domingo, agosto 31, 2008

Pés

Vontade de caligrafar o infinito, ouvir a melodia dos teus olhos piscando... Vontade de deixar assim meus pés de mulher em cima da mesa branca, numa eterna preguiça em que os loucos vivem de amor. Esse quadro magnífico que te dou (fotografia); tua mulher, pés frescos já descansados por não precisarem correr, te buscar... Um quadro que pisca e aquece, coberto pela lembrança, por tua roupa macia que roça minha pele num momento de ninfa... Vontade de enrolar meu corpo por essas pautas, gozar nas letras para que te ficasse escrito um orgasmo... Criar nossa literatura particular, enigmas em que o doce e obscceno se mesclam na boca, olhos, ventre, palavra. Palavra que te grita e, nesse grito, o horror de te perder. Vontade de pés tão gelados que, se no inferno fossem te buscar, derretiam: um caminho líquido, córrego de rastro morto. Vida onde antes de você?

(Lindsey Rocha)

Na minha estréia nesta já consagrada "Semana de Convidados", trago LINDSEY ROCHA que tem em sua narrativa tanta poesia! Conheci os textos dessa curitibana quando ganhei seu livro: NERVURAS DO SILÊNCIO, de onde extraí essa verdadeira obra-prima que é "PÉS". Sua habilidade incomum em construir delicadas e contundentes imagens leva o leitor a ensurdecer com o seu atormentador silêncio! Vale a pena ler um pouco mais da prosa poética dessa moça em http://nervuras.blogspot.com

sábado, agosto 30, 2008

Dor de Cotovelo

Não há remédio
pro meu ódio.
Então ligo o rádio.

Que horror!
Mais uma canção de amor!

sexta-feira, agosto 29, 2008

revolto

preciso do caos
da desordem dos sentimentos
de um soco no estômago
seguido de um beijo
um lamber de feridas
para amaciar a dor
preciso da confusão
de ser o que for

quinta-feira, agosto 28, 2008

pane in circus

eu quero
é que o circo
pegue fogo,

para o povo
comer
pão assado.

quarta-feira, agosto 27, 2008

talvez

um dia talvez eu me despeça
talvez um dia eu resolva
(de uma vez por todas)
que minhas máscaras perderam a graça
que minhas fantasias perderam a cor
e que estive estancada
sendo voyeur de mim mesma
repleta de não
e fingindo amor.

terça-feira, agosto 26, 2008

Imitação da Vida

Se a Arte imita a Vida
Então...
O que a limita?
O que ela imita?
Não...
Não pode ser a Vida!
Não com tanta
limitação
Nessa Vida
há tantas barreiras
Obstáculos
Fronteiras
Demarcações
de território
- Cuidado aonde pisa...
A Arte não se importa
com essas limitações
A Arte se faz notória por isso, aliás...
Ora...
Se a Arte imita a Vida
Quero saber: qual Vida?
A Vida de quem ela imita?
Ora...
Se a Arte não se limita
ela imita
a Vida dos que não se importam
com essas formas de contenção!
Ela imita
a Vida dos que são
Não!
Dos que se fazem
maiores
e mais fortes
do que toda essa convenção!
Se a Arte imita a Vida
Se a Arte não se limita
ela imita
a Vida daqueles que vivem!
A Vida do Artista!
Pois o Artista é que dá Vida à Arte!
Pois o Artista é que vive da Arte!
Pois o Artista é que vive a Arte!
Pois o Artista é a Arte!
A Arte imita o Artista
Que testa os limites
Que não se limita
Pois a Arte imita a Vida
Mas a Vida que não se limita
Arte com limitação
não passa de uma
Imitação da Vida

segunda-feira, agosto 25, 2008

temporal

O tempo não passa
nada que aconteça
nada que se faça
O tempo não passa
E permanece
Em um mesmo instante impreciso
Um rastro de riso
Que não se apaga
O tempo não passa
O tempo passeia
Nas horas vagas

domingo, agosto 24, 2008

fetiche

Como a seda
Que cobre
Minha estrofe
Tua língua acesa
Se aninha
− precoce −
Em meu poema
E em segredo
Minha rima
escarlate
se abre
Sob os pêlos
Que a renda
ornamenta

sábado, agosto 23, 2008

Momento

Súbito,
o oásis estava diante de mim.
Ela era riacho,
água pura, cristalina.
E eu era todo sede.
Infinita, infinda sede.

Debrucei-me, porém não bebi.
Fiquei ali, parado,
entre o paraíso e o inferno,
entre aquela boca e o abismo.

Fiquei ali, parado,
prolongando o prazer do momento.

