domingo, maio 31, 2009

Fogos de artifício*

Não uso meus poemas
como torpedo ou míssil

Não ouso fazer isso

Meus poemas tem sua força
mas não são letais

Meus poemas não são dirigidos
São desnorteados

Sem alvo definido

Ainda assim, são abrangentes
Atingem a tudo que estiver por perto

Meus poemas são pura pirotecnia
Show de fogos de artifício

Daqueles que se soltam
aos montes
nas festas de fim-de-ano

Artifício que uso
para mandar
minha mensagem
pelos ares

escrito em janeiro de 2007

sábado, maio 30, 2009

Adjetivo

estranho
implícito
trago comigo a dureza dos que conseguiram tudo por si próprio
mas também a doçura apaixonada
dos que não conseguem viver sem as pessoas ao seu redor

impaciente
estúpido
irascível

terno
feliz
sensível

permeável
a tudo que seja sorriso e abraço
a tudo que seja carinho e confusão

volátil
volúvel
nem eu mesmo sei o que se esconde deep inside
meu caminho é o vácuo e quem me dita e distrai
são a brisa e as canções e o sol
e algumas palavras guardadas em meu bolso

e vivo, sem esperar por reembolso

sexta-feira, maio 29, 2009

Licença Poética

De tanto esperar por ela,
Do caminho do açude
À trilha do roseiral,
Rabisquei um poeminha
Singelo sem pretensão,
Com uma rima bem normal.
Ela chegou toda formosa,
Nos olhos poesia e prosa,
E meu rabisco já foi lendo,
Os olhos dágua se enchendo,
Foi aquela emoção...
E assim, tranquila e calma,
Sem fazer nem alarido,
Desabotoou o vestido
E mostrou-me o coração!
Tudo ia muito bem,
Até ela reler o poema
Refeita da emoção,
Pra ver que troquei por Jurema,
Seu nome de criação,
Logo quem, Elizabeth...
Ganhei uns quatro tabefes
E de troco um carreirão!
Diacho de mulher sem ética,
Sem um pingo de noção
Pra sacar licença poética
Em nome duma paixão!

quinta-feira, maio 28, 2009

começar de novo


se
é verdade
que a vida
começa aos quarenta
voltem
os mais velhos
e me contem
por onde
deve pisar
o calcanhar daquele
que nasceu
ontem


terça-feira, maio 26, 2009

palavras...

Que mais que bela
seja ela: a palavra-festa
abstrata na ação
que ainda resta
Que seja mais doce
como se adjetivo fosse
Que seja entre a cerveja e o porre
o gosto que escorre

Que seja a palavra
EXPLOSÃO
Sem pressa e vice-versa
A contramão.

segunda-feira, maio 25, 2009

Janeiro, 25

era dia de
amargar com seu cigarro
com o gosto de na sua boca
nada daquele gosto menta
infância pureza e ou castidade
que freia defende
das pastilhas baratas
vendidas pelos garotos no semáforo
Paulista X Augusta
quando não limpam pára
-brisas ou pedem
no nosso meio-beijo despedida
o não saber se voltará ou esse verbo
esse mesmo verbo
na primeira pessoa do plural do futuro indicativo.

era dia de
desvendar sem mapas
nossos caminhos espalhados pelo corpo
em todos os anos até agora e aqui
nas inúmeras tatuagens
se fosse calor de quase nudez e suores
os trinta graus e mais
meu olhar bem perto
a pele os poros e pelos
com calma típica interior
que é meu avesso e não deixa de
enquanto citássemos dizendo billy corgan
suffer my desire for you - suffer my desire
ou qualquer verso que fosse
intensidade a nossa.

e era dia de
a noite cair alaranjando
os olhos da cidade adormecendo lentos
entre os barulhos de poetas ama-dores
na mesa com cervejas e
as buzinas alardeando por outros
nosso admitir não querer e ser detalhes
nos meus gestos significando sempre
sempre um demais mesmo quando estátua
e enquanto caminhássemos apressados para
o salto o nosso e estilhaçar-se
na realidade absurda
tentar prender as últimas ilusões
linha frágil entre os trilhos e a plataforma do
consolação, tentar mas não.

***

Cobrindo as férias da Czá.

domingo, maio 24, 2009

sábado, maio 23, 2009

Francis Bean

Você ainda não sabe,
mas a realidade
é um sonho indefinível.

