domingo, dezembro 31, 2006
REVEILLON (QUE PARA MIM É REVERÃO)
Instantâneo
(Como se para o ano...)
E são tantos anos
Nesse com e sem,
vocês, assins, meios em desequilíbrios
e aguardos...
(É que o aguardo é o que me guarda)
Me aguardem, então,
Vocês verão!
sábado, dezembro 30, 2006
CREPÚSCULO
já se quebraram...
tantas tantas vezes várias!
E até os cacos, até esses
se despedaçaram
em tantas metades arbitrárias...
Algumas partes são pó
e pó apenas...
mas brilham!
Desafiando
a sua estatura pouca
e suas vozes pequenas!
Aliás, são estas
as que brilham mais
pois emergem em fogo e paz!
São plenos de braços e desejos, meus pequeninos cacos!
quinta-feira, dezembro 28, 2006
Me mutilo, me corto
Arranho meu próprio coração
Só pra sentí-lo pulsar mais forte
Eu sangro sozinho
Derramo meu sangue
Na tentativa de ne esvaziar
Me esvair junto
Eu sangro sozinho
Pra sentir seu amargor
Pra sentir dor
Pra me sentir vivo
Porque a vida não me faz sangrar(?)
Eu sangro sozinho
E transformo meu sangue
em tinta
Matéria-prima
para elaborar minhas poesias
Eu sangro sozinho
na esperança de te ver voltar
Mas você não volta
Você nunca vem
Como a maioria, você foge
Sente asco
Só ficam alguns curiosos
que, de repente, acham isso
bonito
Curiosos
que eu aprendi
a amar
do passado. porque
o presente já está
todo grudado em mim!
terça-feira, dezembro 26, 2006
soLar
abro a minha janela
contemplando um céu ardente.
lusco-fusco lucipotente:
eu, você, a meianoite,
e esse sol que não desiste
de fazer verão dentro da gente.
segunda-feira, dezembro 25, 2006
Desabafo
Trovejas em temporais
Nada discretos...
E arrastas tudo pela frente.
Que chovas!
Eu não me importo.
domingo, dezembro 24, 2006
MENINA ADVOGADA,
Teu belo corpo e matreiro
Não se esconde por trás das vestes formais
Teu charme que até cotovelos
Distrai dos esnobes sapatos aos pés
Teu salpicado em ondas cabelo
É ninho tal que não há não querê-lo
Teu passar de sumiço à esquina
Tem dissonância qual música linda
E teu sério dom de mistério
É, meu bem, meu puro despautério
sábado, dezembro 23, 2006
com minhas roupas mal passadas
e minhas noites de vinho
em copo americano.
Já me acostumei comigo
e meus enganos.
Minha dor ao final de cada tarde
já nem incomoda mais...
queimadura que não arde!
A saudade
há tempos não me sufoca
e o teu amor
já não me toca.
Então desiste.
Vai e me deixa quieto.
Me deixa então.
Me deixa triste
e jura que não
se mete entre mim
e a minha solidão...
quinta-feira, dezembro 21, 2006
Poema com (algum) sentimento*
naquele fatídico evento,
uma questão perturbadora
dominou meu pensamento:
Seria esse amor que sinto
apenas coisa de momento?
Será que nun tô confundindo
com algum outro sentimento?
Seja o que for, não é concreto
(Falta cimento)
Como se, assim que soprasse
mais forte o vento,
ele pudesse levar tudo isso
para as brumas do esquecimento
Ah, isso tudo está além
do meu conhecimento...
Pra esse necógio de amor
eu tenho pouco talento...
Não gosto de falar
dessas coisas que mal entendo...
Sinto que te amo
mas não garanto 100%
quarta-feira, dezembro 20, 2006
terça-feira, dezembro 19, 2006
a dor é ser
toda dor
há de fazer alarde.
no meio da noite,
no meio da rua,
numa tarde
sob qualquer lua,
vem a dor nos mostrar
que a carne é fraca,
que a luz é pouca,
e toda tentativa
de fuga é louca.
cedo ou tarde,
toda dor
há de fazer alarde.
e de nada adianta
dar de ombros,
andar em círculos,
deixar os escombros
à mercê do ridículo.
de nada adianta
lá pelas tantas,
lapelas tontas de flor,
esse nó no sapato,
esse nó na garganta,
aquele adeus de amor.
de nada adianta
chegar atrasado,
sair de cena
com o teatro lotado,
fugir pruma ilha,
pequena,
cercada de sonhos
por todos os lados.
de nada adianta
nadar, nadar,
pois, à dor
nada incomoda.
perca o seu medo,
antes que seja cedo,
porque doer,
nunca sai de moda.
segunda-feira, dezembro 18, 2006
Carnaval fora de hora.
Rotina é destaque
Que desfila como
Porta-estandarte
Em todas as manhãs
Do nosso carnaval fora de hora.
Saudade é comissão de frente
Na vida do casal solitário
Que dança o samba sem ritmo
De notas desafinadas.
Cumplicidade é samba enredo
De variadas notas sós
Desafinando o refrão...
E nada mais resta a não ser
A solidão... E um samba
Que não é canção.
E nas manhãs,
Que não são de cinzas,
Queima-se o Judas...
Porque o carnaval é sempre
No bloco do casal sozinho.
domingo, dezembro 17, 2006
O QUE É BONITO? (II)
Qual é a beleza da dor? Ela a tem?
E a plasticidade, de Dalí a Picasso,
resumiria-se tudo a cor e espaço?
Pode ser bonita uma idéia? Qual é seu poder
quando velha? e quando eterna?
Onde mais há o belo? Em melodias,
orquestras, modinhas ou óperas?
Em ornamentos simples ou parnasianos castelos?
À noite, aurora, pôr-do-sol, meio-dia?
É tijolo ou é prédio?
Sendo ou não música para os olhos,
estaria na capacidade de tocar?
Pessoas, almas, quais, muitas, todas,
ou apenas uma outra?
Onde há o sublime, caro amigo, na amizade,
no amor sincero, no gozo efêmero?
Ou no infinito das contradições?
Estética está onde? É coisa estática?
Em expansão, eterna, constante ou não?
Estaria na pureza de uma verdade
ou na fragilidade de seu contexto?
Seria a beleza ela própria um idéia
ou uma antítese à razão?
Pode ela estar num rosto, num jeito,
num corpo, num gosto ou num coração ao peito?
Pode ser brega e erudito?
É metáfora ou deve prescindir prefixos?
Ou será algo de uma espiral metalinguagem
que não se pode saber, apenas sentir?
Pode "a thing of beauty" ter justificativa?
Ou isso a tiraria de sua essência?
Ou isso atiraria de sua essência?
É possível falar sobre o que é bonito,
chorar sobre beleza, desuniversalizar seu extra-
terreno conceito (se é que me permite
tal expressão no referido contexto)?
Teria, então, a ver com sentimentos?
Voltemos a eles: tristeza, alegria,
medo, desejo, êxtase, supresa?
Ou estaria se falando de sensações indefesas?
O que é bonito se compartimenta? Cabe mais
à métrica, à rima ou à "filosofopoesia"?
Implícita ou explícita?
Pode ela subverter todos os nossos dicionários?
Ou deve? E quanto a regras, ideologias,
escolas de pensamento, teorias,
é aí que se a encontraria?
Ou mandemos isso tudo às latrinas?
Então beleza é o dom para enfeite (se o acreditas
jamais conte a uma mulher)?
É coisa de dentro ou de fora,
de ver e sentir ou de fazer pensar, expandir
O que é bonito separa-se, é classificável?
sábado, dezembro 16, 2006
ETERNO RETORNO
uma a uma
uma a uma
uma a uma
até que se fecharam...
agora não doem mais!
Mas...
que saudade do tempo
em que elas não lhe deixavam em paz!
quinta-feira, dezembro 14, 2006
*
deixando us homi pa trais
junto com tudo mais
que não tenha importância
A gente pisa no freio
que é pra não derrapar,
pra não ser pego na curva,
pra não perder tempo
A gente escolhe essa vida
de fugir de nós mesmos
que é pra ver se nos encontramos
num desses cruzamentos
A gente se cruza,
se esbarra, se tromba...