******************************************
Algo em torno de 1989.
Não foi o primeiro poema que escrevi.
Mas foi o primeiro com, digamos, alguma substância.
O primeiro a apresentar características da minha poesia de hoje.
O ritmo, principalmente.
Apesar de me parecer hoje inocente, bobinho, foi o poema que me fez pensar que poderia realmente um dia brincar de fazer poesia.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Cinzas

I

Um traço de sangue

Entre os dedos
Separa minha dor
Dos teus medos

Um risco de luz
Entre os desejos
Separa teu silêncio
Dos meus devaneios

Cinzas de amor
E a vida abrasa


II

A paixão desmedida
O encontro de bocas
A alma lavada
O desejo bravio

Só o tempo acalma
As cinzas do fogo
e da dor
Isto que chamam
de amor


III

Meu corpo queima
Apetece de vontade
Tateia tua ausência
Nesta noite cinza


~~~

este poema é de fevereiro de 2006 e não sei explicar bem o porquê dele ser marcante. coisas do amor, sabe?

quinta-feira, agosto 21, 2008

porta-retrátil

Hoje faz ontem em mim.
caem do teto
gotas de lembranças.
abro a gaveta,
vejo em slides: dias de Brasília,
numa tardia primavera...
ouço Capital, Legião...
bato a “poeira
escondida pelos cantos...”,
dobro cartas re-lidas,
sinto, saudades em dobro
de vidas a granel.
rostos, vozes antigas,
idas num vento frio...
em copas,
fecho a gaveta,
e nos olhos meus,
noventa e um parece ontem.


este poema é um divisor de mágoas. marcante pelo que representa, retrato de um momento em minha vida que traçou caminhos para sempre.


quarta-feira, agosto 20, 2008

em minha noite


Meus versos amanhecem
Enquanto durmo
Deleitam-se ao meu lado
Brincam com meus cabelos
E me fazem quase acordar.

Amanheço em manjedoura
Lírica de verso e prosa
Banho-me no deleite poético
Alimento-me de rima e pranto.

Não sou vespertina
O pôr-do-sol assusta-me
Com seus crepúsculos
Contenho-me e chego a lagrimar.
Renasço ao anoitecer.

Sou noturna
Me visto de lua e a noite me basta.
Sussurros e delírios me acompanham
Devassa é a madrugada
E por dentro fervo e me desfaço.

Permito-me anoitecer todos os dias.
A noite é minha morada.


.
.
caros,
esta é minha contribuição para semana poema marcante
difícil foi escolher um poema dentre tantos que marcaram tanto
estes, particularmente, são noturnos.
é isto.

terça-feira, agosto 19, 2008

Narcisista*

Seus olhos são espelhos d'água
Um lago
límpido
claro...
Por um instante
me vi refletido nele...
Quis nadar
Mergulhar de cabeça
Invadir teu íntimo
Me buscar
Me perder
nas profundezas
de tua alma...
Mas meu reflexo se desfez
O espelho se quebrou
Seus olhos gélidos
Lago congelado
Me trouxeram uma imagem
Uma miragem
Ilusão
inalcançável...
- Eu não estou em você!
Mas eu me perdi
em teus olhos
Preciso me encontrar
Amor...


Este é um dos melhores poemas que consegui escrever, sem dúvida! Mas, dentre todos, "Narcisista" é o meu preferido! Por diversos motivos! Mas um, em especial...

Este poema tem uma história peculiar: foi a primeira tentativa minha em escrever algo que falasse de amor -- ou que, pelo menos, usasse a palavra "amor"...

E não é que ficou bonito, o bendito?

O que acham?

segunda-feira, agosto 18, 2008

farrah falsett

Me dá um pouco de paz, eu te dou um pouco do meu desassossego
Nasci de uma mãe com mancha castanha no olho verde e esquerdo
E é por isso
Eu sou habitada por um cardume de criaturas cegas
Que comem morcegos

E é por isso que eu tenho tantos nomes
E nenhum deles é meu.

Cuidado com o nome que chama,

Você pode trazer os demônios à baila
E me diga
Você já
Dançou com o demônio
À luz do luar*
?

Porque às vezes eu sou ciano
E às vezes, cianureto
E às vezes eu sou pinóquio
E às vezes, gepeto

Porque às vezes eu sou nuvem de inverno e às vezes
eu sou o demônio de mãos pequenas
e caninos vermelhos.

Cuidado com o nome pelo qual me chama
Não convide os monstros pra montar
Cidades de lego


