domingo, dezembro 17, 2006

O QUE É BONITO? (II)

para Oswaldo Carvalho

Qual é a beleza da dor? Ela a tem?
E a plasticidade, de Dalí a Picasso,
resumiria-se tudo a cor e espaço?
Pode ser bonita uma idéia? Qual é seu poder
quando velha? e quando eterna?
Onde mais há o belo? Em melodias,
orquestras, modinhas ou óperas?
Em ornamentos simples ou parnasianos castelos?
À noite, aurora, pôr-do-sol, meio-dia?
É tijolo ou é prédio?

Sendo ou não música para os olhos,
estaria na capacidade de tocar?
Pessoas, almas, quais, muitas, todas,
ou apenas uma outra?

Onde há o sublime, caro amigo, na amizade,
no amor sincero, no gozo efêmero?
Ou no infinito das contradições?

Estética está onde? É coisa estática?
Em expansão, eterna, constante ou não?
Estaria na pureza de uma verdade
ou na fragilidade de seu contexto?
Seria a beleza ela própria um idéia
ou uma antítese à razão?

Pode ela estar num rosto, num jeito,
num corpo, num gosto ou num coração ao peito?
Pode ser brega e erudito?
É metáfora ou deve prescindir prefixos?
Ou será algo de uma espiral metalinguagem
que não se pode saber, apenas sentir?

Pode "a thing of beauty" ter justificativa?
Ou isso a tiraria de sua essência?
Ou isso atiraria de sua essência?
É possível falar sobre o que é bonito,
chorar sobre beleza, desuniversalizar seu extra-
terreno conceito (se é que me permite
tal expressão no referido contexto)?

Teria, então, a ver com sentimentos?
Voltemos a eles: tristeza, alegria,
medo, desejo, êxtase, supresa?
Ou estaria se falando de sensações indefesas?

O que é bonito se compartimenta? Cabe mais
à métrica, à rima ou à "filosofopoesia"?
Implícita ou explícita?
Pode ela subverter todos os nossos dicionários?
Ou deve? E quanto a regras, ideologias,
escolas de pensamento, teorias,
é aí que se a encontraria?
Ou mandemos isso tudo às latrinas?

Então beleza é o dom para enfeite (se o acreditas
jamais conte a uma mulher)?

É coisa de dentro ou de fora,
de ver e sentir ou de fazer pensar, expandir
O que é bonito separa-se, é classificável?
É mesmo preciso perguntar sobre isso?

6 comentários:

Marcellinha disse...

E já tá tudo respondido!
Bjs

Anônimo disse...

...de toda a discussão, o que mais me interessa é o último verso...
não acho que seja preciso!
abraços, gardener!

Luana disse...

A beleza está contida em tudo o que você escreve, dear...

Um beijo.
:)

Anônimo disse...

Que belo! Adorei! :)

bjuss

mg6es disse...

o belo está na predisposição de quem olha, em defini-lo como tal. Legal parar um pouco diante de um poema instigante.


Grand Jardin!

[]´s

Carol M. disse...

Lê, continuando nosso papo de segunda na varanda do buteco, mando aí um poema do Glauco Mattoso que dialoga bem com o que conversávamos sobre o papel da estética, da métrica, da rima, enfim, das tecnicidades da poética nos dias de hoje.
O que seria a poesia contemporânea então? O que é o belo? Bom, isso é papo pra outra hora. E comento teu poema depois, com calma, se me permitir.

Beijinhos meus,
Carol


SONETO SINTÉTICO

De como a poesia é definida
depende da trajetória do poeta.
Qual é, pergunto, a fórmula secreta
que traça em poucas linhas uma vida?
Segundo Rilke, a lira não duvida.
mas Eliot é turrão, e tudo objeta.
Bashô quanto mais crê menos se aquieta.
Pessoa diz que é fé na dor fingida.
Divergem tantos mestres só no tom.
Não há por que dar tratos ao bestunto:
há química no verso, não um Dom.
Qualquer opinião, qualquer assunto
será, verdade ou não, poema bom
se for densa a fração, breve o conjunto.

Glauco Mattoso