Marcamos um pega
Quem ganha ou quem perde
é o que menos importa
A gente corre
nessa vida
feito doido
Mas é por puro prazer
quarta-feira, dezembro 13, 2006
afiadas do nervosismo,
despedi o estresse,
e matei o desespero.
só me interessa a
previsão do tempo
pra amanhã.
terça-feira, dezembro 12, 2006
segunda-feira, dezembro 11, 2006
Dueto
Calor e fadiga.
Rotina maldita.
Ferida exposta ante a lida,
Lida mal paga.
Fim do dia, vejo marcas.
A noite vem,
Negra, África.
Noite fria, frio que arde;
Senhora implacável.
Solidão domina,
Risca sua superfície.
E permanece.
Deixando apenas...
Calor.
Fadiga.
Rugas.
Estás nua, novamente.
domingo, dezembro 10, 2006
ESPECTROS E EXPECTATIVAS
inspirado num belo texto de e para Mônica Montone
Espectros e expectativas,
sentimentos expectorados,
tossidos pelos passares da vida.
Noites que não existiram se explicam,
assim como acontecimentos intensos cimentam.
Assim como se vale a existência
pelo que nela se expande.
Seja só por sua presença
ou o alto valor da ausência.
Pois que se algo aqui se almeja,
que seja!
sábado, dezembro 09, 2006
POESIA DE NICOTINA (versão integral)
cui - da - do - sa - men - te
as palavras
e depois
em movimentos circulares
com os dedos indicadores e os polegares
as enrolo em um papel.
Faço vários de uma só vez
respeitando cada passo do ritual
escolho o momento ideal
o lugar adequado
de preferência uma poltrona
em uma sala escura
então trago
vagarosamente
em dias agitados
(em que é preciso uma dose
rápida e relaxante)
pico umas palavras pequenas
coloco em um cachimbo
e sem pensar
me entrego ao vício
A melhor parte é ficar olhando a fumaça
é possível identificar a essência de cada palavra
elas saem fortes
e aos poucos
vão se perdendo no espaço
poesia de nicotina
(hábito antigo)
dizem até
que o meu pulmão está doente
mas é um mal necessário
e vou morrer fumando
******************************************************
Sei que vai parecer nepotismo (e é... rs...), mas essa é a Patrícia, a mulher que eu amo, e que deu uma nova dimensão à minha vida.
Mesmo antes de nos conhecermos pessoalmente, já havia me apaixonado pelo seu amor incondicional à poesia.
E, sim, ela escreve bem, apesar de ter sempre uma certa preguicinha de escrever... rs...
Agora ela abandonou a preguicinha e anda numa fase criativa, e seus poemas estão no http://pathcosta.zip.net
quinta-feira, dezembro 07, 2006
...análises, análises... aristóteles maldito!
Nenhum símbolo me comove. – os símbolos abarrotaram este mundo!
Nenhum, nenhum! Símbolo nenhum!
Ah, nenhum!
Nenhum é palavra completa demais para existir,
completa de falta, completa de nada...
É palavra total, totalizante em sua ausência de seres...
ausência de ser, de se saber a si
Além de tudo, é palavra! - como tudo isto que se vê aqui
E, como palavra, também é símbolo!
Nenhum é um símbolo que busca a comoção pelo vazio, pelo negaceio, pela privação...
É estratagema da linguagem para comover o ser,
seja eu, seja você. – a palavra...
Nada, nada!
Não!
Nenhum símbolo me comove, nenhum! Nenhum!
Um dia, em meio a nossos diálogos filosóficos, eu comentei:
- Acho que nunca conseguiria escrever assim... Destrinchar meus sentimentos, idéias e outras coisas no papel, como você faz...
E ela disse:
- Pois eu acho, sinceramente, que conseguiria!
Acho que ainda não consigo... Como ela faz, ainda não... Mas costumo dizer que, se hoje eu escrevo, ela tem muita culpa nisso! Por ter me convencido, um dia, de que eu era capaz de fazê-lo.
Pra Semana de Convidados deste mês, convido Solange Marques! Grande amiga, grande escritora... Muitas idéias doidas e filosofias-de-porra-nenhuma já troquei com esta mulher...
E é ela a culpada! Se hoje eu escrevo, a culpa é dela! =P
Para conhecer mais dos escritos dela, visitem:
http://n-a-d-a.blogspot.com
(Tá meio desatualizado... Mas vale a pena dar uma boa fuçada!)
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=8585
Apreciem, meus caros!
Abraços!
quarta-feira, dezembro 06, 2006
"— É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas."
(Antoine de Saint-Exupéry)
Flor, distraída,
tropeçou na calda de um cometa
e, zonza e um tanto perneta,
numa nuvem de pólen brilhante,
despencou nesse asteróide
— minúsculo planeta.
Como explicar
a um menino príncipe solitário
acidente aéreo assim
interplanetário?
____________________________________________________
Ele é intenso, engraçado, criativo e escreve maravilhosamente bem! O conheço há pouco, mas o suficiente pra tornar-me super fã. O seu nome é Adriano de Oliveira, Drico. Ele escreve no Leite de Letra. Sintam o imenso de prazer de visitá-lo! :)
terça-feira, dezembro 05, 2006
uma balada para dois
Tem tanto ardor dentro desses corpos
E tanto, tanto nesse vezenquando
que vezenquando tudo é encanto.
(Mas o ideal inda tão distante
interrompe
o toque, o gole, o trago, a verve, o canto).
Por ser real
Por estar tão próximo
E por ser possível,
Há de parecer
tosco
pouco
óbvio
(Mesmo, vezenquando, sendo incrível).
Talvez, um dia,
quem sabe a dois
no bar da esquina,
na praia,
na fila do banco,
no trânsito.
Ela com seu ideal,
ele com sua perfeita:
duas pessoas colhidas
para caberem nas suas antigas
e comportadas frases feitas.
Bem poderia dizer que a minha convidada dispensa apresentações, mas, há quem não a conheça, ainda. Ela vem do Rio, e, faz parte daqueles motivos que nominam a cidade de “MARaviLhosA”. Poeta em tempo integral. Escritora fina. A mais pura personificação da alegria que já encontrei nessa vida. Em meia hora descobri que não somos desse tempo, a gente vem de longe, e, nos reencontramos para diluir em versos esse amor de milênios. Minha convidada é minha amiga, minha irmã, minha mãe, e meu amor. Enfim, se Gil a conhecesse cantaria: “o Rio de Janeiro continua Marla...”
Mais em: www.doidademarluquices.blogspot.com
segunda-feira, dezembro 04, 2006
Em /Ens
E vem de Sampa nosso convidado, pilotando sua Quimera Ufana, nos brindar com belos e profundos versos, nosso querido: André Lasak!
Em /Ens
No fundo do escuro
Do poço no fundo
De baixo do fosso
No escuro do fundo
Do fosco no osso
Do esqueleto no esquife
No sexo sem contato
Do corpo no escuro
Do quarto sem luz
No espaço que habita
Do outro espaço que
De escuro não se encontra
No local que caminha
Do qual nada se passa
Do que mais um passo
No vasto espaço no fundo
Do poço é espaço ideal
De cada ser vivente
No espaço adequado
Do que mais existe
Do mais que resiste
No qual cada um sabe
Do que está falando
Do que se quer ouvir
No tempo que se pode
Do mínimo se escutar
Do máximo que se
ENTENDA...
NO MAIS
...........................................................
Para conhecer mais de André visite:
http://www.quimeraufana.blogspot.com/
http://www.uniaohumana.blogspot.com/
http://www.peregrinonline.blogspot.com/
domingo, dezembro 03, 2006
POESIA EM CARNE VIVA
leito de verbos e vinhos,
onde uma alma se banha
na palavra que empenha,
soberana,... arte rainha,
devota paixão tamanha,
é a esperança que se cunha
capaz de mover montanhas.
A poesia é largo esteio...
que mantém firmes os punhos
do homem simples que apanha,
sob o peso da desdenha,
e frente ao terror medonho
dos que estão quase sozinhos,
mas se unem, em rebanhos,
sem renderem-se às barganhas.
A poesia é eterno cio...
em que se fecundam sonhos,
superando,... na artimanha
a maldade que avizinha
os corações feitos de estanho,
cruzando novos caminhos,
desvendando tantas senhas,
por seus férteis testemunhos.