Você ainda não sabe
como o mundo se abre
de um jeito imprevisível.

Você nem me conheceu direito,
você acha que o mundo é perfeito
do alto dos seus poucos anos...

Você não sabe a dor que me vai no peito,
você nem me conheceu direito...

Você ainda não sabe,
mas às vezes o meu destino arde
e viver é difícil demais.

E às vezes fico até tarde
pensando em sua tão pouca idade
e me lembrando dos meus próprios pais.

Você nem me conheceu direito,
você acha que o mundo é perfeito
do alto dos seus poucos anos...

Você não sabe a dor que me vai no peito,
você nem me conheceu direito...

Quando o mundo diz sim
e tudo diz não,
o fim pode ser a solução.

sexta-feira, maio 22, 2009

Premera veis!

Todo engenho, fazenda,

Tem um altar, um oratório,

Uma igreja, ou capela,

Como queiram os senhores.

E foi ali, atrás daquela,

No Engenho Santa Fé,

Que me acabei deitado, e de pé

Nos braços suados de Dolores.

E vou lhes contar agora

Que por um triz não me lasquei,

Pois foi por conta de vovô

Que a minha barra limpou.

Queria o pai da moça,

Casar nós dois à força,

E ai quase me caguei!

Que diacho,

Casar por conta de um cabaço,

Vocês nem imaginam o percalço

E a fogueira que eu pulei.

quinta-feira, maio 21, 2009

anti-dopping

diz
que a lança
no lenço
deixa
o verbo mais propenso
o captar
da poesia
mais intenso

eu
como sou careta
dispenso
papel e caneta

faço poesia quando
penso

quarta-feira, maio 20, 2009

3D

o poeta tirou de si
parte por parte
à procura do verso
que outrora in
foi risco certo
mero exato
e no fim
tornou-se póstumo
esquecido e sempre assim
mera arte
guardada ainda
em olhos que fotografam
cheiros e letras
registros feitos
nas lágrimas escondidas
de um coração 3D

terça-feira, maio 19, 2009

rotina

Tenho gastado os dias
Sem poesia nos olhos
Sem rima no lápis
Sem muita emoção

Tenho contado as horas recentes
dedilhando as lembranças dos teus dedos
emaranhados em meus pelos:
Imagens dos sonhos acomodados
Em frequentes pesadelos

segunda-feira, maio 18, 2009

entre diástoles

e quando a mente espanca
quando nada estanca
quando o carro arranca
vira a esquina e não volta

quem nunca sentiu a alma solta,
mole que nem dente de leite?

quem nunca tentou
tapar
ferida exposta
com bandeide?

domingo, maio 17, 2009

Abandono do lar

fica a casa
abandonada

fiz de ti
minha morada

mas você foi
embora

agora,
estou


eu
e mais
nada

sábado, maio 16, 2009

Embromação

Venho através desta
tentar me recuperar
ver se sai algo que presta
pois já fazem uns dias
que não me sai poesia
e a tal inspiração
não me dá a mão

Tento umas rimas prontas
dessas que a gente tem no colete
mas que macete
tudo me parece sem ritmo
sem cadência
sem um cisco de inteligência
e me parece mesmo melhor ficar quieto
poesia deserto

tento ler um pouco de Drummond
um doping do bom
mas até mesmo o mestre
me desce meio quadrado
nem ele me salva, coitado

cato palavras ao vento
e tento colar uma a outra
troco de rimas como quem troca de roupa
enfileiro todas como num dominó
mas o resultado
é de dar dó

então escrevo esse tratado
totalmente sem noção
sobre a minha falta de imaginação
e torço com um sorriso meio de lado
que me ache meio engraçado
algum leitor mais desavisado
e me despeço, meio constrangido
prometendo algum dia
restituir-lhe o prejuízo.

sexta-feira, maio 15, 2009

Identidade

Venho de qualquer canto do nordeste,

Terra de cabra da peste!

Venho da lira dos cordéis,

Da vadiagem nos bordéis;

Trago impregnado n´alma

O odor das putas,

O cheiro das mulheres astutas

Na arte de foder;

O cheiro das meninas de engenho,

Brejeiras, matutas,

Que nunca viram de perto um avião,

Mas que se tornam mestras

Quando com um pau na mão.

