segunda-feira, outubro 27, 2008

Eu te amo.

Precisava escrever aquela carta sem molhar o papel. Todos os outros borrões não justificavam mais esse desperdício. Ela precisava dizer que o amava. Escolheu rabiscar. Perdida entre todos os pedaços da sua história, espalhou suas fotos pelo chão. Achou no fundo da gaveta os bilhetes trocados, as pétalas guardadas, mas não era o que queria. Nada daquilo dizia que o amava com a intensidade necessária. Recorreu às salvações, escondeu as mazelas e esqueceu. Lembrou de todas as camas que dividiram quando crianças, dos bichos que fizeram de filhos, das fantasias usadas na rua, das vezes que se disseram namorados e de todas as outras que se ofenderam quando não queriam mais ser. Riu das noites em claro enquanto ele dormia, das experiências feitas com tinta, dos desenhos, das flores que comeram, dos filmes, das descobertas e das vezes que o fez ser pai de suas bonecas. Ela já o tinha salvo de tantos perigos... Pulou janelas pra abrir uma porta, gritou com o mundo para que o deixassem ser seu amigo. Sentiu frio com reecontros. Era sempre a gostosa certeza de que o tempo podia passar, a intimidade da infância tinha apenas amadurecido. Lembrou das risadas escondidas, das noites de sexta vendo televisão, te ter contado todos os seus sgredos pra ele. Chorou pela certeza das tentativas daquele amigo em tentar salvá-la dela mesma. Com ele, não se sentia mais sozinha. Fez de conta não lembrar que seus pais desejavam secretamente aquele casamento. Recordou de todas as festas que tinham ido e dançado a noite inteira. Lembrou até de ter sentido ciúmes. Riu. Ela sangrava com as dores dele e sabia que ele sofria com as dela. Desligou a filmadora. Aquela cena vulnerável, solitária e passional bastava. Aquela cena dizia eu te amo. Embalou a fita sem coragem de enviar. Guardou no alto do armário. Teve a plena certeza de que eram paralelos. Mas ainda iam se encontrar no infinito.


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Sabe aquelas pessoas que a gente conhece e nem suspeita de nada?
Então. A Clarice é a amiga de uma amiga e então, um dia... abriu um blogue.
fui lá e visitei. E não é que a menina escreve? E não é que a menina arrasa?

Mais, ela escreve com a volúpia de quem começou agora e parte da diversão é ver como ela avança e evolui e experimenta a cada texto. O acima, ela escreveu especialmente aqui pro blog de sete.

Clarice, cê me pegou de surpresa. (adooouro o nome do blogue dela. adooouro)

10 comentários:

Sabrina Sanfelice disse...

Parabéns pela escolha. A Clarice não só aspira como já me convenceu de que tem a literatura na alma.

Com o blog de 7 estou ganhando cada vez mais ídolos para minha lista. E eu que achava que o mundo da literatura estava se perdendo...

..acordei de um pesadelo e, agora, estou cercada de sonhos lúcidos.

Béa Pedrosa disse...

Meus olhos seguiram cada palavra e minha mente caminhando junto por essa história que exala literatura.
Adorei!

Rebeca Rocha disse...

muito bom, na verdade, é o estilo de texto que prende e que dá vontade de ler mais. Vou dar uma passada no dela agora, e tô adicionando o teu! ;) beijos!

Yara Souza disse...

Mágica (arte?) é quando se lê algo que faz o mundo parar de repente.

Obrigada por parar o mundo por um instante aqui.

Marina disse...

que lindo!!!

...
Teve a plena certeza de que eram paralelos. Mas ainda iam se encontrar no infinito.


adorei, adorei!

vou lá conhecer o blog! :)

Anônimo disse...

emocionante. emocionante. emocionante.

sem mais.

emocionante.

obrigada, Clarice.

Sandra Regina disse...

Que prosa!!!!!!!!! Lindo texto mocinha!! Obrigada, Czá, por apresentar o talento dessa moça! beijos pras duas... Parabéns!!

J.F. de Souza disse...

Lindo, isso... Me deu um negócio aqui no peito agora...


Adorei poder ler isto!


Bjo pra Clarice! (Maravilhoso escrito!) =*
Bjo pra Czá! (Maravilhosa convidada!) =*

Anônimo disse...

O final é simplesmente sobrebo.
Me fez sentir um gosto de dejà-vu...

Anônimo disse...

emocionante!

cada vez que releio, uma emoção diferente.