A poesia, então, é isso...
algum gesto de carinho
ofertado a um estranho,
– português, pária ou portenho –,
sem remorso e sem vergonha,
não tendo intenção de ganho,
mas de ser dócil resenha
dessa vida,... tua e minha.
E sendo poesia, é infinda,
sendo bela, é ingênua,
sendo força, é bem-vinda,
e por ser amor,... é carne viva...
André L. Soares
^^^^^^^^^^^^^^^^^^
Caríssimos,
é com muito prazer que, seguindo o meu objetivo de aproximar a poesia blogueira e a orkútica, vos apresento o André L. Soares. Além de um grande poeta de vasta obra facilmente acessível na internet, ele é um verdadeiro agitador da nossa arte no ambiente virtual. Figura marcante em diversas comunidades, com vários perfis, é moderador da "Parceiros... de prosa e poesia", promove concursos, escreve em parceria, debate, possui blog e por aí vai...
Pra quem quiser se aprofundar no trabalho deste "Lobo do Mar" recomendo iniciar por:
comunidade de seus poemas:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=2059973
comunidade de poesia que ele gerencia:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=3371184
sábado, dezembro 02, 2006
TODA
(que beijo...)
que me abriu as pernas
e me enfiou o desejo
(que beijo...)
fresta por entre as grades
por onde me entrevejo
(que beijo...)
Ah, aquelas mãos
(que mãos...)
que me percorreram inteira
com força e tesão
(que mãos...)
que me entrecortaram
a respiração
(que mãos...)
Ah, aquele dia
(que dia...)
que me fez mulher
que me fez vadia
(que dia...)
que me amarrou ao pé
da sua poesia
(que dia...)
e até hoje não sei
se é meia-noite
ou inteiro-dia
(que dia...)
quinta-feira, novembro 30, 2006
Chama de ilusão
que não aquece
nem queima
só chama
só atrai
pela beleza
me atraiu
fui atrás do seu calor
senti frio
ela não me esquentou
ela me enganou
ou será que eu me enganei?
quarta-feira, novembro 29, 2006
as línguas enlaçadas,
distintas e imediatas
são o nosso idioma de
afeto. e o testemunho
de vidas persiste nos
encontros que separam
nossos corpos em voga
cravados pelas dores,
do suor e da lástima.
terça-feira, novembro 28, 2006
in memorian
sofre de amnésia,
museu fechado:
Louvre ultra
passado.
minha lembrança
perdeu a memória,
livro rasgado,
curta metragem
não-rodado.
minha lembrança
sofre de esclerose,
coisa antiga,
cigarra querendo
ser formiga.
minha lembrança
perdeu a vergonha,
a calma da alma,
perdeu a compostura,
você, dentro dela hoje,
não passa de caricatura.
segunda-feira, novembro 27, 2006
(in)verso.
Plantar meu lamento
Para ver brotar
Um choro,
Meu samba e
Teu tormento.
Mas o solo é fértil
Só nascem flores
E doces canções
Então desisto.
Volto ao palco,
Releio os textos,
Refaço os diálogos
E descubro novos personagens...
Escondidos em mim,
Clamando por luz e voz.
Sou rima dispersa
Em solo infértil.
O meu desistir é sempre
Meu persistir é (in)verso.
domingo, novembro 26, 2006
And When The Clouds Go Marching In
olhinhos brandos
que melhor preenchem branco
por versinhos e outros mantos
cobertores preto-e-branco
o sorriso de menina
desmascara czarina
e justifica algumas sinas
é algo assim que fica,
é que sempre ela me ensina:
essa vida... é uma valsinha!
sábado, novembro 25, 2006
ENCONTRO VOCÁLICO
algo se alça
e alva
minh'alma se apaga
abracadabra
Ela
estrela, espera
serelepe
que se revele
o etcetera
Lindo
o destino indo
infinito
enfim incidindo
e ainda florindo
Onde
se esconde fonte
redondo
compondo longo
o horizonte
Ao fundo
Drummond e Raimundo
um blues
ao fundo a luz
e um mundo de azuis
Nau sem fim ou rumo
quinta-feira, novembro 23, 2006
Passou
foi-se
O que será
não sei
O que foi
quero esquecer
O que foi?
Nada, esquece...
Passou!
E o que passou
já não mais sou
O que sou
é o que sobrou
do que eu fui
O resto?
Passou!
quarta-feira, novembro 22, 2006
livrepresa
a liberdade
soa terna e
a baderna teima
em arder no meu
peito [um defeito
dessa época]
porque entendi.
escolha feita é
partida sem esquinas,
uma porta que separa
o mundo cor-de-volta
do elo que jamais se vê.
porque renunciei
ao lar [o mesmo lugar
que desamarrou
os meus laços]
pra tornar-me livrepresa
desse nunca é tão tarde.
terça-feira, novembro 21, 2006
hiatom de azul
vou deixar minha vida
entreaberta, fresta,
tudo por um triz,
e esperar, pra saber,
se você veio a que diz.
segunda-feira, novembro 20, 2006
Manual
E um nariz vermelho
Chamam-me de sonhadora
Mas única coisa que faço
É plantar utopias em meu jardim.
Escuto música francesa
E sou metida a poeta...
Imagino-me em personagens,
Nada convencionais,
E por acaso me perdi...
Em uma estória sem fim.
Durmo com travesseiros
Costurados com nuvens de sorrisos...
Em meus sonhos,
Gotas de algodão doce
Acariciam-me com beijinhos e carinhos.
Quem sabe um dia
Entre pela minha sempre e aberta, porta,
Um nocivo...
Para ao meu lado sentar-se e rir
Das minhas piadas sem graça
E comigo estar, em minha estória sem fim.
domingo, novembro 19, 2006
UM HOMEM
Não há auto-preservação, só doideira.
Não há discriçao, cheira.
O que será desta alma?
O que será deste homem?
Que não anda, cambaleia,
e parece de tudo ter fome.
Sua existência questiona a sociedade e sua existência.
Consciente ou não,
como ele vai no tal jogo,
como ele vem o tempo todo.
Pena,
nojo,
com-paixão,
as reações que dançam.
Culpa,
causa,
solução,
são as reflexões-canção.
E os transeuntes se constrangem,
mas ele parece ter alegria.
Mas ela parece artificial, de pouca duração.
Mas ele está por aí, todo dia.
sábado, novembro 18, 2006
SALADA
quinta-feira, novembro 16, 2006
Sobre as pontes*
deveriam me permitir
sair daqui
As pontes que projetei
não me levam muito além
dos muros que me cercam
Muito menos além
do alcance das asas dos pássaros
As pontes que construí
não estão firmes
e nunca foram terminadas
Não levam a lugar algum
A não ser para o abismo
O mesmo abismo
Novas beiras
para o mesmo abismo
São como trampolins
Trampolins
Quis erguer pontes
Não consegui
E o que tenho são trampolins
Faltou mão-de-obra qualificada
Faltou material
Faltou planejamento adequado
Faltaram parcerias com a iniciativa privada
Faltaram argumentos convincentes para avalizar o projeto
Faltou, também, um pouco de sorte
Além de certo tino
Mas ainda não falta
o sonho
Uma coisa que nunca faltou
e nunca vai faltar
é o sonho
O sonho de me poder
locomover
até outros mundos
E, através dessas pontes
conseguirei
Essas pontes
serão parte
desses mundos
e, principalmente,
parte de mim
Vou continuar
a levantar
minhas pontes
Vou continuar
a buscar
o que me falta
E vou voltar a levantá-las
E as percorrerei todas elas
Em busca do que mais me faltar
E, ainda que não acabem aonde quero,
Elas hão de me fazer chegar
em algum lugar...
quarta-feira, novembro 15, 2006
convite
de afazeres,
os desejos e
as palavras e
as promessas
se confundem,
e a vida que
se esvai aqui
lateja em tão,
vou te dizer
bem agora:
não demora,
sou pra hoje!
terça-feira, novembro 14, 2006
sobre pedra e flor
Poder mais do que posso,
é tudo que quero,
quando não posso.
Poder mais, pra mim,
tanto fez como tanto faz.
A pedra, o poço, a flor,
tudo pode mais que eu.
