílio, um alívio qualquer tentando conversar com alguém... Huge mistake. Sua mãe diz: Imagina uma menina tão bonita como você! Seu pai fala: Manda esse merda pra puta que pariu. Sua avó aconselha: Vai ocupar a cabeça. E as amigas dizem : Esquece isso ! Ele não te merece, vamos pra balada. Não fica assim. Pára de chorar .
Será que já ocorreu a alguma dessas pessoas que você talvez não se importe (pelo menos naquele exato instante) no quão bonita você é ou não? Será que alguém já pensou que você não acha ele um merda e evidentemente não quer mandá-lo pra lugar nenhum, muito menos pra longe de você? Será que já ocorreu a elas o fato de que você não está com cabeça pra se ocupar , que a questão do merecimento não está de fato em questão e que você não está “assim” porque quer ou deu vontade? Será que algumas delas se lembrou de que chorar é algo inevitável em certas situações, quando não há mais nada a ser feito ?
Aí você levanta , sacode a poeira (mentira , você enfia ela debaixo do tapete), põe um sorriso (que é como uma muda que não criou raiz) no rosto, um scarpin, uma mini saia, sai e ri pra todo mundo , até pra ele se encontrá-lo com a tal garota. Ótimo... Todo mundo te adora , você é cheia de amigos, não sabe qual festa escolher no final de semana .
MAS ninguém sabe que seu travesseiro fica encharcado de lágrimas toda noite. E a impressão de que ninguém quer saber permanece e cresce a cada segundo . Você tenta ser mais sincera com alguém e acaba por escutar que você está sempre down. Sua terapeuta diz que acabou, acabou , e que você deve seguir em frente. Será que alguém já pensou que a gente talvez não fique triste por que quer? Que seguir em frente não é fácil e que a dor de amor pode parecer boba e abstrata mas é bem mais real do que qualquer cólica de rim?
E enfim diante do famigerado discurso: “Você é tão bonita , tão inteligente. Você tem família enquanto tem gente por ai que nem tem o que comer...”
Você compreende que o “cada um por si” é válido mesmo entre amigos e família. E começa a confiar somente no que pode carregar sobre suas próprias pernas até quando elas agüentarem...
Aí você sai, se ri e sorri pra todos com esses olhos. Esses olhos amendoados que alguém um dia tanto amou... e que agora troca olhares com outros olhos. Olhos que mentem dia e noite a dor de cada um.




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A Eloisa é a minha querida vagalumezinha... Menina-fantasia, dona de milhares de fogos e luzes... Dona de asas que insistem em voar, mesmo quando o mundo diz que não. E a única mulher nesse mundo que me deu uma flor (ainda que ventos tenham levado embora... a flor, não a Eloísa... rs...)

Ela escreve (embora tenha escrito menos... rs...) coisas que fazem cócegas em meu coração, e que me fazem voltar a um tempo onde tudo era fácil e belo... Menina inesperada e bela!

4 comentários:

Anônimo disse...

Moacir, eu já tinha achado lindo o texto da Eloisa, mesmo porque eu sou uma chorona convicta.. rsrs choro mesmo até em comercal de pasta de dentes. Aí vc escreve esta coisa tão bonita sobre ela, que ficou perfeito.

Adorei. Parabéns aos dois.
E Eloisa, escreva mais.

mg6es disse...

já vi desse filme, e, é incrível como se repete, mudando apenas os atores.

nos momentos difíceis, um abraço em silêncio cai muito bem.


vlw!

[]´s

Carlos Henrique Leiros disse...

Eloisa é dona de um belo texto, instigante mesmo, diante do qual - entendo eu agora que o li - tem-se a vontade de importar-lhe as argumentações todas e sair sustentando-as, para que façam eco!
De tudo que li, guardo o poder do silêncio! É sábio silenciar, por vezes.
Abraços meus ao Moacir, pela oportunidade de uma ótima leitura, e à Nanna e ao Jefferson, pela calorosa acolhida a este poeta noviço.
Carlos

J.F. de Souza disse...

Eu conheço essa daí! =)

Já prestigio os escritos de Eloisa faz um tempo... (Mas fazia um tepo que não lia nada dela...)

Esse escrito despertou vozes dentro de mim... Mas... Prefiro calá-las por agora e tentar dormir! Fica pra próxima!

Bjão, Nenzinha!
E 1[] pra meu caríssimo Moacir! Que bom que vc estendeu o convite a essa moça que eu adoro! Excelente escolha!

Fui!