Porquê às vezes eu sou bambuzal
e às vezes,
sou prego.

E Cuidado com o modo que me chama

porque

Enquanto Samantha canta

Enquanto Eduarda guarda

Enquanto Sônia sonha,

Clara pára
Rita grita
Emma toma.

--
bom, esse poema é de abril do ano passado e, bom, acho que dá pra ver que ele bem...meu.
rima, absurdez, humor, mau-humor...*tem até frase roubada do filme velho do bátima.
tá tudo aí.
e depois eu gosta dele. e pronto.
fim. bêjo.

domingo, agosto 17, 2008

Braile

Tenho em relevo, na pele,

os sinais e apelos

à espera das tuas digitais

para lê-los



POEMAS MARCANTES

Esta semana, neste blog, desfilarão os poemas que marcaram a vida destas cabeças!

Cada um postará aquele poema guardado com carinho no repertório... o poema que, seja lá por que for, é considerado o "mais mais"!



No meu caso, "BRAILE" é o poema abre-alas... É que foi com este poema, feito para Múcio como convidada na (Primeira) Semana de Convidados deste blog, que consegui criar "coragem" e mostrar minha escrita para pessoas que não frequentavam a "blogosfera"!

Este poema é um divisor de águas (adoro clichês!!) na minha correnteza poética!

Quem?

Olá, queridos!
Chegamos ao fim da nossa II Semana Divertida! Espero que todos tenham se divertido tanto quanto nós!

Aqui estão as revelações:

Lo(u)cação por Mary
Proposta por Moacir
lamento por Aline
Antídoto por Múcio
ringue et tone por Czarina
Contra o frio por Jefferson
jardim da infâmia por Sandra


Parabéns aos que acertaram (e aos que erraram também!) e a todos que somaram nessa semana tão especial. :-)

Valeu!


sábado, agosto 16, 2008

jardim da infâmia

me diz
que ficou feliz
com o poema
que eu fiz
no seu
quadro-de-giz
e rimando
com amor
você
apaga-dor
mas se
Lápis eu for
você
Aponta-dor

Alfabetizador

sexta-feira, agosto 15, 2008

Contra o frio

Não gosto nada desses tempos
cinzas e frios

Me conte uma história
onde faça calor
e que tenha também cor

Uma história
que me faça esquecer a dor

Pode ser uma história de amor

Que pareça vivaz
por mais fugaz
que venha a ser

Que seja leve brisa,
linda vista,
folha solta
a flutuar

Uma história
que me levante,
me faça voar

Me conte uma história
que eu possa lembrar,
que eu possa sentir,
que me faça sonhar

Para que eu possa adormecer com um sorriso no rosto
e de corpo e alma aquecidos

Deixe esse vento frio lá fora
Me conte mais uma vez
a nossa história


lará lerê lirismo

quinta-feira, agosto 14, 2008

ringue et tone

Fico sentado no escuro
O dia todo dentre muros
Esperando que saia do meu bolso
Um sinal
Eu aguardo e mal respiro
Se morrer, não foi de tiro
Foi ansiedade fulminante
Ou excesso de calmante
Que eu pus no meu Nescau
Pode haver uma chance
Na qual me agarro, luta e rinha
Esse aparelho vai dar linha
Todo túnel tem final


o temível telemóvel

quarta-feira, agosto 13, 2008

Antídoto

Guardo as minhas contas
por vencer
em páginas aleatórias
de um livro de poesia.

No dia do vencimento,
leio o poema,
e vou ao banco
feliz da vida.


Talvez o mesmo (a)

terça-feira, agosto 12, 2008

lamento

eu te observo do lado de dentro
de onde nunca saí
e de onde nos encontramos todos os dias
as vezes fecho os olhos
mas é para te esperar
e nem sempre vens
e não somos nada e além
do que foto e grafia
cifra e melodia
esperar-te é meu lamento.


pedra sabão

segunda-feira, agosto 11, 2008

Proposta

Ensino direitinho
o que você quiser.
Te ensino a ser meu homem,
te ensino a ser mulher.
Te ensino a ser anjo,
te ensino a ser demônio.
Te peço paciência,
te peço em matrimônio.
te faço um monte de poesia,
te chamo de minha princesinha,
te faço de gato e sapato,
te faço meu sonho, meu macho.

Só não me entenda mal:
depois de tudo isso,
não quero compromisso,
é tudo sexo casual!

HermesFlorDita

domingo, agosto 10, 2008

II Semana Divertida