Ser até não mais poder,
quem me dera fosse doce.
Basta um dia após a noite,
e acabou-se, o que era fosse.
segunda-feira, novembro 13, 2006
Auto-Retrato
domingo, novembro 12, 2006
DESBELEZA
Os livros comprei em livrarias.
Os significados devo ter deixado cair no caminho de casa:
perdi.
A idéia é que esses dois me dariam a dimensão de dois
extremos do que é valorizado na poesia hoje.
E eles me disseram muito:
nada.
(Em se considerando a infinidade de possibilidades
que o vazio proporciona...)
Provavelmente estou sendo injusto.
(Fora duas ou três sacadas que embolsei...)
Mas deve ter sido minha ignorância
a verdadeira causa da desutilidade e desbeleza
das palavras tais.
Ou estaria na outra ponta o defeito?
Vejam como sou problemático:
uso a palavra defeito em poesia.
^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^
hoje vou indicar o bom pagode "Chega" da Mart'nalia
sábado, novembro 11, 2006
PRIMAVERA DE IDÉIAS
Um dia sonhei em metros
Parecia que não haveria fim
Não sabia onde eu acabava
De tão gigante
Não me via por inteiro
Assistia aos fragmentos
Do meu corpo
Sem compreender onde estava
Todo o espaço eu cabia
Cada membro, cada marca
Em meu corpo
Fazia-me sentir vil
Então, ousei escrever velozmente
Sob meu corpo
Inundava-me de letras
Que se juntavam às frases
Começaram a brotar raízes e caules
Colhi flores perfumadas infinitas
Que nasciam de um jardim dentro de mim
*********************************************
Já por duas vezes estive em São Paulo e não tive o prazer de conhecê-la, pois ela estava em cartaz...Mas um dia nosso encontro ainda vai se concretizar, tenho certeza.
Dona de uma pena (quer dizer, de um teclado... rs...) extremamente sensível e conectada ao mundo ao seu redor. Seus olhos contemplam e transformam a realidade nos belos versos que podemos encontrar no Cheiro Verde:
http://cheiroverde.blogspot.com/
quinta-feira, novembro 09, 2006
Lost Smile
por Patricia Alessandra
Quem fala por mim... pulsa por você, não para de bater, apesar de estar fraco,
insiste em te querer, minha cabeça não pensa, meu corpo ignora... finge caminhar,
e daquilo que se chama viver...parece não querer me achar em um momento dificil de explicar,
talvez eu aprenda que ninguém é de ninguém, mas não aprenda o sentido da saudade,
ou talvez encare o fato de vc ser meu sorriso perdido, mas ainda sim meu único e primeiro amor...
e do que vem da minha mente, te digo que meu corpo pede por vc, mais do que imagino
meu coração que era grande, tá pequeno sem você...e mesmo assim insiste em bater,
de tudo que sou, de tudo que quero ser...tem sempre um você no meu querer,
não escrevo por que quero, mas sim porque preciso...às vezes busco te esquecer,
quanto mais eu tento, pior fica...é como fugir de mim mesmo,
escrevo este poema pra por pra fora o que sinto e trazer de volta o que perdi...
você.
A vocês, apresento Patricia Alessandra, grande amiga! Menina meiga, sensível, amante da literatura --como todos nós--, escreve belíssimos poemas --como todos nós! =P
Eis minha convidada especial nesta semana especial! Apreciem este belo escrito! =)
E apreciem os outros escritos dela! Visitem: http://theskypatycazinha.blogspot.com
terça-feira, novembro 07, 2006
BRAILE
Os sinais e apelos
À espera das tuas digitais
Para lê-los
Quando leio Sandra, invariavelmente, formo cenas na mente, e as uno a sons, melodias de doce sensualidade. Ela sabe, e muito bem, fazer o jogo erótico de seus versos ao largo do lugar-comum. Gosto muito de seu estilo, e, por isso, a trouxe aqui pra nossa semana especial. Sandra de Souza vem da Paulicéia, e se faz em versos aqui: http://feitaemversos.zip.net/
segunda-feira, novembro 06, 2006
Tinta
E alma decidida de amante
Pulso o sangue pelos poros,
Caio nas armadilhas dos falsetes
E brilho intenso em fantasias
Sou pedra amolada
Alicate de dentes novos
Apertando o mundo
Reacendendo a flor
Recriando o instante
Da dúvida e do céu
Sou fácil e decidido
Enquanto suspiro palavras,
Corto frases e rimas,
Trucido as heroínas,
Sacolejo pelas esquinas
Dos versos solfejados
Sou fera no mundo dos homens
Milagre esperando dúvida
Pintando no muro da vida
Acordes de uma Berlim Austral
Sim, sou Fera e Amante
Em tons de cinza, brilho
No crepúsculo do Planalto
Entre os anjos de concreto
E carne...
............
Queridos amigos!
Hj vos apresento o queridíssimo Poeta Matemático.
Para brindá-lo deixo palavras de Faraday enquanto ele, o poeta, nos brinda com Tinta.
Faraday.
domingo, novembro 05, 2006
Eh! Lua...
e mesmo em face de ausências,
partes camufladas em sombras,
ora e outra completamente exposta
vira resposta pra quem a encontra!
A Lua sugere que sejamos íntegros
e mesmo em face de desavenças,
partes contorcidas nas sombras,
ora e outra completamente amenas
outras respostas estarão prontas!
A lua ainda sugere
- antes de ir embora -
que brilho tem
quem tem certeza da hora
e que não demora,
ela vem.
A Lua dá certeza que volta!
O tempo é que pode não estar
...................................como convém...
Marisa Francisco
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quinta-feira, novembro 02, 2006
Faxina
sapatos, meias, roupas sujas, sacolas
e papéis
Contas, várias contas
Contas pagas e a pagar
E também alguns rabiscos
Desenhos de idéias loucas
Esboços que só eu entendo
Rascunhos de um paraíso só meu
perdido em meio a toda bagunça
que há lá fora
e que eu trago praqui dentro
Sonhos
de um colorido que se esvai
na realidade cinza
Cartas escritas a ninguém
que na verdade é alguém
que nunca as lerá
pois nunca as enviarei
Gritos sufocados em tempo
de matar a vontade de gritar
e de não se fazer ouvir
Honestidade que sucumbe
perante a Hipocrisia
A verdade
escondida na sujeira
que vai pra baixo do tapete
Fico jogado em meu colchão
num canto do chão
do meu quarto
vendo a sujeira se amontoar
por cima de mim
Me sinto sujo e não me limpo
Preguiçoso que sou
Vivo num mundo cheio
de preguiçosos
sujos
hipócritas
- Ninguém vai vir limpar isso aqui, não?
Acho que tá na hora de fazer uma faxina
quarta-feira, novembro 01, 2006
ser tão convincente
a ponto de desgelar
os arrependimentos,
distrair banalidades.
mas o vento-esperto
não deixa eu dormir
e sonhar-você de novo]
terça-feira, outubro 31, 2006
ronda pela noite de um sonho
um agosto de sonho
na boca
eu bocejando
que coisa louca
teu nome flutuando
entre as paredes brancas
do meu quarto minguante
nessa segunda silente
de minha febre terçã
acordei hoje cedo
e viena me espreita
pela veneziana quebrada
de um trem pela noite
madrigais em madri
barcelona amsterdã
esse mistral insistente
um pouco de tudo
nesse orient express
dentro da gente
e era tudo tão bacana
havia um céu um mar
era sol copacabana
Marla Clauky Leandro
minas montanhas gerais
um clube uma esquina
sete pedras um só Pedro
menina natal Marina
cada Estrela seu lugar
e se nao me iludo
um lindo dia lá flora
pra combinar com isso tudo
segunda-feira, outubro 30, 2006
Reflexo
Sou comum
domingo, outubro 29, 2006
ONDE ANDA A POESIA?
do eu-pássaro que não mais pia
desse sol que não me dia
da tal musa que já não via
e dessa rima que de mim não sai?