Trago nos olhos, o verde infinito da cana,

Que vira aguardente no alambique;

Na ponta da lingua,

Trago minha poesia de pau a pique.

Venho de longe, e não sou monge,

Não tenho sequer religião;

Perdoem-me o palavreado,

É que sou mesmo folgado,

Mas tenho um bom coração.



Sou Pedra pelo gosto de voar sem asas. Fanático por vidraças, cabeças, cabaças. Recebi honrado, o convite da Mary, poeta, amiga, conterrânea, e paixão não correspondida, para passar com vocês, Poetas astutos, uns dias. Baita responsa, prazer maior. Espero não desapontá-los. Gracias, muchas!

quinta-feira, maio 14, 2009

guerra santa



quem
dera um exército
de
soldadinhos de chumbo
um
pelotão
uma tropa
para mudar o mundo
ou
apenas
caneta e papel
para
um poema-processo
algo que
me permita invadir
teu
universo

quarta-feira, maio 13, 2009

tome tino

para com esse lero-lero
de vem cá, que nem te quero,
corra muitas milhas,
até voe, se preciso for,
vá da Conchinchina ao Equador
tome tino
e me tire de vez
dessa tua morte vida,
Severino.
avec Galego.

segunda-feira, maio 11, 2009

(ho)menàge

De Gustavo eu gostava
De Luiz, nem sei o que fiz
Enfrentei o inferno por Fernando
Quebrei minha armadura por Armando
E nem quero me lembrar
Onde se meteu o Mathias
Só me resta agora
Esta Fábiofobia

domingo, maio 10, 2009

Lar

para minha mãe, Dolovira


Pra mim,
não há lugar
como debaixo da tua asa,
ó mãe,
minha
casa.

É que eu peguei gosto por
voar...

sábado, maio 09, 2009

Selva

Pássaros
formigas e folhas
artigos e abacate
conselhos e contratos

espelhos
pés que correm, mãos
que tocam outras mãos
pregos
cravados em dorsos
estacas nos olhos
espinhos no chão

estanho
outono e algo
de sonho e sinto
teu rude esgar

e por mais que me toque sua sublime remissão
não consigo mais que esboçar um forçado sorriso
e cumprimentar-te, com olhos de iguana.

quinta-feira, maio 07, 2009

estalos


quem
já quebrou
um osso
do dedinho
ou
do pescoço
conhece bem
o tom da dor
sabe
de cor
a sua cor
quem
já quebrou
os ossos
do oficio
sabe bem
o que é viver
de ócio
e isso

terça-feira, maio 05, 2009

estilo

Os desejos transbordam...
mas as palavras
não conseguem descrever
sensações imediatas
inéditas e inusitadas.
Há um fervilhar
desgastado
na razão contemplativa
e no seu completo argumento:
um complemento
ilimitado...
Há uma dislexia
imperativo de poesia
e os versos se espremem
entre os toques habilidosos
e a falta de conectivos libidinosos

segunda-feira, maio 04, 2009

panacéia

Eles a usavam de bálsamo
para feridas antigas
ou para estancar as urgentes
porque ela tinha uma luz quente
infravermelha
daquelas que fazem parar de doer

Eles a passavam pra frente
pra sempre
como um cachimbo
que defumasse paz

Servia pra doenças do corpo,
coração e tal.
eles a usavam como panacéia
sentimental.
Ela vinha e pronto; tudo bem.
Eles às vezes esqueciam
que ela também era alguém.

domingo, maio 03, 2009

choveu



choveu

na pele
da pedra
deve ter até um furo
de tanto que
choveu

e o passaredo
se escondeu
sob suas casas...
e as mães
recolheram
as crianças
debaixo
de suas asas...
esperando,
esperando
tudo
isso
passar

só que, grasadeus,
a chuva cessa,
a lágrima seca
e o sol, finalmente,
se mete nesse céu
trazendo paz

e faz
todo esse aguaceiro
fugaz

sábado, maio 02, 2009

Estação

Entrei no ônibus...
Não havia pressa!
Era lenta, mas definitiva,
minha via expressa.

Me sentei.
Ainda havia uma cadeira vazia.
Estava quente,
ainda que fosse noite.
Estava escuro,
ainda que fosse dia.

Não havia condutor.
Ninguém me cobrava a passagem.
Era apenas mais uma viagem diária
àquele lugar chamado saudade.