Respeitável público! Que rufem os tambores! Vai começar nossa II Semana Divertida! Eis aqui as cabeças trocadas, misturadas, completamente embaralhadas! Participem do nosso espetáculo e arrisquem seus palpites!

Divirtam-se!


Lo(u)cação

Você tem que aceitar...
nosso romance acabou!
Chega de drama,
meu amor.
Esse seu falso desespero
é um terror!
Aqui não é ficção,
meu bem,
deixa de chororô!
Vai assistir uma comédia
e não me aluga mais.
É o nosso the end,
me deixa em paz!


mestre sem cerimônias

sábado, agosto 09, 2008

Outono

Meu membro,
duro como concreto,
acariciou, ereto,
tua pele suave em flor.
Urgência e amor.

Tuas raízes me buscaram
e tateando-me, enlaçaram
minha mais profunda fundação.
Despiram-me, deixando-me nu.
Meu pau e meu coração.

Esmaguei-te com meu peso.
Com minha quase falta de jeito.
Com meu corpo cinza e rude.
E penetrei...
o mais fundo que pude.

Tuas pétalas voaram ao vento.
Desfizeram-se em desejo e momento...

Ao longe, o sol nasceu.
A chuva lavou-nos o corpo.
E teu gozo misturou-se ao meu.

quinta-feira, agosto 07, 2008

falação

somente tu
sabes como
me causar relaxos

quando falas
tua língua
nos meus países
baixos


Múcio L Góes


quarta-feira, agosto 06, 2008

blowjob

olha, meu caro
do ofício eu nada entendo
mas obedeço
e desço
deep in side
não, não sou de papo
trabalho calada
conversando é mais caro
boca é ferramenta
e saliva alimento
so
take it easy
vem
faremos à moda
assim, like a beat
I’ll be your drums
one soul in a jazz song
come!
let’s get wet.

terça-feira, agosto 05, 2008

(In)Contidos*

Que o mundo inteiro nos ouça
A cada toque
Cada gemido
A cada movimento
Cada suspirar nosso
Que ouçam!
Nossos corpos falam
Em uníssono:
Mata-nos a sede!
Reproduzem o desejo
Do coração e da alma
Em sincronismo
Evocam o prazer
Todos precisam ouvir isso!
Nossa harmonia é perfeita
É a mais bela sinfonia já composta
Atingimos a perfeição
Quando estamos juntos
Quero mais é que todos saibam:
Somos perfeitos!
Tudo podemos!

E podemos
Em qualquer lugar

segunda-feira, agosto 04, 2008

destarte

Me beija me pesa me esmaga
deixa eu ter
o ainda não tido
Me cala me morde me rasga
eu nem faço caso
do meu vestido
Me acende, me inspira, me traga
a si próprio despido
Me fere, me amansa, me mata
até eu me esvair em sangue
de amor
correspondido*.

---
* sangue de amor correspondido é nome de um livro do manuel puig. roubei, roubei.

domingo, agosto 03, 2008

A quatro mãos

Tuas mãos hábeis
versejam sobre meus desejos
brincam no meio das minhas coxas teus beijos
Tuas mãos de poeta
completam minhas rimas obscenas
e me põem nos seios as conchas do teu poema
Tuas mãos de artesão
dedilham minha estrofe interna
(a poesia se molha com tua invasão)
Tuas mãos diretrizes me levam ao teu verso viril
e minhas mãos felizes acolhem teu lirismo escorregadio

Juntas: tuas mãos e as minhas
(nosso gozo nas entrelinhas)


Queridos amigos, leitores deste Blog,
Esta semana será dedicada ao estilo Sandra Souza. O que quer dizer isso?... Ah.. eu explico:
Sou a integrante mais nova por aqui... e por isso as demais cabeças decidiram me dar as boas-vindas postando poemas, digamos, mais "calientes"! E como isso seria mesmo muito "fácil" para mim, já que eu inauguro a Semana, escolhi um poema-padrão pra dar uma mãozinha aos meus colegas!
Degustem sem moderação!

sábado, agosto 02, 2008

O Escritor

Assassinato de primeiro grau
pra mim é normal.
Mato personagens
como quem mata moscas.
Troco de caráter
como quem troca de roupa.

Invisível, minha mão
desenha um rastro suave
de luto e destruição.

Cada estrofe nasce e fenesce
no ritmo desenfreado
do meu ódio e de tuas preces.

Se esperas por meu lirismo,
viro o mundo de cabeça pra baixo,
e atiro-me, abismo.

Assassinato, meu caro,
pra mim é normal.
Palavras são o meu pão.
E não há nada que me pague
o prazer de embrenhar-me
na selva do teu coração.

sexta-feira, agosto 01, 2008

wildness

não pise no meu jardim
agora planto flores selvagens
e elas podem te engolir