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A música? "Mil Perdões" do Chico Buarque a letra é muito boa, não consigo parar de ouvir...
sábado, outubro 28, 2006
Olhares que se traem
Milhares de hipotenusas
pelos ares
Sorrisos (des)percebidos
Sorrisos secretos
Um rio do teu sorriso
Cachoeira, meu afeto
A ausência cronometrada
prazo de validade
tua essência tornando-se
minha metade
Agora não tem mais volta
point of no return
no escape
Perspectiva sem ponto de fuga
(fuga? pra que fuga?)
novas músicas
num velho videotape...
quinta-feira, outubro 26, 2006
Subentenda-me*
Ouça o que eu quero dizer
Em tom sublime
Frases subliminares
Intenções segundas
Terceiras
Diversas
Múltiplas...
Leia!
Está escrito
em minha testa
Talhado com canivete...
Leia meus lábios
mudos
e surdos
Interprete meus sinais
Leia minha mente
criptografada
Hieróglifos
Decifra-me
(ou devoro-te)
Descobre-me
(e conquista-me)
Desvenda-me
Abra os olhos
desse pobre falso cego...
Abra teus olhos
E olhe em meus olhos
Me olhe na cara!
(Qualquer uma das duas!)
Não ouça o que estou dizendo
Ouça o que eu quero dizer
Subentenda-me
quarta-feira, outubro 25, 2006
terça-feira, outubro 24, 2006
algo mar
algo em mim quer algo mais
algo algum que seja capaz
de me levar mais além
asa folha vento leve
um dia um beijo um ano
algo que diz euteamo
um susto quando se atreve
um euteamo também
algo em mim quer algo
mais capaz que o próprio além
segunda-feira, outubro 23, 2006
Meta-amor-fase
Ornado em berço metafórico
O meu amor por ti.
E embalado em sinestesias
Banhado em alegorias
Nutrido de metonímias
Cresceu forte e saudável.
Perpetuou-se em versos
Embalou noites em rimas
Aqueceu almas latentes
Em um sentimento enlouquente.
Pra perder-se iluminado
Silente nas entrelinhas
Um travessão desajeitante.
.......
Uma bela parceria. Mais dele do que minha. Uma parte minha nele. Uma parte dele em mim.
domingo, outubro 22, 2006
O COQUE
expele uma caneta tinteiro
não há alfinete mais belo
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Esse poeminha é dedicado a uma inspiradora Carol
portanto vou deixar como recomendação
a música "Carolina" de um tal de Chico Buarque
sábado, outubro 21, 2006
PRIMAVERA
acabei de colher!
Me dá esse prazer...
Essa aqui, olha só,
azulzinha, azulzinha!
Reflete o azul em si
e em céu se torna,
andorinha...
Essa outra, amarela
é quente, tagarela,
traz os raios do sol com ela.
A vermelha eu guardei
pra te dizer que te amo...
pra não ter engano!
Uma verde, quase folha,
pousa em tuas mãos
numa preguicinha à-toa.
Algumas têm espinhos, outras não...
Umas silvestres, outras jardim.
Cada uma delas veio nem sei de onde
e germinou em mim.
Plantei, reguei, colhi
e agora são suas...
colorem meus olhos e tuas ruas...
quinta-feira, outubro 19, 2006
às custas
de muitas
lágrimas
eu possa
derreter
essa enorme
nevasca
que se fez
dentro de mim,
enferrujou
minhas vontades,
soterrou
os meus caminhos
e gelou
meu coração...
ao menos, ainda há calor em mim
para gerar lágrimas
quarta-feira, outubro 18, 2006
sou bem capaz
de arremessar
meus versos,
rasgar
meus escritos,
inundar
meus dizeres...
[o capricho
aprisiona-me
quando acordo!]
terça-feira, outubro 17, 2006
por atraso
mais certo
quando tem de dar
errado
o erro, este
nunca chega atrasado
ser pontual, meu amor
só por acaso
por isso, sigo devagar
na minha pressa
vivendo essa vida troça
atraso do erro,
meu amor,
não me interessa
esse mundo
onde tudo dá certo
a quem interessar possa
segunda-feira, outubro 16, 2006
Trajetória
Alicerçados em pedras-palavras.
Frases, orações e períodos completos,
Formataram sonhos e viraram versos.
E andei... Andei como quem nada quer.
Até encontrar no meio do caminho
Motivos que me fizeram voltar.
E voltei... Voltei como quem busca voltar.
A trajetória quase finda
De mão única perdida
Não mais me deixava sonhar.
Então percebi que
Devagar devia escrever
E divagando voltei
E reescrevendo novamente
Perdi-me.
domingo, outubro 15, 2006
O QUE SERÁ?
Enchendo a barriga e as vistas
Continua o vazio
Passo meus passos como posso
Sopro vento e levanto vela
Mas não se escuta o uivo
Espelho olhares em papéis
E meus pés escassos de espaços
É, eu sofro mistérios
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Múscia que recomendo: "Nada Pra Colher No Jardim" do Paulinho Moska
sábado, outubro 14, 2006
BATALHA
Enquanto ela escorre pelas frestas dos teus dedos
eu a colho
a como
a bebo
em pedaços
em goles
inteira
Primeiro a alma
tão tênue
tão plena
de sonhos
de declarações não ditas
de poesias não escritas
e da tua ausência
Depois as mãos
os cabelos
os olhos e tudo
o que esquecestes
de beijar
de tocar
de despertar novamente
Então a boca e os braços e as costas
as pernas justapostas
que tão porcamente adentras
que tão rude golpeias
e ao fim abandonas
ainda secas e sedentas
E assim invado
o que antes teus domínios
e saqueio, e pilho, e mato
cada um dos teus resquícios
até que reste apenas o gozo
o meu e o dela
a saliva
o suor
os dois corpos
o meu e o dela
satisfeitos
esgotados
dormindo sob teus escombros.
quinta-feira, outubro 12, 2006
A peça que falta*
quase
todo
o quebra-cabeças
Falta essa peça aqui,
que não encaixa em lugar nenhum...
Pensei que entrasse aqui,
nessa lacuna,
cuja alcunha
é peito meu...
Há um vazio aqui
Falta uma peça...
Mas não é essa!
Essa faz falta em outro lugar
Vou procurar
a peça que falta...
Não!
Tive uma idéia!
Pego uma tesoura
e corto um pouco aqui,
mais um pouco ali,
e acolá...
Agora entrou!
É...
Mas não ficou legal...
Droga!
Estraguei a peça à toa!
Não ficou legal!
E agora?
Ah, quer saber?
Vou procurar
a peça que falta!
quarta-feira, outubro 11, 2006
terça-feira, outubro 10, 2006
segunda-feira, outubro 09, 2006
Estranhas Entranhas
Há dias em que minhas palavras
Simplesmente desafiam-me.
Em outros apenas
Acompanham-me.
Em outros dias apenas
Azucrinam e balbuciam
Significados dispersos
Em caminhos diversos.
Alimento-me de metáforas
Soltas no eco do verso
Fincadas em absolutas
Mentiras poéticas.
E ao nada chego,
Em tudo disperso
E em círculos
Permaneço.
Desafiadas e desafinadas
São as palavras que
Brotam
Ultimamente...
Entranhadas em mim
Estranhamente.
domingo, outubro 08, 2006
DESENHO 3x4
e os meus poemas tropeçando excessos,
nas falhas ardidas desses dias trôpegos.
Minhas penas não me faltam, falam.
Assim como dispenso outras feridas, vejam,
queria apenas uma boa poesia.
Mas há algo de outra cor na chama que me falsa,
que não inflama a pira de uma valsa sequer,
nem inspira o sangue que de frio reclama.
É que não quer fama a dor que hoje me salta,
e me vitima calma em seu feitio sedutor.
Me resta, enfim, a flor de um vão rimar bravio.
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música que recomendo: CD "Ode Descontínua e Remota Para Flauta e Oboé", poemas de Hilda Hist musicados por Zeca Baleiro na voz de 10 belíssimas cantoras.
sábado, outubro 07, 2006
PAUSA
pra brincar
de esconde-esconde
ao longe
o sol lhes serve
de claro chapéu
réu
de minhas poucas horas raras
e caras
paro em meu horizonte o agora
e despeço-me num carrossel...
quinta-feira, outubro 05, 2006
ela me leva.
Me deixo levar
sem prestar atenção no caminho...
Pensei comigo:
Não vou saber voltar depois,
se eu quiser...
quarta-feira, outubro 04, 2006
As Estações de Mim
na pressa dos
passos, na leveza
das peças do corpo.
eu derretendo em preces.
Os dias amenos
no rosto das
gentes, no contexto
das cores da rua.
eu refrescando o peito.
Os dias gélidos
na calma dos
espíritos, na sentença
das histórias do tempo.
eu tremendo de febre.
Os dias festivos
no parque das
almas, no coração
das flores em verso.
eu revivendo a certeza.
Os dias deslizando
no meu relógio...
terça-feira, outubro 03, 2006
vie crucis
Je suis
Je su s,
Je suis
Jad is,
Je suis
Jard in,
Leandro, papel e caneta:
poesia se colhe assim.poema-brincante para o poeta-cantante.
segunda-feira, outubro 02, 2006
Confundir
Fugir do inevitável
Assinando a falência
Múltipla de todos
Os sentidos.
Fugir porque ainda
É tempo
Ainda há um lamento
E a dor é finda.
Fugir prum não solene
E um futuro certo e
Repleto de todas
As incertezas possíveis.
Palavras dispersam
Rimas inversas
Sentimento pulsante
Um confundir constante.
domingo, outubro 01, 2006
SEXO VERSORRÁGICO
Digo mensagens por entre pernas
Divago mentiras, distorço imagens
Vazo em ritmos, rimas e vasos de flores
Esvazio-me
Um vazio que gira, zigzagueia em mim
Que entra e sai num nexo frenético
E os pensamentos, tantos, tântricos
Complexamente estéticos
Como mantra o mandamento
Fico-te
Fico tecendo meio no meio
Saldando dívidas e saudando a vida
A devolver saliva
Brindo-te
A testar um verso suado
Soprado num canto mais que de perto
O poema de corpo elétrico
Num sincero tilintar
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música que recomendo: "Coração Vulgar" do bamba Paulinho da Viola
sábado, setembro 30, 2006
mas ele não liga!
Quem ele pensa que é?
Tem o rei na barriga?
Deve estar se metendo
com alguma rapariga!
Ah, mas quando ele ligar...
Vai ver o que eu vou fazer!
Vou bater, vou xingar,
vou botar pra quebrar!
E se ele quiser me ver...
ah, vai ter que implorar!
Trrrrrriiiiimmmmmmm.....
-Ai, meu bem, que saudade...
quinta-feira, setembro 28, 2006
Mas não sei
dizer bem o porquê
nem do quê
eu sinto falta
Acho que sinto mais falta
das lembranças
Porque tudo que era bom
virou lembrança,
Virou passado
E o presente
me é tão mais distante...
Acho que sinto falta
só porque não é mais como era
Mas, também,
porque sinto que não será
como quero que seja...
Sinto saudade do que não vi
E mais ainda
do que sinto que não verei mais...
Eu sinto falta de você
quarta-feira, setembro 27, 2006
olhos é antiga
vejo dores das
lições afora
vejo velas nas
entradas agora
vejo todos nos
lugares a mais
vejo as pedras
jogadas no rio
vejo um navio
que parte para
o mundo onde a
vida não cansa
onde a luz não
me cega, pois
a cor dos meus
olhos, aquela,
não vejo jamais.
terça-feira, setembro 26, 2006
segunda-feira, setembro 25, 2006
Meu infinito
Eu conseguisse contar...
De certo chegaríamos
Em equações
Com variáveis complexas.
Mesmo assim,
Sempre tendo a você.
Mesmo derivando
Todo sentimento...
Nosso conjunto
Sempre existe.
Mesmo não sendo real.
domingo, setembro 24, 2006
UM BELO DIA
Para os meus nublados sentimentos
O sereno tímido
Anunciava as lágrimas que não viriam
Era feiúra apropriada do tal dia
o que tornava tudo tão belo
^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^
música que recomendo: "La Vie Est Dure" da Anaïs
sábado, setembro 23, 2006
O ESTRANGEIRO
O estrangeiro chegou
e não trouxe nada.
Apenas poeira, lágrimas e sol.
Sentou-se na praça.
Olhou pra igreja.
Roubou-nos o arrebol.
Os pássaros, num susto,
fugiram desconfiados.
Estrangeiro espantalho.
O dia escurou.
As plantas secaram.
Morreu todo o gado.
As mulheres, entregues,
rasgaram as roupas
e gozaram sem querer.
Os homens, de repente,
nada mais eram...
nada a fazer!
O estrangeiro se virou,
sorriu meio de lado
e se foi, exausto.
Deixou o desespero,
a destruição
e seu úmido rastro.
quinta-feira, setembro 21, 2006
no meio de tanta gente
Tão transparente
Que à luz nem se vê
nem se nota
Tá tão escuro
que ninguém nem se importa
É só um vulto
Mais um ser transparente
entre vários outros seres
opacos
num mundo obscuro
quarta-feira, setembro 20, 2006
terça-feira, setembro 19, 2006
dos amores
traduzidos em poemas.
São iguais em toda parte
em melodias e dilemas.
Surrealismo à toda prova,
que foi eternizado em si,
na forma como na obra,
assim como Gala e Dali.
Há amores sem fronteiras,
que dão errado, dão certo,
ou são pela vida inteira,
assim como Paula e Bebeto.
Infinito enquanto dura,
renascendo no afã.
Sobrevive em escultura
como Camille e Rodin.
Paraíso ou inferno?
De real a inconstante,
doce, meigo, eterno,
como o de Beatriz e Dante.
Teu não é sim pra mim,
nessa contradição harmônica.
Começo meio sem fim,
eis então, Eduardo e Mônica.
É a velha chama brilhante,
às vezes mera utopia.
Um sonho mais que distante,
quem me dera Léo e Bia.
E do teu, o que me dizes;
se faz de noites chuvosas,
ou de belas manhãs felizes?
segunda-feira, setembro 18, 2006
Ciclos
Ensolarada em nós
Perdi os ditos
Reli os não ditos
E em lugar algum cheguei.
Então voltei,
Retomei as meadas,
Marquei novos passos
E em novos ciclos
Vaguei.
domingo, setembro 17, 2006
MEU RITMO
Ora sou poça
Ora sou forte
Noutras temo a morte
Quando sou força
Some meu fosso
Quando dói corte
Choro minha sorte
Um dia sou casa
Um dia sou caso
Noutros vôo raso
Quando sou asa
Às vezes sou sapo
Às vezes sou gente
Noutras, de repente
Sou fim de papo
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música que recomendo: "Vai Saber", é da Calcanhotto mas tá no CD de Samba da Marisa Monte
sábado, setembro 16, 2006
RESPOSTA A UM AMIGO DE LETRAS
outrora viva, hoje em brumas
daquelas que se busca, na esperança
vã, pois se perdem nas dunas
do pensamento que não se alcança...
Um poema, Múcio, é bússola
sem agulha e sem orientação
é barco à deriva, uma escuna
onde faltam leme e timão
e as ondas o levam, uma a uma...
Um poema – eu sei – é silêncio
é matéria fluida e amorfa
um poema, amigo, é cimento
à espera de fôrmas e formas
um poema é um único momento
Um poema é uma mordida na pele
é a dor que se avizinha, nítida
é um golpe na nuca, um direto
cicatriz invisível, onírica
um corte sem sangue, infecto
Um poema é ausência de gozo
e um coito interrompido
é um jato sem força, viscoso
um gemido interrompido
ainda no nascedouro
Um poema, é sim, um poema
e um poema somente
uma junção de fonemas
mais ou menos consistente
à espera de um dilema...
e de um leitor paciente!
quinta-feira, setembro 14, 2006
O vôo do navegador
de possibilidades
Mas Realidade é âncora
O Medo habita o cais do porto
Os bravos enfrentam a fúria do oceano
Os bravos e os pescasdores, claro
Pescador nem sempre é bravo
mas aprende a sê-lo
na marra
Na praia, muitos morrem
e muitos vivem, e bem,
aproveitando o sol
e vendo o mar se desfazer em ondas
Eu vivo a navegar
nesse mar
Pois navegar é preciso
Viver já não o é
Mas como vivo a navegar, tá ótimo!
Navegando no concreto
Afundando no abstrato
Tenho um mar de possibilidades
e busco ir além do horizonte
Tantas opções
e busco uma que não há
neste mar
Já não ligo mais
pro cais
nem pras âncoras
Eu posso voar
quarta-feira, setembro 13, 2006
Círculo Vicioso
Inspira.
Pensa na recusa.
Decide pela paciência.
Expira.
Sopro de vida.
Inspira.
Estranha a batida.
Apela pra resistência.
Expira.
Sentimentos trocam de lugar.
Inspira.
Obstina-se em cismar.
Criada a reticência.
Expira.
A tentativa enceta sua ruína.
Inspira.
A espera se torna ferina.
E tudo retrocede à ausência.
Expira.
Círculo.
Inspira.
Expira.
Eternamente vicioso...
terça-feira, setembro 12, 2006
amei
meias palavras
meio sem jeito
se entremeiam...
À meia voz,
meias bocas,
meio sem tom
se incendeiam...
À meia noite,
meias verdades,
meio sem nexo,
se entregam...
Amei à luz
daquelas noites,
sem meias verdades,
sem nexo ou tom.
Amei a voz
daquela boca,
que meio louca,
eu tinha a sós.
Amei-a...
À meia luz,
À meia noite,
À meia voz.
segunda-feira, setembro 11, 2006
Cárcere
Incessível e adormecido
Chama apagada
Pavio queimado
Passo dado
Página virada
Sangue estancado
Amor esmagado.
Sopra doce brisaVolta
Doce nave esperança
Vôo leve
Sem destino
Em busca de ti
Em busca de mim.
Onde estou
Escuto ruídos
Insanos
Indescritíveis e mundanos.
Ruídos fortes
Gigantes
Eternos e constantes.
Vozes, gritos e sussurros
Loucas e gentis
Compartilham de cálices
Vis...
domingo, setembro 10, 2006
O ÚLTIMO QUE ME ACORDOU O LÁPIS
era um jovem de certo rebelde.
Mas de uma rebeldia que atingia só
o raio de quem o enxergava.
O olhar carregado em meio a mansa tarde,
e um desejo de que a roupa-atitude revele.
Mas revelava apenas a cabeça em nó.
Ao invés de toda a segurança ostentada.
No vermelho sangue das mechas no cabelo,
a tinta de quem pinta suas flechas
e o espelho da ginga a um tanque imposta
pelas feridas de bosta que lhe acertavam a vida.
O último que me acordou o lápis
fui eu da janela-reflexo,
foi ele da rua dos nexos,
foi um segundo de plexos em choque nos ares.
^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^
música que recomendo: "House of the Rising Sun" na voz de Nina Simone
sábado, setembro 09, 2006
ARREPENDIMENTO
com rapidez suficiente...
Por favor!
Ainda há ar em meus pulmões!
Ainda há esperança de vida...
ainda me faltam razões!
Bem que me avisaram...
um tiro seria melhor
às minhas pretensões!
quinta-feira, setembro 07, 2006
Coisa louca
essa gente
que vive
loucamente
Mentes doidas
criativas
Mentirosas
Mente rosas
sem espinhos
Perfume
entorpecente
Penetram
em nossa mente
(Lança? Lança e perfume?)
Penetram
em nosso íntimo
Nos penetram
Nos corrompem
Nos consomem
Nos devassam
Nos levam ao delírio
Me enche de fascínio
Toda essa loucura
Gostosura
de viver a vida
assim
essa
coisa louca
quarta-feira, setembro 06, 2006
terça-feira, setembro 05, 2006
naufragar é preciso
certezas em ti navego
dúvidas me querem cais
sentida pelo sentir
minha alma apavorada
segue o dilema
esse espírito de corpo
a querer ser grande
valer a pena
e nunca ais
segunda-feira, setembro 04, 2006
Sonho
Acordei
com o soluço
descompassado.
Percebi
que não dormia
apenas sonhava.
Dormi
Sonhei
com o soluço
e chorei acordada.
domingo, setembro 03, 2006
Queria te dizer uma coisa
Mas só tenho palavras
Só tenho palavras
Queria te falar pelos olhos
Mas as pupilas continuam dilatadas
Queria te contar dos latejos
Mas só te vejo
Só te vejo e mais nada
^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^
música que recomento: "Greens Eyes" da Erykah Badu
sábado, setembro 02, 2006
REVOLTA
invadiu em desvario a estrada
bloquearam as vias, os viadutos
crianças, mulheres, homens adultos
fogo em barreira de pneus
sonhos que nem eram os seus
apenas a luta pela sobrevivência
apenas a fome e a demência
numa explosão de fúria incontida
a morte se mesclou à vida
o sangue se misturou ao asfalto
e Deus, caladinho,
olha tudo do alto...
quinta-feira, agosto 31, 2006
Amanhã
queria que esse tempo
mudasse
mas isso não depende de mim
Vai depender das coisas
amanhã
Amanhã
quero que o hoje passe
E vai passar
Mas minha mente não vai
esquecer
do hoje
tão cedo
já
amanhã
Amanhã
será um novo dia
Mas só será novo
se eu decidir
inovar
amanhã
Amanhã, que será?
Mais um dia apenas...
Um dia como outro qualquer
Um dia que eu não quero
amanhã
Amanhã
Eu não sei o que eu quero
da vida
amanhã
Eu não sei o que esperar
Então, só espero
chegar
amanhã
Amanhã
nã sei como será
Hoje
só quero descansar
Que é pra acordar
e tentar viver melhor
amanhã
quarta-feira, agosto 30, 2006
terça-feira, agosto 29, 2006
breve analogia entre um poema e outras coisas
que parte bem de dentro,
de uma parte escondida
numa entranha contida
no profundo pensamento.
Um poema é como uma ponte,
que a idéia atravessa
do abstrato para o real,
para o bem e pára o mal
em cada linha que versa.
Um poema é como um grito,
um sussurro malogrado,
que num idioma qualquer
fala tudo o que quiser,
mesmo estando calado.
Um poema é como um beijo,
duas bocas que se unem,
língua noutra língua toca,
é a palavra que se troca
um e outro se confundem.
Um poema é como um orgasmo:
a mais química das reações.
Vai-se lendo linha por linha,
até o ponto em que se avizinha
uma explosão de emoções.
Um poema é como um poema.
Em si, por si, para si...
Nasce e morre ao mesmo tempo,
para então voltar a existir
num eterno contentamento.
segunda-feira, agosto 28, 2006
Lamento
Descansada e pura
Dorme um sono eterno.
Desilusão bandida
Sorrateiramente roubou
O último suspiro poético.
Enquanto dorme
Não sonha
Apenas divaga.
Lembranças eternas
De uma vida
Muda.
Ressuscitando
Dia após dia
Em rimas rubras
De um eterno amor.
domingo, agosto 27, 2006
RUA AUGUSTA
de tantos pormenores.
Maiores do que se adivinha,
menores do que se colore.
Vejo prantos de quem se alinha
e algumas linhas de amores pobres.
Mas prefiro os versos de quem caminha
descendo ruas outrora nobres,
reescrevendo novelas minhas.
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música que recomendo: "Me, Myself and I" na voz de Billie Holiday
sábado, agosto 26, 2006
SUPERMERCADO
2 kg de feijão.
2 lt. de óleo.
Ih, faltou paixão!
1 pé de alface.
1 pacote de salsa.
Couve-flor, cheiro verde.
Prazer? Tá em falta!
Aspargo, champignon,
caviar e escargot.
Foies gras, chapagne,
felicidade acabou!
Leite, café, pão,
margarina e chá.
Mas pra alegria, seu caixa,
o dinheiro não dá!
Comprei tudo, tudinho,
só me faltou amor.
Mas agora é tarde...
o mercado fechou!
quinta-feira, agosto 24, 2006
Matador de dragões
Cada um tem sua forma de ganhar a vida...
(Alguns, não precisam ganhá-la,
já a tiveram de presente...
Mas esse não é o meu caso!)
Como eu dizia,
cada um tem sua forma de ganhar a vida...
Eu ganho a vida matando dragões.
Mato, em média, um por dia.
Às vezes, levo mais de um dia.
(Aquele que luta e foge
vive pra lutar um outro dia!)
Não, donzela, eu não sou
o cavaleiro-da-armadura-brilhante!
Minha armadura não brilha,
é um tanto fosca...
Eu mesmo a forjei!
Ah, você quer o maldito
cavaleiro-bunda-mole-da-armadura-brilhante?
Pois espere-o até morrer!
Porque ele não virá!
Ele não existe!
Eu, sim, existo!
E vou matar este dragão!
Sou um simples aldeão
tentando garantir meu pão...
Se tenho bom coração?
Acho que não...
Só vim pra matar este dragão!
Lamento, donzela,
mas com você não me importo, não!
quarta-feira, agosto 23, 2006
Avesso
Emaranhando meus pensamentos de amor
Obedecendo os sentidos, senhor.
Me faz ouvir a sua prece crua
Estremecendo minha carne nua
Oferecendo os desejos, tua.
Me abraça com jeito de céu
Escusando meu lento véu
Ofegando os sorrisos, lua-de-mel.
terça-feira, agosto 22, 2006
segunda-feira, agosto 21, 2006
Justificativa
E o nada valeria
Minhas rimas brancas
E sem estima.
O não valer a pena
De cada dia
Remete-se
À todas as minhas
Frustrações.
Ciente estou
E ao indefinido vou
Em busca
De frases completas.
Rabiscando em borrões
Eu vou...
Em verso
E Prosa
Metaforizando a realidade.
domingo, agosto 20, 2006
JOANINHAS DE COPACABANA
vocês são tantas
tão lindas
e tão atrapalhadas
as vejo subir e descer seus morrinhos
meio indecisas, meio objetivas
parecem-nos tão fáceis seus intentos
e no entanto viram-se de cabeça-pra-baixo
a todo momento, sem mais nem menos
onde querem chegar, pequeninas?
e haverá vento por lá?
vejo que possuem ágeis asas
mas parece que se esquecem de usar
seria sua sina quedar-se a girar?
Joaninhas de Copacabana,
não lhes digo mentira,
se eu fosse menina,
me chamaria Joana.
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música que recomendo: "Os 'pingo' da chuva" dos Novos Baianos
sábado, agosto 19, 2006
Semáforo
Ainda me lembro
daquele sono sem sonhos,
daquelas noites sem sono,
do meu viver andarilho,
da vida fora dos trilhos.
Ainda me lembro
das madrugadas sem fim,
do meu eu-mesmo sem mim,
do meu sorriso em preto-e-branco,
do meu feroz desencanto.
Ah, ainda me lembro
como se fosse ontem.
Não preciso que me lembrem,
muito menos que me apontem,
cada um dos meus erros...
Eles me assombram
o tempo inteiro.
Por isso vou devagar
e paro em cada esquina,
olho pra todos os lados
e corro ao som de buzina.
Uma pista de cada vez,
paciência
e determinação.
Só não quero ir sozinho...
Vem, me dá sua mão!
quinta-feira, agosto 17, 2006
Ah, hoje tive um dia cheio...
Há um copo cheio de
Vida
bem à minha frente...
...mas eu mesmo não estou com muita sede...
Tomo metade do copo só pra engolir meu calmante e vou dormir.
quarta-feira, agosto 16, 2006
Espirituosidade Do Universo
É a espirituosidade do universo.
É o próprio fundamento.
É todo o acabamento.
E nem se entrega ao sepultamento.
A vida é tanto, que se repete...
É a força que regula.
É o ânimo da ressaca.
É o tempo que nos mede.
Até finge que acaba.
A vida é tanto, que se repete...
É o fogo que não apaga.
É a fonte no meio da praça.
É o nascimento e a desgraça.
Ela começa, permeia e atravessa.
Enfim, a vida é tanto, que sempre se repete...
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Pessoas, desculpem-me por postar antecipadamente...
Amanhã, quarta, viajarei o dia todo e não terei como acessar
a net... Espero que vocês leiam o post anterior ao meu como
se eu não "estivesse aqui", tá bem? :)
Obrigada a todos pela compreensão...
E monte de beijinhos no coração de vocês!!!
terça-feira, agosto 15, 2006
in verso veritas
Todo bêbado traz por dentro
o mesmo ofício de um poeta,
tem sua alma toda, repleta
de uma espécie de tormento.
Cada gota de álcool que entra,
é uma letra da frase que sai.
Nas mãos um tremor ostenta,
palavras o seguem aonde vai.
Todo poeta é um vouyer à espreita,
com sua alma por fora a flutuar.
Sempre em busca da forma perfeita,
noutras almas que vive a espreitar.
Essas almas, que os olhos exploram,
são ricos elementos à sua criação.
E mesmo quando formas extrapolam,
há nelas um rasgo de emoção.
Bêbado, entre letras e garrafas vazias,
tento encontrar o meu caminho.
E quem sabe, não tiro por esses dias,
uns bons versos duma garrafa de vinho.
segunda-feira, agosto 14, 2006
Existência
Do me vasto Eu
Uma flor,
Um canto
E um pranto.
Escrevo
Para escutar
Os ecos
Do meu eterno
Breu.
E nego
Todos os dias
A existência
Desta flor.
Porque em mim
Não há perfume
Só há ardor.
domingo, agosto 13, 2006
CONVERSE
Vamos conversar.
Quero falar-te em poesia
e por-me em dia com tua arte.
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musica que recomendo: "Honor and Harmony"da banda G. Love & The Special Sauce
sábado, agosto 12, 2006
ALTO
O espaço erradio
entre meus olhos e o chão.
O vento frio, frio,
o movimento fugidio
das folhas ao meu redor...
e a vontade imperiosa
de retornar ao pó...
Metade dos pés
pra fora da fachada.
Metade do corpo
e quase toda a alma
à espera da decolagem.
Olho, olho, penso,
e me dou mais um dia.
Recuo, meio sem graça...
Olho a lua que nasce
e o sol que se retira.
Ainda não...
hoje não tive coragem...
Mas um dia esse asfalto
vai tatuar em sua pele
a minha imagem...
quinta-feira, agosto 10, 2006
Argila*
que, do barro,
fizestes os homens
à Vossa imagem e semelhança...
Ó, Senhor
de tantas imagens
e zilhões de semelhanças,
explicação fácil
do destino
de tantos homens
diferentes...
Ó, Senhor...
Faz-me argila!
Quero me moldar novamente
Quero mudar
Quero ser moldado
de outra forma
Não, não quero ser um vaso novo...
Quero ser gente!
Não quero parar nas mãos de um oleiro,
mas nas mãos de um artista!
Ou de algum ser arteiro, que seja
Eu
ou qualquer outro que queira
Mas, nesse mundo
de homens que se confundem
com a Vossa imagem e semelhança, Senhor...
Neste mundo tão podre
e sujo,
ninguém quer sujar as mãos
pra moldar os outros,
pra mudar o mundo...
Em vez disso,
esperam a argila secar...
Só para ficar fácil
de destruí-los...
Bonecos de argila seca
lutam entre si
Guerreiros de terracota
cujo destino é
ficarem soterrados...
No calor dessas batalhas
toda argila do mundo
tem secado mais depressa...
quarta-feira, agosto 09, 2006
Nada É Por Acaso
A pedrinha do sapato
A calcinha que aperta
A unha que arranha
A cabeça que lateja.
O menino da janela
O cachorro que atravessa
O trovão da tempestade
O aviso da entrada.
A amiga que suspira
A calçada que separa
A corda que arrebenta
A fita que desamarra.
O olhar de negação
O tocar de uma canção
O ardor de uma versão
O amor do coração.
A bandeja que cai
A raiva que esvai
A vagina que contrai
A beleza que atrai.
O cabelo que balança
O caminho que percorre
O fim que se alcança
O desejo que escorre.
A amante do vizinho
A cadeira que amolece
A tinta no finzinho
A vida que anoitece.
O leite com aveia
O passarinho que assobia
O homem que passeia
O remédio que alivia.
A antiga bicicleta
A viagem perfeita
A bebida predileta
A seta que acerta.
O calor da fogueira
O fruto da macieira
O pingar da torneira
O coser da costureira.
A batida que enlouquece
A comida que enfraquece
A menina que esquece
Admiração que envaidece.
O peso do cansaço
O valor do abraço
O frio do aço.
É. Nada é por acaso.